A excepção das pequenas salas independentes
Nem todos os cinemas estão em crise. Algumas salas pequenas e independentes, tradicionalmente orientadas para um público fiel de cinéfilos que não depende tanto dos últimos blockbusters americanos, até estão a prosperar. É o caso do Medeia Nimas, por exemplo. Paulo Branco é peremptório: nos últimos anos, este cinema do Saldanha, em Lisboa, nunca esteve tão bem. Teve, neste ano de pandemia, “mais espectadores do que em qualquer um dos últimos cinco anos”, e isto contando com os quase três meses em que esteve encerrado. “Mesmo com todas as exigências”, conta o produtor e exibidor ao PÚBLICO, referindo-se às actuais medidas de segurança, a sala está de boa saúde.
O Nimas, que se tornou a sala principal da Medeia desde que o Monumental fechou portas, está, acrescenta ainda o dono da sala, “a fazer uma média de 1200 pessoas por semana, com quatro sessões e a capacidade reduzida a 50%”. Sessões esgotadas são frequentes, até com alguma antecedência. A pouco menos de uma semana da estreia, há uma sessão de Listen, a longa-metragem de Ana Rocha de Sousa que foi muito galardoada este ano no Festival de Veneza, que já está “praticamente esgotada”.
Outro filme que tem feito sucesso na sala lisboeta é um novo restauro digital do clássico O Leopardo, de Luchino Visconti. “Esgotou quatro sessões, lá tenho de fazer mais uma, não posso deixar pessoas de fora”, comenta Paulo Branco. E há público de “todas as faixas etárias”, garante. “Não é só uma programação para a cinefilia”, insiste, também inclui novidades como Da Eternidade, de Roy Andersson, no meio de retrospectivas dedicadas a autores como Akira Kurosawa ou Ingmar Bergman, ou de ciclos como As Mulheres da Câmara de Filmar, que está a passar filmes de nomes importantes como Dorothy Arzner ou Ida Lupino, bem como de Lucrecia Martel, Marguerite Duras, Chantal Akerman, Teresa Villaverde ou Jane Campion.
Com máscara, sem pipocas
Paulo Branco acredita que não é só a programação “inventiva” que chama público às salas independentes. No Nimas, diz, as pessoas “sentemse realmente em segurança”: “a máscara é obrigatória o tempo todo”, já que não há pipocas e comida, “o hall não é utilizado, a bilheteira dá para a rua, não é no interior”. “Há muitos anos” que Paulo Branco não tinha “tanto prazer” a programar uma sala, e também há muito que não passava tanto tempo
“numa sala de cinema” como o que passa neste momento no Nimas “a descobrir novos filmes e a seguir uma programação temática”. Lembra-lhe a sala de cinema que dirigiu em Paris no final dos anos 70, a Action République. “Felizmente não temos de programar 14 salas num multiplex”, diz, admitindo, no entanto, que “é um risco” fazer uma programação mensal.
O Cinema Trindade, no Porto, também tem estado “estável”, descreve Américo Santos, responsável pelas duas salas da Baixa. “Os números variam ou diminuem de acordo com as estreias, mas já atingimos uma regularidade interessante ao nível de afluência de público. A grande alteração vem do lado da programação, com a introdução de vários ciclos temáticos”, conta. De 1 a 7 de Outubro, por exemplo, o Trindade teve 924 espectadores.