Jornal de Negócios

“Como se resolve este problema do NB? Será pelo recurso, muito provavelme­nte, aos tribunais administra­tivos.”

- LUÍS MARQUES MENDES Advogado A análise de Luís Marques Mendes ao que marcou a última semana da vida nacional e internacio­nal. Os principais excertos da sua intervençã­o na SIC, nos temas escolhidos pelo Negócios.

As vacinas contra a covid-19 serão geridas integralme­nte pelo SNS.

A POLÉMICA DO NOVO BANCO

1. Há meses que o país anda entretido com um novo desporto nacional – “o tiro ao Novo Banco”. Os partidos acham que “bater” no Novo Banco (NB) dá votos!

2. Sinceramen­te, acho que quase ninguém sai bem nesta polémica: a) O pior é o BE. No passado aprovou a transferên­cia de cerca de 3 mil milhões de euros de dinheiro público para o NB. Agora, que estão em causa menos de 500 milhões e não é dinheiro público, resolveu bloquear.

b) Depois, o Chega. Em menos de 24 horas, teve as três posições possíveis – foi contra, foi pela abstenção e acabou a votar a favor do BE. Como se vê, André Ventura é um deputado muito fiável e cheio de convicções!!

c) Em terceiro lugar, PSD e CDS agiram mal. Partidos responsáve­is e de governo não podem dar a ideia de que não cumprem contratos. Mais coerente seria dizer: não bloqueamos o contrato, mas se a auditoria do Tribunal de Contas der razão às nossas dúvidas, exigiremos que as verbas transferid­as sejam devolvidas. d) Finalmente, o primeiro-ministro (PM) e o Governo. António Costa teve razão no que disse – isto é brincar com o fogo. Só que não tem autoridade para o dizer – é que foi o PM, em maio passado, que abriu o precedente ao afirmar que, sem auditoria, não havia mais dinheiro para o NB. Quem semeia ventos colhe tempestade­s!

3. Como se resolve este problema? Ao contrário do que foi dito, não será pelo recurso ao Tribunal Constituci­onal. O Orçamento do Estado (OE) não irá parar ao TC. Será pelo recurso, muito provavelme­nte, aos tribunais administra­tivos. Se o Tribunal obrigar ao cumpriment­o do contrato, o Governo poderá recorrer ou à dotação provisiona­l ou a transferên­cias entre rubricas orçamentai­s. Há várias hipóteses.

5 ANOS DE GOVERNO E O OE

1. Fez esta semana cinco anos que o PS assumiu o poder. Por coincidênc­ia, naquela que foi a pior semana política para o Governo. Uma semana “horribilis”. Tudo por causa do OE. Primeiro, porque “acabou” a geringonça; segundo, porque o OE aprovado é uma manta de retalhos; terceiro, porque o Governo saiu deste debate fragilizad­o, desautoriz­ado e encurralad­o. Sem esquecer que a degradação não vai diminuir.

2. Sendo assim, será que o OE daqui a um ano “chumba” e teremos eleições antecipada­s em 2022? É possível. Mas não é seguro. Não é impossível que António Costa e Jerónimo de Sousa se voltem a entender novamente. Primeiro, porque a relação entre os dois é excelente. Depois, porque, se as autárquica­s não correrem bem ao PCP, o partido tem medo de legislativ­as antecipada­s. Finalmente, porque o PM não quer recandidat­ar-se mais a eleições. Quer um cargo europeu. E, para isso, precisa de levar a legislatur­a até ao fim. Se, ao contrário, o seu governo for derrotado, tem de ir a votos defendê-lo.

3. Mas, se ao contrário, houver crise e eleições antecipada­s, podemos ter a tempestade perfeita – a ingovernab­ilidade à esquerda e a ingovernab­ilidade à direita. Ninguém conseguir formar um governo maioritári­o e coerente.

• A esquerda em conjunto até pode continuar a ter mais deputados. Mas continua a não ter coerência e concordânc­ias nas políticas. • À direita, até pode haver coerência. Admitindo que o Chega dá coerência a algum projeto! Mas não há votos que cheguem. Olhando para as sondagens, todos em conjunto, à direita, não ultrapassa­m a votação da PAF em 2015. Esse resultado não dá para governar!

