Jornal de Negócios

Trump impõe novas tarifas às importaçõe­s da China

- DAVID SANTIAGO dsantiago@negocios.pt

O Presidente dos Estados Unidos assinou um memorando que dá ordem para a aplicação de novas tarifas aduaneiras às importaçõe­s oriundas da China. O pacote proteccion­ista será de pelo menos 50 mil milhões de dólares, podendo ir até aos 60 mil milhões.

Esta é a primeira de muitas [ordens presidenci­ais para impor novas tarifas aduaneiras]. DONALD TRUMP Presidente dos Estados Unidos

A Europa está unida na defesa do comércio livre e contra o proteccion­ismo. ANGELA MERKEL Chanceler da Alemanha

Desta vez Donald Trump não surpreende­u e fez aquilo que já todos esperavam: assinou uma ordem presidenci­al que poderá culminar na imposição de novas tarifas aduaneiras sobre as importaçõe­s da China num valor que pode ascender a 60 mil milhões de dólares e que terá um impacto mínimo de 50 mil milhões de dólares. Com esta decisão, o Presidente dos Estados Unidos consolida um cenário de potencial guerra comercial entre as duas maiores economias mundiais e dá seguimento às políticas prometidas durante a campanha eleitoral, que iam no sentido da redução do enorme défice externo dos EUA em relação à China, que se fixa actualment­e em torno dos 375 mil milhões de dólares. Antes ainda da assinatura do memorando, Trump revelou à imprensa que iria assinar uma ordem com vista ao aumento das taxas em vigor aplicadas às importaçõe­s da China num valor de 50 mil milhões de dólares. No entanto, antes da entrada em vigor destas novas tarifas, cuja proposta incide sobre 1.300 bens, será aberto um período de consultas que poderá permitir a entrada em acção de legislador­es e lobistas, o que tenderá a relativiza­r o impacto das taxas aduaneiras agora anunciadas. Num prazo de 15 dias, o Gabinete do Representa­nte de Comércio dos Estados Unidos terá de apresentar uma lista final dos produtos chineses que vão ser alvo do reforço das tarifas aduaneiras. Depois, refere a Bloomberg, abre-se ainda um período de 30 dias de consultas. Donald Trump adiantou ainda que Washington está em negociaçõe­s com as autoridade­s chinesas, garantindo que os Estados Unidos vêem a China como um país “amigo”. O Presidente dos EUA justifica a necessidad­e de mudanças na relação comercial entre os dois países com a perda de empregos americanos. Seja como for, logo após a assinatura da ordem presidenci­al, Trump ameaçou não ficar por aqui: “Esta é a primeira de muitas.” Além das tarifas, Donald Trump deu também instruções ao secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, para, num prazo de 60 dias, propor uma lista de restrições ao investimen­to de empresas chinesas por forma a salvaguard­ar as tecnológic­as norte-americanas. Esta indicação deixa no ar a possibilid­ade de que produtos do sector tecnológic­o constem da lista de bens sobre os quais vão pender as novas tarifas.

Retaliação

A Casa Branca justifica esta intenção enquanto retaliação à actuação de Pequim relativame­nte a questões relacionad­as com a protecção de propriedad­e intelectua­l. Nesse sentido, Washington promete agir no âmbito da Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC) para colmatar as brechas existentes nas regras do comércio internacio­nal que permitem às empresas chinesas retirar vantagens competitiv­as que os EUA consideram ilegítimas. É que os Estados Unidos têm vindo a acusar as autoridade­s chinesas de não protegerem os direitos das empresas americanas no que concerne à protecção da propriedad­e intelectua­l e de tirarem vantagens dessas práticas. Antes deste anúncio, a comunicaçã­o social tinha avançado que os EUA decidiram “congelar” a imposição de tarifas adicionais sobre as importaçõe­s de aço e alumínio, uma medida que entra em vigor esta sexta-feira, 23 de Março, a um conjunto de países entre os quais estão todos os Estados-membros da União Europeia. À hora de fecho desta edição, os líderes europeus discutiam durante o jantar as medidas anunciadas por Washington. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, admitiu que pela frente haveria uma “longa jornada”. À chegada, Jean- -Claude Juncker já tinha dito que a União iria aguardar até que Trump anunciasse a respectiva “posição”. Só depois, já durante o jantar, é que os líderes europeus iriam então analisar as decisões americanas. Como já se esperava, as tarifas às importaçõe­s adoptadas pelos Estados Unidos foram um dos temas centrais desta cimeira europeia, e tanto Angela Merkel como Emmanuel Macron confirmara­m isso mesmo. A chanceler alemã fez questão de realçar o papel da comissária europeia para o Comércio, Cecilia Malmström, na liderança das conversaçõ­es com Washington e sublinhar que a Europa se apresenta “unida” na defesa do comércio livre e contra o “proteccion­ismo”. Malmström tinha exigido a retirada das tarifas a todos os Estados da UE, sem excepção. Para já conseguiu. Resta saber o que fará Trump.

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Jonathan Ernst/Reuters Decisão de Trump abrange, para já, 1.300 bens mas a lista poderá aumentar.

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