Conversa com Guedes foi antes do 2º turno, diz juiz
Na ocasião, Moro afirmou que trataria do convite após a eleição; PT aciona CNJ para apurar escolha do magistrado para pasta
O juiz Sérgio Moro disse ontem que foi sondado por Paulo Guedes, futuro ministro da Economia, no dia 23 de outubro – durante a campanha eleitoral – sobre a possibilidade de ocupar um cargo no governo Bolsonaro. Moro afirmou, porém, que não acertou nada. “Argumentei que poderia tratar de eventual convite após as eleições.”
Segundo ele, o convite não tem “nada a ver” com o processo que envolve o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde 7 de abril em Curitiba. De acordo com Moro, o processo foi julgado por ele em 2017, quando “não havia qualquer expectativa de que o então deputado Bolsonaro fosse eleito presidente”. “O ex-presidente foi condenado e preso porque cometeu um crime, e não por causa das eleições”, afirmou o juiz.
O futuro ministro da Justiça ainda negou que tenha havido um “vazamento proposital” de trecho da colaboração premiada de Antonio Palocci durante a eleição presidencial. “Quando se divulga notícia falsa em eleição, é fake news. Quando é verdade, isso é direito à informação.”
O juiz justificou a divulgação, feita no dia 1.º de outubro, alegando que havia um processo no qual ele precisava proferir uma sentença após Palocci ter fechado delação com a Polícia Federal. “Não tinha sequer o direito de, por conta das eleições, deixar de tornar públicos aqueles fatos quando havia necessidade do processo.”
Parlamentares do PT acionaram ontem o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para que seja apurada a escolha do juiz para assumir o Ministério da Justiça. O partido também pediu ao corregedor nacional de Justiça, ministro Humberto Martins, que Moro seja impedido de assumir outro cargo público até o CNJ concluir a investigação de sua conduta no episódio.
A bancada petista vai pedir via Lei de Aceso à Informação a agenda completa de Moro desde o início da disputa eleitoral. O PT quer saber se ele teve outros encontros com integrantes da equipe de Bolsonaro antes da reunião com Guedes.
“O fato é que eles se encontraram antes das eleições. Queremos a publicidade da agenda do juiz desde o inicio da eleição. Todos os atos praticados nesse período tiveram repercussão eleitoral”, disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).