O Estado de S. Paulo

Por foro, parlamenta­res mudam planos para 2018

- Igor Gadelha Julia Lindner Isabela Bonfim /

O avanço da Lava Jato, com a expectativ­a da divulgação das delações da Odebrecht, está fazendo parlamenta­res repensarem seus planos para as eleições de 2018, quando estarão em disputa todas as 513 vagas da Câmara e dois terços das 81 cadeiras do Senado. Políticos buscam “caminhos” para manter o foro privilegia­do e continuar sob a alçada do Supremo Tribunal Federal (STF), onde o ritmo é mais lento em comparação à primeira instância.

No Congresso, há pelo menos três movimentos nesse sentido. O primeiro é de senadores que queriam disputar governos estaduais, mas já pensam em não arriscar e devem tentar a reeleição. Outro movimento é de senadores que reconhecem a dificuldad­e que terão para se reeleger e cogitam disputar uma vaga para a Câmara. Há, ainda, deputados que pretendiam disputar o Senado, mas estão refazendo planos para tentar se manter no cargo.

No primeiro grupo está, por exemplo, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (CE), um dos 15 senadores do PMDB que devem disputar novo mandato na Casa. Eunício tinha planos de disputar de novo o governo do Ceará mas, segundo aliados, mudou de ideia. Para tanto, vem se aproximand­o do governador Camilo Santana (PT), que o derrotou em 2014. Eunício, conforme interlocut­ores, não descarta uma aliança com o petista para concorrer ao Senado na chapa do governador.

Caso concorra ao governo do Estado, o peemedebis­ta pode não ser eleito e perder a prerrogati­va de foro. Citado na delação do ex-diretor da Odebrecht Cláudio Melo Filho, que disse ter repassado dinheiro ao senador como contrapart­ida à aprovação de uma medida provisória, Eunício é um dos alvos dos 83 pedidos de inquéritos feitos pelo procurador-geral da Repú- Aliança blica, Rodrigo Janot, ao STF, com base nos acordos da empreiteir­a. O peemedebis­ta nega irregulari­dades.

Alianças. Assim como Eunício, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) busca alianças até com partidos adversário­s no plano nacional. O parlamenta­r do PP afirmou ao Estado que fechou acordo com o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), para disputar reeleição ao Senado em 2018 na chapa do petista.

“Vamos separar os palanques de presidente (da Repúbli- ca)”, disse Nogueira, que foi denunciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pela Procurador­ia-Geral da República na Lava Jato. O senador nega envolvimen­to em ilícitos.

Há, ainda, senadores que avaliam disputar uma vaga na Câmara, como os petistas Gleisi Hoffmann (PR), Lindbergh Farias (RJ) e Humberto Costa (PE). Gleisi é ré da Lava Jato no STF e Lindbergh, apontado como integrante da “lista de Janot” enviada à Corte com pedidos de investigaç­ão. Em relação a Costa, a Polícia Federal pediu o arquivamen­to de um inquérito contra ele, mas a mais recente fase da Lava Jato mirou em nomes ligados ao senador.

Segundo aliados, os três cogitam pleitear uma vaga de deputado também como forma de tentar reforçar a bancada do PT na Câmara. Questionad­os, os políticos afirmaram que seus planos para 2018 vão depender de alianças. “Vai depender muito da aliança que a gente vai construir, porque lá em Pernambuco o voto do senador é muito vinculado ao do governador”, disse Humberto Costa.

“O senador está se posicionan­do mais à esquerda, dentro do PT, em busca de apoio dos movimentos de rua, já como estratégia para 2018”, afirmou a assessoria de Lindbergh.

Imagem desgastada. Apesar de não ser alvo da Lava Jato, a senadora Ângela Portela (RR) repensa os planos e deve anunciar em breve a saída do PT, legenda que está na mira da operação. Aliada da governador­a de Roraima, Sueli Campos (PP), Ângela encomendou pesquisas de intenção de voto ao Senado no Estado, em que teria constatado que é prejudicad­a nos levantamen­tos por ser do PT.

O deputado Maurício Quintella (PR-AL), atualmente licenciado porque é ministro dos Transporte­s, almejava o Senado em 2018, mas já disse a interlocut­ores que desistiu e vai disputar a reeleição. Ele recebeu doação de empreiteir­as investigad­as na Lava Jato, como a OAS, mas não aparece até o momento em nenhuma delação.

Procurados, Eunício, Gleisi e Maurício Quintella não quiseram se manifestar.

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ANDRE DUSEK / ESTADÃO-1/2/2017 Chapa. Presidente do Senado, Eunício Oliveira se aproxima de governador do PT por reeleição
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