Cada um pra si
Reta final de campeonato às vezes parece segundo turno de eleições, com trocas de acusações e indiretas entre rivais, suspeitas sobre a neutralidade de arbitragens e respectivas decisões, interferência externa em lances cruciais, temores de manobras de bastidores, aditivos financeiros para algumas equipes (a mala branca) e contestação em tribunais. Já tem fake news, veja só a modernidade! Há ameaça, até, de ganhou mas não levou. Quase um vale-tudo governativo, com a diferença de que raramente o tosco vence dentro de campo.
O embate, no momento, se concentra em Palmeiras e Internacional, os mais bem colocados na corrida pelo título. Verdes e colorados estão separados por cinco pontos (66 a 61) a seis rodadas do encerramento da temporada. O Flamengo (60) vem em terceiro, com menor fôlego. São Paulo (57) e Grêmio (55) são candidaturas que despontaram bem, porém mirraram.
A cutucada veio do lado palestrino, com a estrilada do presidente Maurício Galiotte após o pênalti que deu a vitória para o Inter por 2 a 1, de virada, sobre o Atlético-PR na noite de domingo. O cartola paulista lamentou a insegurança do árbitro (no caso, Rodrigo Ferreira), e viu naquela atitude consequência da chiadeira recente da turma do Inter sobre erros que o afetaram. E ainda apelou para estatísticas da CBF, que apontam o time do Sul como o mais beneficiado por esses equívocos.
A direção do Inter evitou comentários sobre a trapalhada do juiz – postura de todo mundo nessas ocasiões, em que é praxe se fingir de morto, se o apito o beneficia. Além disso, pediu uso de VAR daqui até o fim do Brasileiro, para evitar quiproquós e acusações de que a competição “está manchada”.
A CBF respondeu que não dá pra atender à sugestão e deixa o tema para 2019. Usar agora nem faz muito sentido. Mas bom lembrar que Inter e Palmeiras foram dos poucos, no começo do ano, que se mostraram favoráveis ao recurso. Saíram perdedores, como Grêmio, Bahia, Chapecoense, Flamengo e Botafogo. Os demais não quiseram.
Eis um procedimento recorrente, a respeito do qual muitas vezes já escrevi, a mais recente na crônica de domingo (“Bandeiras de moralidade”). Cada um reclama só quando lhe pisam nos calos ou lhe é conveniente. Não há movimento organizado em busca da transparência, da garantia do jogo limpo. Não se procura aperfeiçoar a disputa para o bem comum. Os clubes têm o próprio umbigo como limite para o mundo. Isso explica a implosão do Clube dos 13, para ficar em iniciativa que surgiu com bons propósitos e depois se desvirtuou. O egoísmo também ajuda a entender por que não há por aqui uma liga forte, em que as associações e não a CBF estejam no comando.
Por isso, se repetem encenações burlescas em etapas conclusivas, com o foco mais sobre os movimentos dos árbitros do que dos jogadores no gramado. A torcida e a imprensa caem nessa –e a prova está nas intermináveis discussões de mesas redondas ou em artigos de internet e de jornais, como este que acabo de cometer. Desgaste desnecessário, se a cartolagem se preocupasse pra valer com regulamento e não só com a grana que vem da televisão.
Na bola, o Palmeiras está com tudo para o 10.º título. Com o perdão do lugar-comum, só perde para si. A tabela não é ruim e mostra AtléticoMG (fora), Flu (casa), Paraná (f, mas em Londrina), América (c), Vasco (f) e Vitória (c). A caminhada do Inter igualmente é favorável: Ceará (f), América (c), Botafogo (f), Atlético-MG (c), Flu (c) e Paraná (f).
Há quem não se entusiasme com o futebol palestrino. Ok, poderia jogar mais, pelos atletas que possui. Mas alguém pode contestar a sequência de 17 partidas de invencibilidade, com 13 vitórias e 4 empates? Daí seria implicância e ranzinzice.
A esta altura do campeonato clubes reclamam de ações que deveriam ter tomado juntos