Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Empresários comparam pandemia a uma revolução
“Este é o momento de ouvir quem tem de ser ouvido, de pensar no pós-pandemia e na forma de superar a crise que causou sequelas assimétricas na economia”, referiu António Ramalho, CEO Novo Banco, na abertura da conferência “Portugal que faz”, realizada na Associação Empresarial do Baixo Ave (AEBA), na Trofa, e que juntou a Associação Empresarial de Portugal (AEP) e a Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP). O encontro faz parte de um leque de reuniões alargadas que o Novo Banco está a ter com empresários e associações empresariais de todo o país. “Houve uma decisão sanitária de proteger as pessoas, a vacina é a luz ao fundo do túnel mas temos que pensar no pós-pandemia”, garantiu António Ramalho.
Numa região maioritariamente dedicada à indústria transformadora e aos setores têxtil, vestuário, calçado, madeiras e mobiliário, Carlos Andrade, economista chefe do Novo Banco, frisou que “apesar de serem considerados setores tradicionais da indústria”, estas fileiras são “altamente inovadoras”. Na economia pós-covid, Carlos Andrade vê mudanças que vieram para ficar: “Há alterações sobretudo na mobilidade com um maior recurso ao teletrabalho, no consumo e no investimento que já está a ser mais seletivo. Há também uma maior valorização da sustentabilidade que está a levar à alteração de padrões de consumo e a supply chains mais locais e regionais”.
As alterações no consumo já verificadas e com tendência para se manter podem ser uma preocupação. “A economia não sobrevive só com consumos essenciais”, frisou António Ramalho.
“As empresas têm de saber vender os seus produtos no estrangeiro sem fazer viagens ou reduzindo as deslocações ao mínimo e mostrar que é possível fazer negócios à distância. Estamos no meio de uma revolução”, salientou José Manuel Fernandes, presidente da associação empresarial que agrega os concelhos de Trofa, Santo Tirso, Famalicão, Vila do Conde e Maia. Sem viagens, com o maior número possível de trabalhadores em teletraba
Teletrabalho, menos viagens, mais sustentabilidade e consumo mais seletivo estão a marcar o dia-a-dia das empresas transformadoras, têxtil, calçado, madeiras e mobiliário. O presidente executivo do Novo Banco abre caminho ao fim das “sequelas”.
lho, uma das apostas para a comunicação interna e externa passa por um maior investimento na automação e nas novas tecnologias.
“A sustentabilidade da economia passa por apostar cada vez mais nas exportações e cada vez menos nas importações”, frisou Vítor Poças, presidente da Associação das Indústrias de Madeiras e Mobiliário.
Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP, acredita que a crise causada pela pandemia só se resolve com uma “cooperação intensa entre as empresas para aumentar a competitividade” e com uma “aproximação real entre as empresas e as universidades”. Sobre os financiamentos, o responsável pela Associação Empresarial de Portugal diz que “a banca não tem problemas financeiros mas não quer correr riscos ao apoiar os empresários”.
Teletrabalho é autopromoção
“Não se pode pensar que o teletrabalho é pegar num computador da empresa e ir trabalhar para casa. É muito mais que isso e a maioria das empresas não estava preparada para dar este passo mas ele foi dado com sucesso”, afirmou o responsável pela AEBA, a entidade que agrega 600 associados das mais variadas áreas, sobretudo na região do Baixo-Ave. “O teletrabalho é o resultado das empresas se autoprotegerem e não foi preciso o governo dizer o que fazer e como fazer porque, nas empresas, todos começaram a usar máscaras e muitos foram trabalhar para casa”, relatou.
José Manuel Fernandes segue a opinião de economistas e universitários e encara a pandemia como uma revolução. “Está a mudar as empresas em todas as áreas e está a abrir novas possibilidades”. Entre os novos negócios, o destaque vai para o “mega setor da saúde”. “Desde o interior das ambulâncias até ao mobiliário dos hospitais e dos blocos operatórios, há um vasto leque que nos obriga a rever tudo o que tenha a ver com saúde”, afirmou o presidente da AEBA. A “comunicação, digitalização e a sustentabilidade” são outras das mudanças avançadas por José Manuel Fernandes que acredita na revisão do concept das empresas.
“Está a ser feito um enorme esforço de adaptação à nova realidade mas as empresas não podem ser duplamente penalizadas com medidas avulsas”, salientou Luís Miguel Ribeiro.
“Estamos a ser todos otimistas e a encarar a covid como um desafio, sabendo, à partida, que nada voltará a ser como dantes”, referiu Vítor Poças. Nas indústrias de Madeira e Mobiliário, o presidente da associação empresarial afirma que o setor “não bateu no fundo” mas “só em 2023/24 é que será possível recuperar o nível de 2019”. Um dos maiores desafios do setor é atrair jovens para a indústria. “Temos jovens que terminam cursos na área da Madeira e preferem ir trabalhar para um supermercado ganhar o salário mínimo em vez de investirem na formação que têm e que lhes garante uma possibilidade de carreira e lhes paga mais que o salário mínimo”, afirmou Vítor Poças. A crise pode ser uma forma de levar os mais novos para uma indústria que “está envelhecida” e que precisa de “rejuvenescer” a mão de obra.
Aos cenários menos otimistas, António Ramalho apresenta a necessidade de “centralizar as empresas como núcleo de desenvolvimento” económico e social.