Volta ao Mundo

Orla Tunney

TESOUROS DA IRLANDA VISTOS PELA EMBAIXADOR­A EM PORTUGAL. POR LEONÍDIO PAULO FERREIRA «JAMES JOYCE ERA UM GÉNIO E MERECIA O NOBEL» irlanda

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Para Orla Tunney, «James Joyce era um génio, alguém que inspira as pessoas, e merecia o Prémio Nobel». Mas a embaixador­a irlandesa também admite que o autor de Ulisses «era avantgarde, muito mais ousado do que outros do tempo» e que isso explica um pouco a injustiça da Academia sueca na década de 1920. Em Lisboa desde o ano passado, a diplomata confirma que os irlandeses têm imenso orgulho na sua tradição literária, a ponto de terem transforma­do o dia em que decorre a ação de Ulisses, 16 de junho, no feriado do Bloomsday, com as pessoas a vestirem-se como no início do século XX, sobretudo em Dublin. É uma das grandes festas do país, juntamente com o Dia de São Patrício, padroeiro da Irlanda.

Há outros grandes escritores irlandeses além de Joyce. E quatro deles receberam o Nobel da Literatura, o que é notável para um país que tem menos de cinco milhões de habitantes. Foram W.B. Yeats em 1923, George Bernard Shaw em 1925, Samuel Beckett em 1969 e Seamus Heaney em 1995. Este último, que morreu há três anos, teve uma intervençã­o muito interessan­te durante a crise que atingiu a Irlanda quase ao mesmo tempo que Portugal, conta Orla Tunney: «O nosso poeta relembrou-nos de que um país não é só uma economia ou uma notação de crédito, é uma sociedade, uma história e uma cultura.

Orla Tunney «TEMOS ORGULHO NA NOSSA HERANÇA CÉLTICA. E PROTEGEMOS O GAÉLICO. MAS O INGLÊS FAZ PARTE TAMBÉM DA NOSSA HERANÇA CULTURAL.» E que não se pode ver tudo em termos de dinheiro.»

Hoje a Irlanda recupera a bom ritmo, com taxas de cresciment­o de fazer inveja no resto da União Europeia. E se os impostos baixos explicam em parte a presença de grandes multinacio­nais, também se diga que o domínio do inglês e o elevado nível educaciona­l da população são trunfos neste mundo cada vez mais globalizad­o. «Temos orgulho na nossa herança céltica. E protegemos o gaélico. Mas o inglês faz parte também da nossa herança cultural e apesar da crescente homogeneiz­ação feita pela televisão há ainda uma forma irlandesa de o falar», sublinha a embaixador­a. Orla Tunney, aliás, fala um pouco de gaélico, que lhe chegou por influência do pai.

A relação entre a Irlanda e Portugal é antiga e forte, afirma a embaixador­a. Por serem duas nações do Atlântico, também pelo legado comum celta e ainda pela tradição católica. Quando os colonizado­res britânicos, protestant­es, proibi- ram os seminários, os futuros padres da ilha eram enviados para Portugal. «Por isso, entre os séculos XVII e XIX, houve um colégio irlandês em Lisboa, em Alfama. E o convento do Bom Sucesso, para freiras», explica Orla Tunney.

Embora preocupada com o voto dos britânicos no brexit e o impacto nas relações entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte, a embaixador­a confessa-se otimista de que o seu país continuará a deixar para trás a crise. E também que os escritores irlandeses continuarã­o a surpreende­r. Dos atuais, fala de «Colm Tóibín, muito interessan­te». E também de Anne Enright.

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