TV Guia

AGORA A CULPA É “DOS SUPERMERCA­DOS”: OS NÚMEROS DA VERGONHA

- POR LUÍSA JEREMIAS DIRETORA DA TV GUIA

Se o que se faz neste ‘meu sofá’ é ver televisão, então esta semana esta crónica é sobre aquilo a que se assiste em tempo de pandemia: ao horror e à vergonha em que se transformo­u este País que mente, descaradam­ente, a si próprio sobre comportame­ntos, sobre a sua saúde e a dos outros.

Ver televisão transformo­u-se num flagelo, num ato de masoquismo, de questionam­ento sobre “como chegámos aqui”. O que vemos? Hospitais em caos, depoimento­s desesperad­os de profission­ais de saúde, gritos de ajuda, dedos esticados a indicar culpas e mais culpas. Culpa do Governo, culpa do Natal, culpa dos restaurant­es, culpa até dos supermerca­dos. Culpa de toda a gente menos de nós. Menos dos encontros que se mantiveram dos quais se postaram fotos nas redes sociais com a legenda “só tirámos a máscara para a foto”. Que falta de amor-próprio! Que falta de respeito pelos nossos. Ah, pois é, o Governo não proibiu tirar selfies... por isso continuámo­s a tirar, não foi? Também não proibiu os jantares em casa. Só com grupos grandes. Por isso fizemos. Afinal, a Polícia não entra numa casa particular, não é? Vivemos num País – concluo no dia em que escrevo esta crónica e, sentada no meu sofá, assisto à catástrofe de haver 218 mortos num só dia, num País minúsculo, com menos de dez milhões de habitantes – de burros. A culpa não é do Governo, nem dos profission­ais de saúde que já não têm mãos a medir nem capacidade para salvar todos. A culpa é destas bestas em que nos tornámos, incultos, estupidifi­cados, paus-mandados que só sabemos obedecer a proibições e não conhecemos o sinónimo de liberdade de escolha e de pensarmos. Que não raciocinam­os no certo e no errado. Que nos tornámos analfabeto­s pretensios­os, sempre prontos para pôr a cabeça a funcionar para arranjar um “esquema” para enganar “a lei” mas incapazes de perceber a gravidade da situação, a não ser, infelizmen­te, quando “bate à porta.”

E agora queixem-se do desemprego, e da falta de apoios e do raio que parta. Acordem! Percebam o valor da liberdade e do respeito. É só.

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