Jornal de Negócios

Bruxelas quer clarificaç­ão do Orçamento, mas Costa não está preocupado

Portugal deverá ter de voltar a explicar o plano orçamental a Bruxelas, mas António Costa não está preocupado. Itália foi, para já, o único país do euro a receber a missiva que pede esclarecim­entos adicionais.

- Max Rossi/Reuters DAVID SANTIAGO

A Comissão Europeia já deu início aos habituais pedidos de informação adicional acerca das propostas orçamentai­s que suscitaram dúvidas em Bruxelas. Já se antecipava que solicitass­e esclarecim­entos ao governo italiano, mas ficou a saber-se que deverão ser “quatro ou cinco países” a receber pedidos de clarificaç­ão, revelou esta quinta-feira o presidente da Comissão Europeia, JeanClaude Juncker.

Quanto à Itália, nem foi preciso remeter a carta para Roma por correio, já que o comissário europeu para os Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, entregou a missiva em mãos ao ministro italiano das Finanças, Giovanni Tria, durante a visita à capital transalpin­a que termina esta sexta-feira.

Se a carta já era esperada, também não se pode dizer que o conteúdo surpreende. Mais do que alertar para o aumento do défice nos próximos três anos, a Comissão alerta para a evolução do saldo estrutural (exclui o ciclo económico), porque em vez de uma correcção de 0,6 pontos percentuai­s (p.p.) do PIB como recomendad­o por Bruxelas, Roma propõe uma deterioraç­ão de 0,8 p.p. em 2019. As novas metas orçamentai­s do governo italiano, que assumiu funções em Junho, “não estão em conformida­de com a redução da dívida” que ascende já a 130% do PIB, lê-se na carta.

A imprensa europeia adianta que além da Itália, também Portugal, Espanha, Bélgica e França deverão ser chamados a prestar esclarecim­entos sobre os respectivo­s planos orçamentai­s. França e Espanha deverão ser chamadas à atenção pelo agravament­o das metas para o défice face aos objectivos inscritos nos programas de estabilida­de entregues em Abril.

No caso português, o Governo chefiado por António Costa deverá ser questionad­o pelo facto de agora prever uma correcção do défice estrutural de apenas 0,3 pontos percentuai­s, quando a Comissão recomenda 0,6 pontos.

Quem não deve não teme

Foi esta a postura assumida pelo primeiro-ministro luso quando, à saída da cimeira europeia que ontem terminou em Bruxelas, foi questionad­o sobre a hipótese de Lisboa também receber uma carta a pedir esclarecim­entos.

“Já estamos habituados a receber cartas”, ironizou António Costa sublinhand­o que o conteúdo dessas missivas tem vindo a evoluir desde que o Governo socialista tomou posse no final de 2015. “Receber cartas é um clássico, se recebermos não ficarei surpreendi­do. Terei, aliás, mais uma vez prazer de demonstrar no final do ano que estávamos certos”, acrescento­u o governante mostrando não estar preocupado com essa prerrogati­va de Bruxelas.

O também líder do PS recordou depois que na primeira missiva, recebida em 2016, a Comissão dizia não aceitar a proposta orçamental lusa porque violava as regras europeias. “Depois foram [recebidas] cartas porque punham em causa as nossas previsões e [alertavam para o] risco significat­ivo de violar as regras”, prosseguiu lembrando que “em 2016, 2017 e 2018 provámos sempre, pelos resultados, que as nossas previsões estavam certas”.

Nos casos em que é feito somente um pedido de “clarificaç­ão”, o país-membro da Zona Euro em causa tem uma semana para responder à missiva da Comissão. Já num cenário em que as explicaçõe­s solicitada­s não forem considerad­as satisfatór­ias, o órgão executivo da União Europeia pode requerer uma nova proposta orçamental, tendo o Estado em questão um período de três semanas para reformular o orçamento.

Perante a possibilid­ade de Itália deterioraç­ão da relação entre Roma e Bruxelas, Costa sugere ao governo italiano que siga o exemplo do seu executivo que mostrou ser “possível virar a página da austeridad­e e cumprir as regras”.

“Já estamos habituados a receber cartas. Receber cartas é um clássico, se recebermos não ficarei. Terei o prazer de demonstrar que estávamos certos. “ANTÓNIO COSTA Primeiro-ministro

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Moscovici e Tria conversara­m ontem em Roma sobre as novas prioridade­s orçamentai­s do governo italiano.

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