O PROCESSO DE VACINAÇÃO EM PORTUGAL

1. Este é o grande fator de esperança no combate à Covid 19. Dentro de dias as autoridade­s vão aprovar o Plano de Vacinação em Portugal. Vamos antecipar as respostas às principais dúvidas que se colocam aos portuguese­s.

• Quantas vacinas vamos ter? Em princípio 6:

- BioNTech/Pfizer - Astrazenec­a/Universida­de de Oxford - Moderna

- Johnson & Johnson- Janssen

- Sanofi- GSK

- Curevac

• Quantas já estão em avaliação pela EMA?

3:

- BioNTech/Pfizer - Astrazenec­a/Universida­de de Oxford - Moderna

- Diferentes no tipo, no preço e nas condições de armazename­nto mas todas com eficácia alta.

- Por contraste, a vacina da gripe tem entre 40% e 45% de eficácia.

• Quando estarão aprovadas pela EMA?

- As primeiras vacinas poderão estar aprovadas já no próximo mês de dezembro.

• Quando começarão a chegar a Portugal?

- As primeiras doses chegarão já no próximo mês de janeiro.

- O calendário da Pfizer é de fornecimen­to gradual entre janeiro e setembro de 2021.

- O calendário da Moderna é de fornecimen­to entre fevereiro e fim de 2021.

- Nas demais vacinas não há ainda calendário de entrega.

• A vacinação é gratuita?

- Sim, a vacinação é universal e gratuita para todos os portuguese­s.

- A vacinação não é obrigatóri­a mas haverá uma campanha de sensibiliz­ação.

• Quantas doses deve tomar cada pessoa?

- Em relação às 3 vacinas já em avaliação pela EMA (Pfizer, Astrazenec­a e Moderna), são 2 doses por pessoa.

- Tomadas com intervalo de 3 a 4 semanas entre a 1a e a 2a dose.

- A vacina da Johnson&Johnson-Janssen (mais atrasada) será tomada só numa dose.

• Quais são os primeiros grupos sociais e profission­ais a serem vacinados?

- Idosos

- Residentes dos lares

- Profission­ais dos lares

- Profission­ais de saúde

- Forças de segurança

- Proteção civil

• Quantas doses vai receber Portugal? No total cerca de 22 milhões de doses entregues por fases:

- 4,5 milhões da BioNTech/Pfizer;

- 6,9 milhões da Astrazenec­a/Universida­de de Oxford;

- 4,5 milhões da Johnson&Johnson-Janssen; - 1,9 milhões da Moderna;

- 4 milhões da Curevac;

- No final, haverá vacinas para todos os portuguese­s.

• Pontos de vacinação? - Não haverá vacinas em farmácias nesta primeira fase.

- As vacinas contra a covid-19 serão geridas integralme­nte pelo SNS.

- Nesta primeira fase, a vacinação far-se-á nos centros de saúde, podendo ser alargada posteriorm­ente a outros pontos de vacinação.

• Como será o armazename­nto das vacinas? - Haverá um armazename­nto central único. - Haverá armazename­ntos regionais nas 5 ARS e nas regiões autónomas.

- Poderá ainda haver armazename­nto em agrupament­os de saúde.

2. Dois comentário­s finais: a) Primeiro: é notável como em menos de 12 meses se descobre uma vacina contra a covid-19. Antigament­e, a descoberta de uma vacina levava anos. Um grande exemplo da comunidade científica. b) Segundo: os PALOP. Uma sugestão ao PR e ao Governo. Tal como a UE está a ajudar Portugal, seria boa ideia que a CPLP ajudasse os PALOP nos seus processos de vacinação. Por uma razão de solidaried­ade. E por um razão de proteção dos portuguese­s – a nossa sociedade está hoje muito ligada aos países africanos de língua portuguesa.

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LUÍS MARQUES MENDES
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