“Munique é uma cidade maior do que Lisboa e neste momento está paralisada”
General entende ser razoável e não um ato de histeria coletiva a associação imediata que se faz entre os ataques contra civis em espaços públicos e o terrorismo islâmico
Um ataque destes é, logo à partida, atribuído ao terrorismo islâmico. Considera que existe já um sentimento de histeria entre as populações? Julgo que não há. Acho que, de facto, a probabilidade de estes ataques serem da autoria do terrorismo islâmico é grande e porque os extremistas têm dito, várias vezes, que vão atacar na Europa... até têm dito que atacam na Península Ibérica. Por isso, não me parece irrazoável que as pessoas quando veem isto liguem logo a sua autoria àquela organização, que prometeu que ia fazer e acontecer... parece-me razoável, não ilógico. A proximidade temporal de poucos dias entre o ataque terrorista na cidade francesa de Nice (cometido por um camionista) e este de Munique, contra civis em espaços públicos, tem algum significado? Julgo que são coisas diferentes. Aquilo que penso que aconteceu em Nice foi uma pessoa isolada e sem uma organização por trás, apesar de ter outros elementos ligados a ele que estariam dentro do assunto. Por outro lado, este ataque em Munique é um ataque que aponta naturalmente para um objetivo de criar instabilidade numa grande cidade... Munique será uma cidade maior do que Lisboa e, neste momento, está paralisada. É extremamente remunerador realizar um ataque desta natureza, pois além de fazer alguns mortos consegue paralisar uma cidade da dimensão de Munique. Estarão as polícias e os serviços secretos preparados para fazer face a este tipo de ataques terroristas, cujos autores parecem ser lobos solitários? O seu objetivo é criar instabilidade e medo, mostrar as suas capacidades. Hoje em dia, isso é feito através da importância que adquiriu a informação no mundo atual. Há uma coisa qualquer e logo as televisões, as rádios e os jornais não falam de outra coisa, em todo o mundo. A capacidade de circulação da informação, as plataformas pelas quais circula, são de tal maneira que permitem que dois ou três tiros disparados em Munique se repercutam no Japão ou na Austrália passados poucos minutos. Ora isto é muito difícil de contrariar, porque depois as pessoas são atingidas pelas notícias e cada uma delas imagina à sua maneira – com mais medo ou menos medo, mais indiferença ou menos indiferença – os efeitos daqueles atentados. A verdade é que, ao longo das últimas décadas, Estados europeus como a Alemanha, a Itália, a Espanha ou o Reino Unido foram palco de atos terroristas, embora por razões de política interna. Esse passado poderá ser-lhes útil para lidar com este tipo de ataques? Julgo que nunca se está preparado. Não é fácil ter serviços de informações que tenham a capacidade de penetrar, de infiltrar todos os potenciais grupos que poderão vir a ter capacidade de lançar esses ataques nas nossas cidades. Por outro lado, eles podem ser lançados por dois ou três indivíduos que não constituem uma organização, que podem combinar um ataque na véspera... as sociedades não estão preparadas para lhes responder. Para evitar há muita dificuldade e para responder... As autoridades serão impotentes para lhes fazer face? Tentar dissuadir essas ações e, apesar de ser completamente impossível, a meu ver, de conseguir fazer face a isso com os serviços de informações, pode tentar-se relacionar esses serviços a nível nacional com os dos países aliados e tentar constituir uma rede em que poderão cair alguns destes potenciais atacantes. MANUEL CARLOS FREIRE