Agricultura aperta o cerco a praga que destrói o olival
Portugal tenta controlar avanço da Xylella fastidiosa, uma perigosa bactéria patogénica
A progressiva dispersão da bactéria de quarentena Xylella fastidiosa, na União Europeia (UE), obrigou a Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) a “implementar procedimentos e medidas de protecção fitossanitária adicionais” às que tem vindo a aplicar desde que a praga surgiu no território nacional, em Janeiro de 2019, na freguesia de Avintes, no concelho de Vila Nova de Gaia.
Tanto a evolução da doença na UE como os conhecimentos científicos e da experiência entretanto adquirida determinaram a revisão do Regulamento de Execução 2020/1201 da Comissão Europeia, de 14 de Agosto. Assim, foi revogada a legislação anterior relativa à aplicação das medidas fitossanitárias estabelecidas para “evitar a sua introdução e dispersão no território da União da bactéria de quarentena Xylella fastidiosa”. A preocupação que suscita a progressiva expansão da doença impôs “actualização da zona demarcada” no Norte de Portugal, onde está identificada a presença de uma das bactérias patogénicas mais perigosas do mundo.
A 3 de Junho último, através de publicação em Diário da República, a DGAV dizia que a bactéria Xylella fastidiosa foi confirmada em “sete novos locais” de Vila Nova de Gaia, Santa Maria da Feira e Porto, razão pela qual delimitou 13 concelhos para evitar a propagação. Foram então definidas novas “zonas-tampão” nos concelhos de Castelo de Paiva, Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Oliveira de Azeméis, Ovar, Paredes, Porto, Santa Maria da Feira, São João da Madeira, Valongo e Vila Nova de Gaia, abrangendo os distritos do Porto e Aveiro.
A actualização do regulamento comunitário, efectuada em Agosto e cuja regulamentação foi publicada na última semana em Diário da República, determina que a zona demarcada para novos surtos da bactéria passe a compreender as áreas infectadas definidas por um raio de 50 metros em redor dos vegetais onde seja detectada a doença e a zona-tampão tem de ter pelo menos 2,5 quilómetros de raio, circundando as zonas infectadas.
De entre as medidas que devem ser aplicadas para a erradicação da Xylella fastidiosa, para além da delimitação da zona onde seja identificada a bactéria, destaca-se a destruição, imediata, dos vegetais infectados e dos restantes da mesma espécie. Nos locais onde seja declarada a doença, fica proibida a plantação de vegetais susceptíveis à subespécie da bactéria identificada até agora em Portugal, a multiplex ST7, que se dispersa através de insectos em distâncias curtas e pelo transporte de plantas contaminadas em distâncias longas.
As restrições estendem-se à proibição do movimento de qualquer vegetal para fora das zonas demarcadas e das zonas infectadas para as zonas-tampão, assim como a proibição da sua comercialização nas zonas demarcadas, em feiras e mercados.
Os vegetais já abrangidos pelas medidas de contenção somam mais de 30 géneros e espécies de plantas ornamentais e silvestres, e inclui sobreiros, azinheiras e oliveiras, etc..
Desde a última avaliação de risco, efectuada em 2019 peloaEuropean Food Safety Authority (EFSA), concluiu-se que resultados da investigação a nível mundial mostram que a sistemática tentativa de erradicação da doença traduziu-se “apenas na redução de alguns efeitos do desenvolvimento dos sintomas da infecção”. Até ao momento, “não há nenhuma medida de controlo disponível para eliminar as bactérias de uma planta doente em condições de campo”, refere a EFSA. Este organismo, responsável por boa parte dos trabalhos de aconselhamento científico que presta à Comissão Europeia, Parlamento Europeu e Estados-membros da UE, anunciou em Abril passado a identificação de 37 novas espécies de plantas que foram
adicionadas à lista de hospedeiros da Xylella fastidiosa. A lista já abrange 595 espécies de plantas susceptíveis de serem contaminadas pela bactéria.
A maioria dos novos hospedeiros salienta a EFSA, “estava naturalmente (não artificialmente) infectada e foi encontrada em países da UE (França, Itália, Portugal e Espanha) e países não pertencentes à UE (EUA e Irão). Os novos hospedeiros incluem plantas ornamentais, silvestres e comerciais comuns.
Por sua vez, uma equipa de investigadores da Universidade de Wageningen, na Holanda, do Instituto de Agricultura Sustentável (CSIC) e do Instituto Valenciano de Investigação Agrícola (IVIA), em Espanha, num estudo publicado em Abril pela Academia Nacional de Ciências dos EUA, desenvolveram um modelo bioeconómico para calcular o possível impacto da Xylella fastidiosa nos olivais europeus. E estimou que a bactéria pode causar um enorme impacto na economia de Itália, Grécia e Espanha, uma vez que esses países representam cerca de 95% da produção de azeite na Europa. No caso da Itália, o potencial impacto económico, num período de 50 anos, varia entre 1,9 e 5,2 mil milhões de euros.
Com efeito, os investigadores constataram que as áreas de olival em Itália, Grécia e Espanha apresentam “condições climáticas não restritivas para Xylella fastidiosa” e reconhecem que a “área actualmente afectada e a quantidade de plantas hospedeiras sem sintomas, mas infecciosas, que ainda se desconhece vão dificultar a erradicação da doença.
Actualmente na UE, a Xylella está presente na Itália, França, Espanha e Portugal, nas subespécies pauca, multiplex e fastidiosa. Como não há tratamento para o flagelo, as estratégias de controlo aplicadas na UE concentram-se na erradicação ou contenção da doença por remoção do hospedeiro, controle de vectores e restrições à produção e movimentação de materiais vegetais para plantio.
A alternativa que preconizam sugere a plantação de variedades resistentes de oliveiras, realçando ainda a necessidade de fortalecer a pesquisa neste campo, acrescida ainda da aplicação de medidas fitossanitárias, incluindo controlo de vectores e a eliminação de plantas hospedeiras da bactéria.
O estudo realizado demonstrou ainda o “considerável impacto da bactéria que é esperado em áreas de olival intensivo e superintensivo, independentemente da taxa anual de propagação”.
Em situação-limite consideram que a substituição de culturas de olivais por outras é uma hipótese que se coloca face à gravidade da situação que neste momento se está viver na Europa com a propagação da bactéria.
“Não há nenhuma medida de controlo disponível para eliminar as bactérias de uma planta doente em condições de campo” refere a EFSA