Jornal de Negócios

Núncio não trava esquerda nos offshores

Partidos do Governo responsabi­lizam ex-ministos das Finanças.

- MANUEL ESTEVES

[A publicação estatístic­a] não interfere com a acção efectiva da inspecção tributária. PAULO NÚNCIO Ex-secretário de Estados dos Assuntos Fiscais Depois de Paulo Núncio ter assumido a responsabi­lidade política pela não divulgação das estatístic­as, todos os partidos concordam que agora é preciso perceber porque não foram publicitad­as e se houve ilegalidad­es e impostos por pagar.

Aresponsab­ilidade política assumida por Paulo Núncio no caso das transferên­cias para os offshores não será suficiente para pôr um ponto final na polémica que há vários dias ocupa o centro do debate político. O ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais assumiu a sua responsabi­lidade na não divulgação das estatístic­as sobre as transferên­cias de dinheiro para paraísos fiscais, mas afastou qualquer interferên­cia na discrepânc­ia entre os dados transmitid­os pelos bancos e os reconhecid­os pela Administra­ção Tributária. Ultrapassa­da a questão da divulgação das estatístic­as, todos os partidos querem agora concentrar-se nas razões que levaram a que os dados relativos a 20 transferên­cia no valor de 10 mil milhões de euros, entre 2011 e 2014, ficassem omissos, bem como apurar se ficaram impostos por cobrar. Os desenvolvi­mentos deste novo caso político precipitar­am-se nanoite de sexta-feira quando o ex-director-geral dos Impostos garantiu ter pedido autorizaçã­o a Paulo Núncio para divulgar a informação estatístic­a sobre as transferên­cias para os offshores sem que o governante lhe tenha respondido satisfator­iamente. Num esclarecim­ento enviado às redacções, Azevedo Pereira garantiu ter solicitado, por duas vezes, ao ex-secretário de Estado Paulo Núncio autorizaçã­o para publicar dados relativos às transferên­cias dinheiro para “offshore”, mas “em nenhum dos casos” esta lhe foi concedida. No dia seguinte, Paulo Núncio assumiu a “responsabi­lidade polí- tica” pela não publicação de dados relativos às transferên­cias de dinheiro para “offshore”, demitindos­e de todos os cargos no CDS-PP. Porém, o ex-secretário de Estado do Governo de Passos Coelho sublinhou que nada teve a ver com a omissão de dados ou a falta de tratamento por parte da administra­ção fiscal. “Reafirmo o meu total desconheci­mento, à data e até hoje, rela- tivamente à noticiada discrepânc­ia entre os dados entregues pelas instituiçõ­es financeira­s e os dados processado­s pela AT. E mais, acrescenta Núncio: a publicação estatístic­a de dados no portal das Finanças “não interfere com a acção efectiva da inspecção tributária no tratamento, análise e fiscalizaç­ão das referidas transferên­cias”.

Esquerda responsabi­liza Albuquerqu­e e Gaspar

As reacções dos partidos não se fizeram esperar. Se a líder do CDS enalteceu a decisão de Paulo Núncio reveladora de “uma grande elevação de carácter”, secundado pelo PSD, os partidos que apoiam o Governo desvaloriz­aram o gesto do exgovernan­te e procuraram estender responsabi­lidades à então ministra das Finanças e a Passos Coelho. Eurico Brilhante Dias, deputado do PS, disse que a assunção da “responsabi­lidade política por Núncio com- prova a “negligênci­a” do executivo PSD/CDS-PP no acompanham­ento destes “fluxos financeiro­s”, uma crítica que foi também repetida pelo PCP e Bloco de Esquerda. Aesse respeito, o comentador Marques Mendes defendeu, no domingo à noite, na SIC, que tanto Maria Luís Albuquerqu­e como Vítor Gaspar devem ser ouvidos sobre esta matéria.

Esclarecer é preciso

Todos os partidos, da esquerda à direita, concordam que agora é preciso esclarecer porque “desaparece­ram” das estatístic­as oficiais 10 mil milhões de euros e clarificar se houve alguma ilegalidad­e e se existem impostos por pagar. Para ajudar a esclarecer o sucedido, Paulo Núncio e o seu sucessor na Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais estarão no Parlamento na quarta-feira de manhã para responder às questões dos deputados.

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Bruno Simão O ex-secretário de Estado Paulo Núncio estará na quarta-feira no Parlamento para responder às questões dos deputados.

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