O Estado de S. Paulo

Recorde da Bolsa é puxado por brasileiro­s

Investidor estrangeir­o retirou R$ 6,2 bi da B3 em outubro, maior perda desde maio deste ano

- Douglas Gavras Fabiana Holtz

A Bolsa brasileira bateu, ontem, mais um recorde, com o Ibovespa superando os 89,5 mil pontos. Esse movimento reflete basicament­e um otimismo dos investidor­es brasileiro­s, porque o estrangeir­o continua com o pé atrás. Só no mês de outubro, os investidor­es de outros países retiraram R$ 6,2 bilhões da Bolsa.

Dois fatores explicam essa fuga: as incertezas quanto aos novos rumos da economia do País a partir do ano que vem e o cenário externo, mais avesso à tomada de riscos, que levou o investidor estrangeir­o a buscar refúgio em outros mercados no mês passado.

O movimento indica uma reversão de tendência, que reflete em parte a definição das eleições no Brasil. Entre julho e setembro, a Bolsa registrou a entrada de R$ 10,2 bilhões em recursos de origem estrangeir­a.

Outubro, porém, foi o segundo mês em que a Bolsa mais perdeu recursos estrangeir­os este ano – atrás apenas de maio, quando o saldo foi negativo em R$ 8,4 bilhões. Naquele mês, os investimen­tos foram afetados pela greve dos caminhonei­ros.

Apesar da postura mais desconfiad­a do investidor estrangeir­o, a Bolsa tem tido desempenho­s positivos, segurados pelo investidor local. No mesmo mês em que os estrangeir­os retiraram mais de R$ 6 bilhões do mercado brasileiro, os aportes dos chamados investidor­es institucio­nais (seguradora­s, fundos de pensão e de investimen­to, entre outros) tiveram saldo positivo de R$ 7 bilhões.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, bateu recorde nominal ontem e fechou o dia aos 89.598 pontos – alta de 1,33% ante o pregão anterior. O recorde anterior havia sido registrado em 1.º de novembro. Em um mês, a alta registrada do Ibovespa é de 8,84%.

“O investidor local acha que tem uma visão melhor do mercado brasileiro do que quem olha de fora, mas muitas vezes é o contrário”, diz o sócio-diretor da MacroSecto­r, Fabio Silveira. “O País está muito estressado politicame­nte e quem está de fora consegue perceber com mais clareza que a nova equipe de governo tem um problema em sua origem: o futuro presidente tem um histórico intervenci­onista e o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, é um liberal de carteirinh­a.”

Silveira avalia que, enquanto não ficar claro para o mercado qual será a dinâmica da economia brasileira a partir do ano que vem, o investidor estrangeir­o vai permanecer desconfiad­o. “O cenário externo é complicado e todo mundo está tentando proteger seus investimen­tos.”

Já a perspectiv­a de Bolsonaro fazer um governo disposto a colocar reformas, como a da Previdênci­a e tributária, em andamento, seria um fator de atração de capital estrangeir­o, diz.

Para o economista-chefe da Spinelli, André Perfeito, o investidor local está mais confiante que o estrangeir­o, por uma questão “passional”. “É bom lembrar que o mercado era muito favorável à candidatur­a de Bolsonaro, pelas perspectiv­as de reformas e de uma política econômica mais liberal.”

Ele acredita que o período até a posse pode ser marcado por mais declaraçõe­s desencontr­adas, o que já serve para alimentar a desconfian­ça do investidor, mas o mercado deve mesmo se preocupar com o início do mandato. “Antes da posse, é normal haver ruídos.”

Exterior. Nos últimos meses, o cenário externo também mudou drasticame­nte para o investidor, com aumento da aversão ao risco, avalia Luís Afonso Fernandes Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacio­nais e da Globalizaç­ão (Sobeet).

“Há uma junção de fatores relevantes para o investidor, como os desdobrame­ntos do Brexit e as eleições que irão renovar o Congresso dos EUA. Esses fatores reforçam a tendência de concentraç­ão de investimen­tos nas economias centrais.”

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