“Seria como voltar à taxa de isqueiro”
CONTESTAÇÃO Polícias e militares estão contra a proposta do Governo DÚVIDA Função Pública pede a Marcelo que avalie constitucionalidade
“Isto não é um problema da Polícia nem dos polícias. É um problema de sensibilização e saúde pública. Não é justo colocar esta responsabilidade nas costas dos polícias e vai colocar os agentes numa posição delicada.” A opinião é do presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, Paulo Rodrigues, e reflete a forma como milhares de polícias e militares da GNR encaram a medida proposta pelo Governo, que os irá colocar a fiscalizar se os cidadãos têm a aplicação StayAway Covid instalada nos telemóveis. “Seria voltar ao antigamente, quando se ia às aldeias fiscalizar se as pessoas tinham isqueiro e se tinham pagado a taxa para o poderem usar”, ironiza o sindicalista.
O mesmo defende César Nogueira, presidente da Associação dos Profissionais da Guarda, para quem “os autores destas propostas não têm qualquer conhecimento de como isto se aplica no terreno”. “Só poderia funcionar se o Governo abrir os cordões à bolsa e comprar um aparelho que detete se o telemóvel tem a aplicação instalada...
Nós até podemos pedir o telemóvel, mas o que se faz se a pessoa recusar?”, questiona.
A Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA) contestou a medida numa reunião do Conselho Nacional, ontem à noite. Para o presidente António
Mota, “só o termo obrigatoriedade causa logo urticária”.
Os sindicatos da Função Pública estão de acordo que o uso obrigatório “não faz sentido” e é uma “intromissão descabida e despropositada” na vida dos funcionários. José Abraão, da FESAP, alerta para o problema da fiscalização: se forem forças de segurança, diz, “haverá perturbações” no normal funcionamento dos serviços. A estrutura sindical pede ainda ao Presidente da República que avalie a constitucionalidade do diploma caso este chegue a Belém.
“Não nos passa pela cabeça que isto passe sequer do Parlamento”, reage Sebastião Santana da Frente Comum. Para o dirigente sindical, a discussão sobre o uso obrigatório da StayAway Covid é uma manobra de “distração” arranjada pelo Governo para que não se discutam “questões importantes”.