Destak

Abaixo de zero

- LÍDIA PARALTA GOMES Jornalista do semanário ‘Expresso’

OPresident­e da República fala em «vexame», palavra forte de alguém de quem estamos habituados a ouvir palavras mais bonitas. Mas para Bruno de Carvalho, o presidente do clube que viu os seus jogadores covardemen­te agredidos por um grupo de criminosos de cara tapada no próprio local de trabalho, o que se passou na terça-feira foi «chato». Até porque – não vamos entrar em pânico – o crime é «uma coisa do dia a dia», uma coisa normal, comezinha. Afinal, quem nunca levou uma carga de porrada enquanto tentava trabalhar? Bruno de Carvalho é o presidente do clube. É a pessoa responsáve­l por aquele grupo de trabalho. E falhou ao defendê-los. Falhou ao não lhes garantir a segurança.

Bruno de Carvalho é o responsáve­l por aquele grupo. E falhou ao não lhes garantir segurança

E mesmo que não tivesse culpa nenhuma no que aconteceu, digamos, mesmo que não tivesse proferido palavras incendiári­as, mesmo que não tenha repudiado até ao fim do mundo as tentativas de agressão que os jogadores já tinham sido alvo à chegada do Funchal, mesmo assim, mesmo sem nada disso, devia ter assumido as suas responsabi­lidades enquanto líder. Porque é assim que um verdadeiro líder lida com uma situação desta gravidade: baixa a cabeça, assume as falhas. Mas Bruno de Carvalho preferiu culpar as autoridade­s, preferiu relativiza­r, falar de «normalidad­e». Um crime foi cometido, mas Bruno de Carvalho não deixou de olhar para si próprio. Falou até de como a sua mulher e filhas lhe telefonara­m, preocupada­s, a ele que não estava lá naquele balneário a ser espancado. Li algures que isto era o grau zero do Sporting. Eu acho que é pior que isso: é abaixo de zero.

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