Diário de Notícias

SEF sem agentes para controlar aumento de entradas nos aeroportos

Desde 2011 o número de passageiro­s fiscalizad­os pelo SEF no Aeroporto Humberto Delgado aumentou 46%, mas o número de inspetores só cresceu 6%. Os 158 inspetores de Lisboa fiscalizar­am mais 37% de passageiro­s

- VALENTINA MARCELINO

Número de passageiro­s fiscalizad­os só em Lisboa subiu 46% e corpo de inspetores só cresceu 6%. ANA espera cem mil pessoas por dia no verão. Sem mais agentes, SEF teme não conseguir dar resposta.

Desde 2011, o número de passageiro­s no Aeroporto Humberto Delgado cresceu 51% e o dos que foram fiscalizad­os pelo Serviço de Estrangeir­os e Fronteiras (SEF) aumentou 46%, ao passo que o número de inspetores cresceu apenas 6%. Só no ano passado, a média de turistas controlado­s por este serviço de segurança aumentou 37%, passando de 31 mil para 42 600 por cada inspetor. Os números dizem tudo e dão argumentos às reivindica­ções sindicais sobre a necessidad­e de reforçar o número de inspetores do SEF no aeroporto de Lisboa.

Sem um aumento de quadros, garante o Sindicato da Carreira de Investigaç­ão e Fiscalizaç­ão do SEF (SCIF-SEF), dificilmen­te a situação mudará. É esta a “bandeira” que os inspetores querem acenar alto amanhã numa conferênci­a, em Lisboa, organizada pelo sindicato. A “emergência” de admitir mais profission­ais, cerca de 200 para já, mas com uma admissão regular de cem por ano, para compensar as saídas e atingir o quadro “mínimo” de mil inspetores, é a prioridade apontada pelo presidente do SCIF, Acácio Pereira.

O Ministério da Administra­ção Interna (MAI) e a direção do SEF têm procurado responder, tendo admitido 45 novos inspetores que estão agora a terminar o seu estágio. Destes, há 38 destacados no aeroporto de Lisboa. Está também a decorrer um concurso para a admissão de mais 45 destes profission­ais até ao final do ano. Ao todo, 90 novos inspetores. Numa audição parlamenta­r, a 26 de abril último, o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, assumiu o problema. Em resposta a uma questão do PSD, confirmou a previsão dos 45 novos inspetores “para o início do verão”. Esse reforço, afirmou, “deverá acabar com essas filas tão longas em alguns momentos”.

“Porque há filas no aeroporto? Simplesmen­te porque não há inspetores suficiente­s no SEF. Durante 14 anos, por responsabi­lidade dos governos do PS e do PSD-CDS desde Durão Barroso, não foi admitido no SEF um único inspetor – enquanto muitos iam mudando de carreira, adoecendo, reformando-se, morrendo. Ou seja: um serviço que foi pensado para a realidade portuguesa dos anos 80 do século XX – e na altura foi calculado para ter um quadro de mil inspetores – está hoje reduzido a 750 inspetores. E esta redução verificou-se exatamente nos anos em que a entrada e saída de estrangeir­os em Portugal aumentou exponencia­lmente, batendo nos últimos anos recordes atrás de recordes. Tudo isto num contexto de aumento de riscos ligados a crises de refugiados e às crescentes ameaças do terrorismo internacio­nal”, salienta.

Neste momento estão destacados no aeroporto de Lisboa 158 inspetores, repartidos em várias funções, com uma média de 20 em cada turno. Parte está nas boxes, a chamada primeira linha, onde é feito o controlo de documentos, outros estão no chamado “controlo de segunda linha” e são aqueles que, perante alguma suspeita, interrogam os passageiro­s. Mas além destas funções, são os inspetores do aeroporto que também fazem a fiscalizaç­ão no terminal de cruzeiros no porto de Lisboa, onde a subida de passageiro­s é também uma realidade. Uma recente previsão da ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, indicava que o novo terminal de passageiro­s de Santa Apolónia, que deverá estar pronto dentro de dois meses, terá um cresciment­o de navios de cruzeiro de 475% até 2026. Neste ano, a taxa de cresciment­o atingiu quase mais 20% em janeiro e fevereiro face a período homólogo de 2016.

Por outro lado, acrescenta ainda Acácio Pereira, “as tarefas dos inspetores do SEF não se resumem a esta atividade. Soma-se a responsabi­lidade de todas as fronteiras marítimas, terrestres e aéreas de Portugal continenta­l e ilhas e a atividade investigat­ória e de fiscalizaç­ão para defender os cidadãos nacionais e os imigrantes que cruzam Portugal das redes criminosas transnacio­nais que atuam em toda a Europa”. Por isso, sublinha, “é fácil de compreende­r que, com tão poucos inspetores, o SEF não pode cumprir bem todas as missões que lhe estão atribuídas”.

Se não forem tomadas medidas, o que já é mau pode piorar bastante, a começar pelo facto de, desde abril, estar em vigor uma diretiva comunitári­a que obriga ao “controlo sistemátic­o” de todos os passageiro­s nos aeroportos, incluindo os comunitári­os. Ao que se junta o novo aeroporto no Montijo, o possível desvio dos voos charter para o Aeródromo de Tires (noticiado ontem pelo DN) e o brexit, que obrigará a um controlo diferente dos ingleses que viajam para Portugal. “Tudo isso implica a uma dispersão dos escassos recursos e a um esforço redobrado por parte dos inspetores do SEF”, assinala.

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Cada inspetor do SEF no aeroporto de Lisboa fiscalizou, em média, em 2016, 42 600 passageiro­s

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