Dez filmes inspirados na Revolução
Cumpre-se este mês o centenário da revolução russa. O cinema, à época como ao longo destes 100 anos, de forma documental ou ficcional, não deixou de abordar tão marcante evento histórico. Deixamos dez filmes sobre os “Dez dias que abalaram o mundo”.
Já houve quem dissesse que, caso houvesse televisão à época, a Revolução de Outubro teria sido em Setembro. Não havia. Nem internet, o que porventura anteciparia ainda mais a tomada do poder pelos bolcheviques, mas havia cinema, que o líder da revolução considerava de enorme importância. Passados cem anos, com os avanços e os recuos históricos, com todos os prós e os contras, não se pode escamotear a importância de um evento que o jornalista e escritor norte-americano John Reed classificaria como “os dez dias que abalaram o mundo”. O cinema registaria os factos segundo diferentes perspetivas. Se o cinema soviético da época foi, sem dúvida, uma das matrizes de uma forma de expressão que então ainda dava os primeiros passos, outras cinematografias dariam mais tarde visões mais críticas ou contraditórias, que não podem ser ignoradas. Fique-se então com uma lista, subjetiva e discutível como qualquer outra, de dez filmes sobre os dias da Revolução.
OUTUBRO (Sergei Eisenstein, URSS/1927)
Depois de “A Greve” e de “O Couraçado Potemkine”, e em encomenda do Partido para comemorar o décimo aniversário da Revolução, Sergei Eisenstein, que ainda não caíra em desgraça, assina outra obra monumental, em que o fervor revolucionário rima com o fulgor da montagem do mestre russo. O filme está repleto de momentos iconográficos, com particular destaque para a tomada do Palácio de Inverno dos Romanov.
A QUEDA DA DINASTIA DOS ROMANOV (Esther Shub, URSS/1927)
Num momento em que ainda não era muito frequente ver mulheres cineastas, Esther Shub destacou-se na área do documentário. Amiga de Meyerhold e Mayakovski, entra para a Goskino e conhece Dziga Vertov, realizando este documentário, o primei- ro de uma famosa trilogia, reunindo um precioso e avultado material sobre os últimos anos dos Romanov, num trabalho pioneiro no domínio do filme de compilação histórica.
O FIM DE SÃO PETERSBURGO (Vsevolod Pudovkine, URSS/1927)
Outro histórico do cinema soviético, Pudovkine estreara em 1926 uma das grandes obras-primas da época, “A Mãe”, adaptado de Gorki. Neste filme, conta a história de um camponês que chega a São Petersburgo em busca de emprego e está na origem da prisão de um conhecido da aldeia, ligado aos movimentos revolucionários. Enviado para a guerra, quando regressa está pronto para participar na Revolução.
TCHAPAEV (Sergei e Georgi Vasiliev, URSS/1934)
Adaptação do livro sobre a vida do herói que dá o título ao filme, que se destacaria como comandante de uma divisão do Exército Vermelho na Guerra Civil que se seguiria à Revolução. Para além do evidente papel de propaganda de uma obra sobre um homem do povo que viveu para servir a Revolução, pode ser visto como um poderoso filme de aventuras. Um dos filmes favoritos de Josef Estaline e de… Vladimir Putin.
LENINE EM OUTUBRO (Mikhail Romm, URSS/1937)
Antigo membro do Exército Vermelho e escultor, Mikhail Romm pertence a uma boa segunda linha do cinema soviético. Coube-lhe realizar este filme, um drama biográfico sobre o papel de Lenine na organização da revolução. O desempenho de Boris Schulkin era tão realista que os espectadores se levantavam a aplaudir quando entrava em cena. Dois anos mais tarde, ator e realizador juntaram-se para fazer “Lenine em 1918”.
CAVALEIRO SEM ARMAS (Jacques Feyder, GB/1937)
A vida de um espião britânico enviado para o interior do movimento revolucionário, em 1913, mas que acaba por ir parar a uma prisão na Sibéria. Após a Revolução, tenta fugir da Rússia e salvar uma bela condessa… Enquanto os soviéticos usam o cinema como propaganda, outras cinematografias colocam-se do outro lado da barricada. Mas Robert Donat e Marlene Dietrich protagonizam um divertido romance de aventuras.
DOUTOR JIVAGO (David Lean, EUA/GB/ITÁLIA/1965)
A mais famosa adaptação do romance de Boris Pasternak, sobre os amores de um médico e poeta com a mulher de um ativista político, tendo como pano de fundo a Revolução bolchevique e a guerra civil, permitiu a David Lean encenar um dos seus grandiosos espetáculos. Vencedor de cinco Óscares, que não contemplaram, no entanto, nem Omar Sharif nem Julie Christie.
NICOLAU E ALEXANDRA (Franklin J. Schaffner, EUA/GB/1971)
Uma das versões mais famosas dos últimos dias do último czar da Rússia e da sua família, da sua queda e exílio na Sibéria. A realização é de Franklin J. Schaffner, de que no entanto esta obra é das mais decorativas. Nos Óscars, venceu nas categorias de Direção Artística e Guarda-roupa. É no entanto interessante pelos aspetos históricos que foca e pela Revolução de Outubro vista pelo lado dos derrotados.
REDS (Warren Beatty, EUA/1981)
Ator mítico do cinema americano, Warren Beatty dedicou-se à realização na última fase da sua carreira, levando à tela a vida de John Reed, o famoso jornalista e escritor de Portland que se envolveu com o movimento comunista, escrevendo o famoso “Dez Dias Que Abalaram o Mundo” (título da versão portuguesa das Edições Avante). O filme é um enorme fresco sobre a época, e Beatty interpreta o papel com paixão.
ANASTÁSIA (Don Bluth e Gary Goldman, EUA/1997)
Um dos grandes mitos do século XX (a sobrevivência de Anastasia Romanov ao fuzilamento da família imperial) foi alvo de inúmeras histórias, na literatura e no cinema. Como frequentemente, uma longa-metragem de ficção tornou-se versão “oficial”. Produzido pela Fox e realizado por dois veteranos da animação, o filme acompanha a fuga da jovem princesa e a tentativa de escapar à morte às mãos de Rasputine.
“O cinema é a mais importante de todas as artes” Vladimir Ilitch Lenine