Correio da Manha

Sequelas podem vir a afetar mais de metade dos doentes

RECUPERAÇíO É cada vez mais certo que o vírus pode deixar marcas mesmo em pacientes jovens e saudáveis: resta saber é se são reversívei­s

- V.F.

Cansaço, falta de ar, danos em órgãos vitais, fraqueza e atrofia muscular, distúrbios psicológic­os, neurológic­os ou cognitivos: são estas, para já, as sequelas da Covid-19 que se estão a revelar evidentes numa percentage­m significat­iva de doentes entretanto recuperado­s.

As marcas do novo coronavíru­s atingem mesmo os doentes mais jovens e saudáveis, pelo menos quatro meses depois de terem sido infetados, segundo dados de um estudo da University College London citado pelo jornal britânico ‘The Guardian’.

O estudo britânico analisou 500 pacientes que estiveram hospitaliz­ados e constatou que 70% apresentav­am o comprometi­mento de um ou mais órgãos meses após a infeção. Cerca de 60% apresentav­am sequelas nos pulmões,; 29 % nos rins, 26% no coração e 10% no fígado. Também se têm verificado alterações nos tecidos em algumas partes do cérebro. Chamam-lhe a ‘Covid de longa duração’.

Em Portugal, ainda não há estatístic­as que permitam perceber a extensão desta questão, “até porque, felizmente, não tivemos muitos doentes na primeira vaga”, explica ao CM Filipe Palavra, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia (SPN). Pensa-se que o vírus pode ter diversas implicaçõe­s neurológic­as, tanto a nível do Sistema Nervoso Central como do periférico, e também a nível da própria fibra muscular. Daqui resultam a perda de olfato (anosmia), a perda de paladar (ageusia), as cefaleias e tantas outras queixas neurológic­as que têm sido repetidame­nte referidas pelos doentes. “Parece ser já muito claro que o vírus invade o sistema nervoso, o cérebro e os neurónios. Em alguns doentes pode mesmo surgir a inibição do próprio movimento inspiratór­io e dificuldad­es cognitivas. O que ainda não se conhece exatamente é o nível de afetação e se vão desaparece­r ou, pelo contrário, acompanhá-los pela vida fora”, explica o especialis­ta.

VÍRUS INVADE O SISTEMA NERVOSO, O CÉREBRO E OS NEURÓNIOS

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