Jornal de Negócios

Reforma laboral: mudar tudo mas pouco

- MANUEL ESTEVES Editor executivo mesteves@negocios.pt

Areforma laboral que Vieira da Silva apresenta hoje aos parceiros sociais pode resumir-se em quatro palavras: mudar tudo, mas pouco. Em vez de optar por uma ou duas medidas de maior alcance, o ministro do Trabalho lançou mão de um leque alargado de medidas, mas adoptando quase sempre versões menos beligerant­es.

Senão, vejamos: o Governo reduz a duração dos contratos a prazo – com o beneplácit­o de parte do patronato –, mas opta por uma interferên­cia muito moderada nas regras aplicáveis às empresas de trabalho temporário; eliminaalg­umas das justificaç­ões mais polémicas para as empresas contratare­m a prazo, sem tocar onde dói; desiste do agravament­o da TSU para os contratos a prazo, mas surpreende com umainovado­rataxasobr­e as empresas com demasiadar­otatividad­e de trabalhado­res; eliminao banco de horas individual, mas não toca no banco de horas grupal; não acabacom acaducidad­e das convenções colectivas, mas toma medidas para limitar os efeitos mais nocivos sobre o poder negocial dos sindicatos.

Os três mandatos como ministro do Trabalho tornaram Vieira da Silva num governante pragmático que sabe que a realidade conta tanto como a aparência. E se o ministro sabe que a realidade recomenda uma intervençã­o maior do legislador para proteger as pessoas, também entende que o indicador da OCDE sobre arigidez laboral – que até considera ser um mau indicador – conta muito nahora de as empresas decidirem investir em Portugal.

Mas desengane-se quem pense que esta é a reforma de Vieira da Silva. O ministro teve de se mover dentro de margens muito estreitas. De um lado, os parceiros do Governo – Bloco de Esquerda e PCP – a reivindica­rem a reversão total das medidas laborais da troika e do governo de Passos Coelho; do outro lado estão os patrões e sobretudo a toda-poderosa Comissão Europeia, que nem quer ouvir falar em reversões na legislação laboral. E o que Bruxelas não quer tem muita força.

No fundo, esta é uma reforma laboral ao jeito da geringonça, feita da habitual argamassa de diálogo e cedências de parte a parte, que muda muito pouca coisa para que algo mude. E arrisca-se a fazer o pleno: satisfazer as exigências mínimas do Bloco e PCP; preservar as conquistas mais importante­s do patronato nos últimos anos; e contornar as linhas vermelhas da Comissão Europeia.

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