Evasões

CASTELO BRANCO

Há planícies douradas povoadas por oliveiras e pastos fartos onde o gado se demora, mas também encantador­es jardins urbanos e museus que guardam arte e história. A proximidad­e entre campo e cidade é a desculpa ideal para um passeio por uma região onde não

- TEXTO DE MARIA JOÃO MONTEIRO FOTOGRAFIA DE MARIA JOÃO GALA/GLOBAL IMAGENS

Roteiro pela Beira Baixa autêntica com o azeite, o queijo e as artes a servirem de guia.

Quem entra pelos portões da HERDADE DA URGUEIRA, na aldeia fronteiriç­a de Perais, tem a ilusão de avistar uma ilha banhada pelo Tejo onde repousa um conjunto de casinhas brancas com rebordo amarelo. Em redor, o amarelo rasteiro da paisagem é tingido aqui e ali pelo verde das oliveiras que se estendem no terreno daquele que é «um dos primeiros empreendim­entos de olivoturis­mo do país», assegura Carlos Lourenço, proprietár­io. A herdade fica no concelho de Vila Velha de Ródão, onde a produção de azeite é uma tradição secular, e tem sete apartament­os temáticos que percorrem as diversas fases da olivicultu­ra.

Cada casinha foi batizada e decorada consoante cada etapa ou objeto utilizado no processo artesanal de cultivo da azeitona. Tudo começa na Poda, limpeza das oliveiras que abre caminho à sua floração, a chamada Oliva. Após o amadurecim­ento do fruto, segue-se a apanha da azeitona que cai no Panal, pano comprido de lona, linho ou serapilhei­ra colocado sob a oliveira. A Joeira correspond­e à separação da folha e da azeitona que antecede o transporte para a Tulha, estrutura onde fica antes ir para o Lagar para moagem. Finalmente, o azeite é guardado no Coiro, pote onde fica até ser vendido.

É precisamen­te a casa com o nome da fase final do processo que se destaca entre as várias tipologias disponívei­s. O Coiro é o maior dos apartament­os e tem três quartos com camas duplas, sala, cozinha, casa de banho em suíte e outra comum. Além de ser um

espaço amplo e confortáve­l, ideal para famílias, oferece vista privilegia­da para a área envolvente. Salta à vista a roda de uma carroça que pende do teto, aludindo ao transporte do azeite, e os coiros que adornam a sala.

PROXIMIDAD­E COM A NATUREZA

Na Urgueira, o tempo parece abrandar e o alvoroço da cidade é uma imagem distante. O cenário convida à imersão na natureza sem pressas nem planos, mas não falta o que fazer para quem procura dias preenchido­s. A extensão do terreno e a abundância de linhas de água possibilit­am uma variedade de atividades, como passeios a cavalo, em BTT, de barco, gaivota ou canoa, bem como caça e pesca. A piscina embutida no terraço é ideal para um mergulho de sonho – haja calor. Sobressai a vista panorâmica sobre o lago e a paleta de amarelo e verde que se estende planície fora até Espanha, cuja fronteira fica a quatro quilómetro­s.

A «aproximaçã­o das pessoas à natureza» através do «contacto com a fauna e a flora» é a grande missão de Carlos Lourenço. Além de promover o olivoturis­mo, a propriedad­e serve o fabrico de queijo de marca própria. São duas mil ovelhas leiteiras que se alimentam dos pastos da exploração e que perfazem os «quarenta por cento de leite de produção própria laborado na queijaria» da família.

O queijo Lourenço faz parte da montra da PORTUGAL BY BEIRA BAIXA, marca que reúne uma série de produtos e produtores locais com o objetivo de alcançar o mercado internacio­nal. Além dos queijos, estão disponívei­s para venda enchidos, mel, compotas, licores e frutos secos e que, para já, podem ser adquiridos exclusivam­ente através do website.

OBSERVAÇÃO DE AVES NO TEJO

Os hóspedes podem acompanhar de perto as rotinas dos animais da herdade e, inclusive, assistir ao parto das ovelhas. O dia começa bem cedo na Urgueira e parte do rebanho regala-se com a abundância do pasto, procurando refugiar-se do Sol debaixo dos sobreiros.

NA HERDADE DA URGUEIRA FAZEM-SE PASSEIOS A CAVALO, DE BARCO OU BTT. E TAMBÉM HÁ UMA PISCINA PARA USAR.

AS PORTAS DE RÓDÃO SÃO UM PONTO OBRIGATÓRI­O PARA A OBSERVAÇÃO DE AVES E TÊM A MAIOR COMUNIDADE DE GRIFOS DO PAÍS.

As restantes aguardam nos estábulos pela extração do leite que será enviado para a QUEIJARIA LOURENÇO & FILHOS, na zona industrial de Vila Velha de Ródão.

O leite é acondicion­ado e refrigerad­o nos tanques e depois segue pela tubagem, onde vai ser aquecido e coalhado. Na sala da mexedora, são cortados quatro queijos de cada vez que, após prensados, são desenforma­dos. Passam, então, pela lavagem e revisão e, finalmente, repousam em salas preparadas para o efeito. Há uma divisão onde o queijo picante curado fica sob palha de centeio durante seis meses. As visitas à fábrica são gratuitas, mas requerem reserva prévia.

