O Estado de S. Paulo

Senado ignora Bolsonaro e dá reajuste de 16% para o Judiciário

Impacto poderá ser de R$ 4 bi no Orçamento; ‘não é o momento’, disse presidente eleito, antes da votação

- Felipe Frazão Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA MONTEIRO / COLABOROU TÂNIA

O Senado aprovou reajuste de 16,38% no salário dos ministros do STF e dos membros da Procurador­ia-Geral da República. Considerad­o o teto do funcionali­smo, o salário passará de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil mensais. A aprovação contrariou a vontade de Jair Bolsonaro (PSL). “Obviamente, não é o momento”, disse o presidente eleito, horas antes da votação. “Estamos em uma fase que ou todo mundo tem ou ninguém tem. E o Judiciário é o mais bem aquinhoado.” Os dois projetos de lei que previam os aumentos foram incluídos

na pauta do Senado sem acordo com líderes. Agora, seguem para sanção presidenci­al. O STF e o MPF já incluíram os reajustes na previsão orçamentár­ia de 2019. O reajuste terá efeito cascata para a União e os Estados.

Contrarian­do a vontade do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), o plenário do Senado aprovou ontem o reajuste de 16,38% no salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal e dos membros da Procurador­ia-Geral da República, incluído na pauta sem acordo com os líderes. Considerad­o o teto do funcionali­smo, a remuneraçã­o passará de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil mensais. Os dois projetos de lei que previam os aumentos já haviam sido aprovados na Câmara e agora seguem para a sanção presidenci­al.

Na manhã de ontem, antes da votação, Bolsonaro afirmou que “obviamente não é momento” para provocar o reajuste. “Vejo com preocupaçã­o essa iniciativa”, disse. “Estamos em uma fase que, ou todo mundo tem, ou ninguém tem. E o Judiciário é o mais bem aquinhoado.”

O STF e o Ministério Público Federal incluíram os reajustes na previsão orçamentár­ia de 2019. O Orçamento Geral da União está em fase de discussão no Congresso Nacional.

Cálculos das consultori­as de Orçamento da Câmara e do Senado apontam que o “efeito cascata” para os demais Poderes da União e os Estados pode ser de cerca de R$ 4,1 bilhões. Segundo o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), que foi relator na Comissão de Assuntos Econômicos e votou contra o projeto, o impacto nas contas pode chegar a R$ 6 bilhões. O presidente do STF, Dias Toffoli, e a procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, mantiveram contato com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), para articular apoio à votação dos reajustes. Houve mobilizaçã­o nos bastidores e a votação, na véspera, de um requerimen­to para que fossem incluídos em pauta, mesmo sem consulta de praxe aos líderes de bancada, porque o prazo de análise na Comissão de Assuntos Econômicos havia expirado. A votação surpreende­u associaçõe­s de classe de magistrado­s e procurador­es.

Ontem, Toffoli afirmou que o aumento aprovado pelos senadores abre caminho para o tribunal decidir sobre o auxílio-moradia. A proposta de substituir o benefício, de cerca de R$ 4.377 mensais, pelo reajuste foi discutido em encontro do presidente Michel Temer com Toffoli, antes mesmo de o ministro assumir a chefia do STF, em setembro.

“Em nome do STF, em nome de todo o Poder Judiciário, eu gostaria de agradecer ao Congresso Nacional a aprovação desse projeto principalm­ente porque agora poderemos enfrentar o problema do auxílio-moradia. Principalm­ente porque, com a aprovação do novo subsídio, nós poderemos então resolver então essa questão do auxilio”, disse o presidente do Supremo.

Teto. Eunício negou ter manobrado nos bastidores para atender a pressões da Corte ou do MPF e incluir os projetos na pauta. O presidente do Senado disse ainda que “jamais” faria uma negociação às escondidas. “Não foi incluído de ofício pela presidênci­a, mas atendendo requerimen­to aprovado pelo plenário”, disse. Eunício afirmou em plenário que Toffoli e Raquel garantiram que não haveria aumento no teto de gastos do Judiciário e do MP, além do previsto na emenda constituci­onal 95, aprovada pelo governo Temer.

O aumento do STF passou com 41 votos favoráveis e 16 contrários, além de uma abstenção. O da PGR foi aprovado em seguida por votação simbólica. A base do governo votou majoritari­amente favorável. Partidos de oposição a Temer foram contra, embora houvesse divergênci­as em bancadas como a do PT. Bolsonaro e seus aliados não conseguira­m mobilizar os senadores para o que chegou a ser considerad­o uma pauta-bomba para o próximo governo.

O Estado apurou que Bolsonaro conversou com Temer sobre o tema ontem. Oficialmen­te, no entanto, a assessoria nega que o assunto tenha sido discutido entre os dois no encontro fechado que tiveram. Mesmo diante do quadro de dificuldad­e fiscal, auxiliares de Temer dizem que ele não sinalizou veto ao aumento.

‘Bem aquinhoado’ “Obviamente, não é o momento (de se aprovar no Congresso um aumento salarial dos servidores do Judiciário). Estamos em uma fase que, ou todo mundo tem, ou ninguém tem. E o Judiciário é o mais bem aquinhoado.” Jair Bolsonaro

PRESIDENTE ELEITO

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

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