Ederson e César
Vitória tinha dois grandes guarda-redes mas pôs um deles em causa
Rui Vitória equilibrou a gestão da baliza do Benfica num arame complicado e sem rede (por baixo). Júlio César é um dos grandes da baliza, foi campeão europeu, assinou trabalho meritório na Luz, merece respeito e oportunidades, caso contrário não teria visto o contrato renovado quando já havia a certeza de ter um substituto à altura. Ederson tinha entrado nas redes benfiquistas no momento mais complicado da época passada como se nada de estranho lhe estivesse a acontecer. E não estava, de facto. Mandavam-no fazer aquilo para que se preparava e fazia-o como se sabia que seria capaz, embora sem a garantia de estar imune à pressão, como esteve. Jogou na casa do Bayern exibindo a mesma tranquilidade com que assumira anos antes a baliza do Ribeirão, após o Benfica ter decidido não ser ele credor de um contrato profissional na passagem de júnior a sénior. Era inevitável transportar a discussão para esta época. Ambos estiveram lesionados e Júlio César ficou pronto mais cedo. Entrou na equipa, cumpriu e não estaria à espera de ser posto em causa. Ao mesmo tempo, a situação era ingrata para Ederson, pelo potencial demonstrado, mas, à partida, teria de haver justificação para a troca. O facto de ter jogado na Champions fez sentido, havia uma lógica aparente na rotatividade, ambos ficavam a saber que contavam e eram apostas, um para consumo interno, outro para exportação. Até nas idades batia certo. A súbita troca, com Ederson em Chaves e Júlio César em Nápoles, baralhou tudo e transmitiu incoerência. Foi o mais velho a dar-se mal, mas poderia ser ao contrário. Rui Vitória tinha dois grandes guarda-redes mas pode já ter perdido um; pelo menos está posto em causa. Se não houver uma lógica no processo seguinte, arrisca-se a perder os dois, por muito fortes que sejam mentalmente. E são-no.