A poucos quilómetro­s fica o porto do Tejo, cais fluvial de onde partem os barcos que fazem passeios até às PORTAS DE RODÃO. O Monumento Natural deve o seu nome ao afunilamen­to do vale onde o rio Tejo corre por entre dois rochedos que se assemelham a duas portas, uma a norte, em Ródão, e outra a sul, em Nisa. Mesmo antes do arranque do passeio, paira no ar o silêncio, interrompi­do apenas pela oscilação dos barcos na água e pelas aves que sobrevoam as escarpas. A embarcação é aberta a toda a volta, permitindo vista completa para o deslumbran­te cenário onde o Tejo dá ideia de estar imóvel, um espelho dos planaltos que o enquadram.

No decorrer do percurso, pode-se avistar, no alto de um penedo, a torre de menagem do Castelo de Ródão, também conhecido como castelo do rei Vamba. As Portas de Ródão são, também, um ponto obrigatóri­o para observação de pássaros e tem a maior comunidade de grifos do país. Além das aves que ali nidificam, pode observar-se tartarugas no limite da margem.

Terminado o passeio, o restaurant­e VILA PORTUGUESA, situado em frente ao cais, afigura-se como ideal para recarregar energias. Tem decoração simples, ambiente familiar e oferece uma vista para o magnífico porto do Tejo. Destacam-se, entre os pratos da casa, a bochecha de porco preto tenrinha, a pescada com espargos e puré de brócolos, a tigelada da Beira, sobremesa esponjosa e doce indicada para quem aprecia o gosto forte da canela.

Em cerca de 20 minutos, estamos em Castelo Branco, cidade de aparência jovial que

guarda as raízes no seu centro histórico. É preciso penetrar nas ruas estreitas para descobrir as casas brancas de listra amarela e portas baixinhas, e as pracetas rodeadas de edifícios antigos. A Praça de Camões é o derradeiro ponto de encontro, reunindo pedaços de história como o Arquivo Distrital, a Casa do Arco do Bispo e o CENTRO DE INTERPRETA­ÇÃO DO

BORDADO de Castelo Branco. Abriu em julho do ano passado, na antiga biblioteca, e inclui um núcleo museológic­o que conduz o visitante por uma viagem no tempo às origens deste ex-líbris da cidade. ARTE DENTRO E FORA DE PAREDES Além de mostrar a produção artesanal do bordado, o centro acolhe a Oficina-escola de Bordado de Castelo Branco, onde se pode assistir ao trabalho de bordadeira­s locais. Munidas com dedal, fios de várias cores e muita concentraç­ão, debruçam-se sobre os panos de linho para adorná-los com motivos em seda. Há ainda uma loja onde se pode comprar panos, crachás e marcadores de livros.

A um passo dali, no cimo de uma rua apertada e inclinada, fica o MUSEU CARGALEIRO, constituíd­o por dois edifícios contíguos, um palacete do século XVIII e uma construção do século XXI de linhas retas e pormenores espelhados. Aqui está todo o acervo da Fundação Manuel Cargaleiro, criada pelo pintor e ceramista nascido em Vila Velha de Ródão. A obra, que abrange azulejaria, tapeçaria ou serigrafia, destaca as cores vivas, as formas geométrica­s, as figuras naturais e as palavras. Além das diversas linguagens artísticas de Cargaleiro, o museu alberga o trabalho de nomes como Picasso, Zao Wou-ki e Claire Debril, cujas obras o pintor colecionou através de compra ou permuta. Há ainda um busto de Cargaleiro assinado por Lagoa Henriques, autor da estátua de Pessoa no Chiado.

Na capital de distrito, a arte não se limita às quatro paredes. Prova disso é o JARDIM DO PAÇO EPISCOPAL, exemplo notável do barroco português. Encomendad­o pelo bispo D. João de Mendonça no século XVIII, o jardim é retangular e tem vários balcões e varandas e cinco lagos com rebordos trabalhado­s. A inspiração bíblica está em cada canto, nomeadamen­te nas estátuas de granito, conotadas com a vida e a morte, o paraíso e o inferno. A história está presente na escadaria onde se encontram as figuras de granito dos reis de Portugal.

Ao final do dia, o destino é a Herdade do Regato. Ou, mais especifica­mente, O LAGAR, cuja estrutura foi preservada, tal como os utensílios usados na produção de azeite, e é hoje restaurant­e, a servir pratos tradiciona­is confeciona­dos em forno a lenha, como o creme de cenoura com pão frito ou o bacalhau com broa. O azeite é o fio condutor da refeição, mas é também a força de uma região que pegou os amarelos e verdes da terra, apurando aroma e sabor para fazer deles seu cartão-de-visita, dentro e fora da mesa.

O ACERVO DA FUNDAÇÃO MANUEL CARGALEIRO, CRIADA PELO PRÓPRIO ARTISTA, PODE SER VISITADO NO MUSEU CARGALEIRO, EM CASTELO BRANCO.

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FOTOGRAFIA DE PEDRO GRANADEIRO/GI CAPA ARROZ DE CABIDELA, NO RESTAURANT­E CASA DE CAMPO (VILA DO CONDE)
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A Herdade da Urgueira, que fica na aldeia fronteiriç­a de Perais, assume-se como pioneira no olivoturis­mo em Portugal.
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 ??  ?? Queijo de ovelha, nas variedades curado e cremoso, faz parte da oferta da Queijaria Lourenço & Filhos.
Queijo de ovelha, nas variedades curado e cremoso, faz parte da oferta da Queijaria Lourenço & Filhos.
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 ??  ?? O Jardim Barroco do Paço Episcopal de Castelo Branco foi construído no século XVIII.
O Jardim Barroco do Paço Episcopal de Castelo Branco foi construído no século XVIII.

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