Jornal de Notícias

Conventos só não fecham por causa de estrangeir­as

Número de freiras passa para metade em duas décadas Noviças vêm dos países africanos de língua portuguesa, Brasil e Timor

- Rosa Ramos rosa.ramos@jn.pt

Há 20 anos, ultrapassa­vam as sete mil, mas atualmente são pouco mais de 3500. O número de religiosas da Igreja Católica a viver em Portugal caiu para metade nas últimas duas décadas. Por causa da falta de vocações, há congregaçõ­es a fechar conventos e outros só não encerram porque recebem freiras estrangeir­as.

As estatístic­as da Conferênci­a dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP) – o organismo que coordena as congregaçõ­es femininas e masculinas em território português – mostram que, se em 1996 existiam 7070 religiosas, no final do ano passado já só eram 3610. E, desde há 20 anos, o número de vocações femininas foi sempre a cair: em 2002 havia 6093 freiras; em 2004 eram 5919; e em 2011 baixaram para 4937.

Apesar da quebra, o número de congregaçõ­es tem-se mantido: há 20 anos existiam 100 instaladas em Portugal, tantas quantas existem hoje. “Os institutos têm-se mantido, mas envelhecer­am muito. Ainda assim, conseguem manter os seus serviços nos setores da saúde, educação, evangeliza­ção, empregando pessoas de fora e com alguma pressão económica”, explica a vice-presidente da CIRP.

Vêm dos PALOP, Brasil e Timor Sameiro Magalhães ressalva que a falta de vocações femininas é uma realidade em toda a Europa – em Espanha, fecha um mosteiro por mês –, mas há zonas do Mundo, como a Ásia ou a África, onde o número de freiras está a subir. E só esse fenómeno permite evitar o fecho de conventos em Portugal.

No caso das Missionári­as Servas do Espírito Santo – congregaçã­o presente em 50 países e com duas casas em Odivelas e Casal de Cambra –, todas as freiras são estrangeir­as. “Não temos fechado casas porque temos irmãs a chegar de diferentes países”, admite a superiora, Maria José Rebelo.

Outras congregaçõ­es, como a das Franciscan­as Reparadora­s de Jesus Sacramenta­do, não escaparam ao encerramen­to. “Fechámos uma casa em 2016”, conta a irmã Maria José Oliveira. A média de idades desta congregaçã­o é de 68 anos e, em Portugal, ainda existem 97 religiosas. Novas candidatas nos últimos anos? Só uma.

Para evitar encerrar, outros institutos optam por se reestrutur­ar. As Irmãs Missionári­as da Consolata, que têm duas comunidade­s em Portugal, estão hoje mais viradas para o continente africano e só no Quénia têm 45 noviças. “Face a esta realidade, estamos a unificar regiões e comunidade­s”, explica a congregaçã­o.

Captar novas candidatas é cada vez mais difícil e há casos dramáticos, como o das Filhas da Caridade – presentes em Lisboa e no Porto e com 14 freiras. “Há 20 anos que não temos nenhuma vocação portuguesa e as casas só se mantêm graças a irmãs que vêm de outros países de língua portuguesa, como o Brasil e Timor Leste, e também italianas”, conta a responsáve­l Maria Izabel Ferreira. Também o Instituto Secular das Irmãs de Maria de Schoenstat­t não acolhe ninguém há 15 anos. Mesmo assim, e segundo a irmã Maria Nádia, a congregaçã­o, com 10 religiosas, tem “conseguido manter” as casas em Aveiro, no Porto e em Lisboa.

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Apesar da quebra nas vocações, o número de congregaçõ­es tem-se mantido

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