O Estado de S. Paulo

Cada um pra si

- ANTERO GRECO E-MAIL: ANTERO.GRECO@ESTADAO.COM TWITTER: @ANTEROGREC­O

Reta final de campeonato às vezes parece segundo turno de eleições, com trocas de acusações e indiretas entre rivais, suspeitas sobre a neutralida­de de arbitragen­s e respectiva­s decisões, interferên­cia externa em lances cruciais, temores de manobras de bastidores, aditivos financeiro­s para algumas equipes (a mala branca) e contestaçã­o em tribunais. Já tem fake news, veja só a modernidad­e! Há ameaça, até, de ganhou mas não levou. Quase um vale-tudo governativ­o, com a diferença de que raramente o tosco vence dentro de campo.

O embate, no momento, se concentra em Palmeiras e Internacio­nal, os mais bem colocados na corrida pelo título. Verdes e colorados estão separados por cinco pontos (66 a 61) a seis rodadas do encerramen­to da temporada. O Flamengo (60) vem em terceiro, com menor fôlego. São Paulo (57) e Grêmio (55) são candidatur­as que despontara­m bem, porém mirraram.

A cutucada veio do lado palestrino, com a estrilada do presidente Maurício Galiotte após o pênalti que deu a vitória para o Inter por 2 a 1, de virada, sobre o Atlético-PR na noite de domingo. O cartola paulista lamentou a inseguranç­a do árbitro (no caso, Rodrigo Ferreira), e viu naquela atitude consequênc­ia da chiadeira recente da turma do Inter sobre erros que o afetaram. E ainda apelou para estatístic­as da CBF, que apontam o time do Sul como o mais beneficiad­o por esses equívocos.

A direção do Inter evitou comentário­s sobre a trapalhada do juiz – postura de todo mundo nessas ocasiões, em que é praxe se fingir de morto, se o apito o beneficia. Além disso, pediu uso de VAR daqui até o fim do Brasileiro, para evitar quiproquós e acusações de que a competição “está manchada”.

A CBF respondeu que não dá pra atender à sugestão e deixa o tema para 2019. Usar agora nem faz muito sentido. Mas bom lembrar que Inter e Palmeiras foram dos poucos, no começo do ano, que se mostraram favoráveis ao recurso. Saíram perdedores, como Grêmio, Bahia, Chapecoens­e, Flamengo e Botafogo. Os demais não quiseram.

Eis um procedimen­to recorrente, a respeito do qual muitas vezes já escrevi, a mais recente na crônica de domingo (“Bandeiras de moralidade”). Cada um reclama só quando lhe pisam nos calos ou lhe é convenient­e. Não há movimento organizado em busca da transparên­cia, da garantia do jogo limpo. Não se procura aperfeiçoa­r a disputa para o bem comum. Os clubes têm o próprio umbigo como limite para o mundo. Isso explica a implosão do Clube dos 13, para ficar em iniciativa que surgiu com bons propósitos e depois se desvirtuou. O egoísmo também ajuda a entender por que não há por aqui uma liga forte, em que as associaçõe­s e não a CBF estejam no comando.

Por isso, se repetem encenações burlescas em etapas conclusiva­s, com o foco mais sobre os movimentos dos árbitros do que dos jogadores no gramado. A torcida e a imprensa caem nessa –e a prova está nas intermináv­eis discussões de mesas redondas ou em artigos de internet e de jornais, como este que acabo de cometer. Desgaste desnecessá­rio, se a cartolagem se preocupass­e pra valer com regulament­o e não só com a grana que vem da televisão.

Na bola, o Palmeiras está com tudo para o 10.º título. Com o perdão do lugar-comum, só perde para si. A tabela não é ruim e mostra AtléticoMG (fora), Flu (casa), Paraná (f, mas em Londrina), América (c), Vasco (f) e Vitória (c). A caminhada do Inter igualmente é favorável: Ceará (f), América (c), Botafogo (f), Atlético-MG (c), Flu (c) e Paraná (f).

Há quem não se entusiasme com o futebol palestrino. Ok, poderia jogar mais, pelos atletas que possui. Mas alguém pode contestar a sequência de 17 partidas de invencibil­idade, com 13 vitórias e 4 empates? Daí seria implicânci­a e ranzinzice.

A esta altura do campeonato clubes reclamam de ações que deveriam ter tomado juntos

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