VAMOS RIR, SR. PRESIDENTE!
OPresidente (nunca nominalmente eleito e no poder desde 1979), José Eduardo dos Santos, apelou à defesa da “paz e estabilidade” do país, tendo em conta o período de preparação das eleições gerais de Agosto de 2017, exortando ao “diálogo” para ultrapassar as divergências. Sua majestade o rei lembrou-se agora do diálogo. Não dialogou, não dialoga e é alérgico a quem dialoga mas, agora, descobriu que lhe fica bem falar em diálogo. Pode ser que haja quem acredite que, ao fim de 40 anos, o regime tenha descoberto que dialogar é pedra basilar de qualquer sociedade sã. Mas será que que queria dizer mesmo isso? Não estará – como faz parte do seu ADN – a confundir diálogo com monólogo? O chefe de Estado, José Eduardo dos Santos também Titular do Poder Executivo, falava, no dia 01.07, em Luanda, enquanto presidente do MPLA, na abertura da quarta reunião extraordinária do Comité Central do partido, destinada a preparar o congresso que vai fingir ser electivo de Agosto próximo. “No próximo ano, o país vai realizar eleições gerais. Todos nós, independentemente do partido ou da religião a que pertencemos, temos de defender a paz e a estabilidade do país e continuar a dizer: à guerra, nunca mais voltaremos. Os nossos problemas e divergências devem ser resolvidos pelo debate, pelo diálogo, respeitando a via democrática definida na Constituição da Republica”, exortou José Eduardo dos Santos. Esta alusão à democracia (que ele próprio diz ter sido imposta e, por isso, não assumida livremente) e à Constituição é, mais uma vez, a demonstração de que o Presidente do MPLA sabe que os seus acólitos no partido estão perfeitamente domesticados e, ainda, que acredita que todos os outros angolanos são matumbos e acreditam nele como o “escolhido de Deus”. O chefe de Estado e líder do MPLA, que anunciou que deixa a vida política activa em 2018, após quase 40 anos de poder absoluto, autocrático e ditatorial, admitiu um cenário de alternância no país, se essa for a vontade do povo. Se essa for, refira-se, a vontade do MPLA pois – a fazer fé noz exemplos do passado – quem decide o vencedor não é o povo mas a máquina do MPLA. “O poder político e alternância do poder não devem ser conquistados pela força, mas sim através de eleições e do voto do povo”, disse Eduardo dos Santos como se, mais uma vez, tivesse descoberto a pólvora. Não abuse, senhor Presidente. Somos marginalizados, castigados por pensar de forma diferente, mas não somos matumbos. Sabemos bem que o MPLA, ao contrária das teses eleitorais que apresenta, conquistou o poder pela força e continua a colocar a razão da força acima da força da razão. Aliás, o MPLA só respeita a vontade popular se esta coincidir com os seus desígnios totalitários e esclavagistas. José Eduardo dos Santos formalizou no dia 30.06, na sede nacional do partido, a sua recandidatura a presidente do MPLA, que lidera desde 1979. Ao ser o único candidato (todos os eventuais opositores sabem que os jacarés do Bengo andam famintos), o Presidente mostrou a pujança da tal democracia de que fala mas que não pratica. O seu próprio partido tem medo. A eleição para a liderança do MPLA será feita durante o VII congresso ordinário do partido, que vai decorrer em Luanda entre 17 e 20 de Agosto, antecedendo as eleições gerais em Angola, previstas para 2017. Previstas, refira-se. É que, de facto, nunca se sabe para que lado o “querido líder” vai amanhã acordar… Como foi amplamente divulgado, 2.591 figurantes (o MPLA chama-lhes delegados) escolhem – isto é como quem diz - em Agosto, em Luanda, durante o VII congresso ordinário, a liderança e o Comité Central do partido. Entre outras questões, os figurantes presentes neste congresso - escolhidos nas últimas semanas em todas as 18 províncias juntamente com os secretários provinciais do partido -, vão dizer sim ao que o partido decidir, sobretudo à escolha – democrático – do único candidato à liderança. Recorde-se que, no âmbito do seu conceito de democracia, José Eduardo dos Santos nomeou no início deste mês a filha mais velha, a herdeira ao trono Isabel dos Santos, para Presidente do Conselho de Administração da empresa do regime que é concessionária do sector dos petróleos, Sonangol. Como é natural de uma herdeira ao trono, Isabel dos Santos assume-se publicamente como militante do MPLA desde 1992 e deve galgar agora mais uns necessários degraus em toda esta farsa, entrando para entrar no Comité Central do partido que, em 11 de Março deste ano, aprovou a candidatura de José Eduardo dos Santos à liderança do partido. José Eduardo dos Santos, presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e chefe de Estado há 36 anos, anunciou no mesmo dia, antes desta aprovação, que deixa a vida política activa em 2018, ano em que completará 76 anos. “Em 2012, em eleições gerais, fui eleito Presidente da República e empossado para cumprir um mandato que nos termos da Constituição da República termina em 2017. Assim, eu tomei a decisão de deixar a vida política activa em 2018”, anunciou José Eduardo dos Santos. Contudo, o chefe de Estado angolano não clarificou em que moldes será feita a sua saída da vida política e se ainda estará disponível para concorrer às eleições gerais de Agosto de 2017, antes da sua retirada.