Folha 8

EUSÉBIO Há SÓ UM: BRITO TEIXEIRA E MAIS NENHUM

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Eusébio de Brito Teixeira, na sua qualidade (uma das muitas que ostenta) de primeiro secretário do comité provincial do MPLA no Kwanza Sul, foi agora notícia por ter festejado o ingresso de 1.100 militantes da UNITA na seita dos 99,6% na comuna do Lo- nhê, município da Quibala. Foi, disse o general um “acto que se reveste de um significad­o histórico e especial”, por ser o primeiro do género a acontecer na localidade. Eusébio de Brito Teixeira garantiu, perante a multidão presente (crê-se que seriam milhões), que o MPLA tem as portas abertas para receber todos quantos abracem o pro- grama do seu partido para receber todos os angolanos que, sob a sua bandeira e em torno do seu líder, José Eduardo dos Santos, queiram contribuir para a coesão nacional e na reconstruç­ão do país. “Depois de muitos anos de meditação e reflexão e de estudo dos documentos fundamenta­is do MPLA, estes homens e mulheres juraram fidelidade à bandeira do MPLA e ao camarada Presidente José Eduardo dos Santos, traduzindo-se num virar da página, rumo à prosperida­de”, disse o dirigente do MPLA no Kwanza Sul. Pois é. Mas na vasta história do Governador da província do Kwanza Sul há muitos outros episódios gloriosos que provam e comprovam a honorabili­dade do MPLA.

Recordam-se que o general Eusébio de Brito Teixeira requereu ao Governador do Kwanza Sul, Eusébio de Brito Teixeira, autorizaçã­o para açambarcar 30 mil hectares de terrenos, no Kwanza Sul? Recordam-se que o governador do Kwanza Sul, Eusébio de Brito Teixeira, deu deferiment­o ao pedido apresentad­o pelo general Eusébio de Brito Teixeira, autorizand­o o açambarcam­ento de milhares de hectares no Kwanza Sul? Recordam-se que os cidadãos residentes nessa área, que passou a ser propriedad­e do General Eusébio de Brito Teixeira, foram desalojado­s por ordem do Governador do Kwanza Sul, Eusébio de Brito Teixeira? Rafael Marques apresentou no dia 18 de Janeiro de 2016 , em Luanda, uma queixa contra o governador da província do Kwanza Sul por expropriaç­ão e apropriaçã­o de terrenos que o próprio general Eusébio Brito atribuiu a uma empresa de que é sócio. De acordo com a participaç­ão criminal apresentad­a ao Procurador-geral da República de Angola, o general Eusébio de Brito Teixeira chegou mesmo a escrever um requerimen­to dirigido ao governador do Kwanza Sul – “ou seja, a si mesmo” — para a legalizaçã­o de uma parcela de terra destinada à construção de um condomínio. A carta é datada de 4 de Maio de 2014 e passado um mês, a 6 de Junho, o administra­dor municipal do Sumbe – onde se localizam os terrenos em causa – remeteu ao governador provincial do Kwanza Sul, com cópia para o general Eusébio de Brito Teixeira, o parecer favorável das entidades locais para que o mesmo governador pudesse, “finalmente” conceder a autorizaçã­o de legalizaçã­o do terreno que ele próprio tinha solicitado. “No contrato consta uma única assinatura por duas vezes: a de Eusébio Brito Teixeira, como governador e como representa­nte da empresa” de que também é proprietár­io. De acordo com a queixa apresentad­a pelo autor do livro “Diamantes de Sangue — Corrupção e Tortura”, as expropriaç­ões envolvem a firma Ebrite e Filhos, Lda, fundada em 1989, por Eusébio Brito Teixeira, que detém 50 por cento da empresa. Os restantes 50 por cento pertencem aos próprios filhos do general Eusébio Teixeira. Sobre os terrenos para a construção da urbanizaçã­o foi, supostamen­te, efectuado um pagamento de três mil dólares e acordado um pagamento anual de 600 dólares, “não indexado a qualquer correcção monetária”. Além dos terrenos para a construção do condomínio, a queixa refere-se ainda ao contrato de concessão a um dos filhos do general de um direito de

Eusébio de Brito Teixeira garantiu, perante a multidão presente (crêse que seriam milhões), que o MPLA tem as portas abertas para receber todos quantos abracem o programa do seu partido para receber todos os angolanos que, sob a sua bandeira e em torno do seu líder

superfície de quatro hectares de um terreno rural para a construção de residência­s. De acordo com a queixa, os factos têm uma “gravidade muito relevante” porque, refere Rafael Marques, o governador está impedido por lei de atribuir terras, acrescenta­ndo que os valores em causa são diminutos e inferiores aos valores comerciais. A queixa faz ainda referência à legislação em vigor que impede a urbanizaçã­o de terras rurais do Estado e inclui cópias dos respectivo­s documentos referentes ao título de concessão e contrato de concessão de direito de superfície em causa. A acção judicial surge na sequência da investigaç­ão iniciada há dois anos por Rafael Marques, na qualidade de jornalista, sobre expropriaç­ões de terras em vários pontos de Angola. “Tenho estado a fazer um trabalho sobre a expropriaç­ão de terras por parte de dirigentes um pouco por todo o país. Temos dirigentes com dezenas de milhares de hectares, centenas de quilómetro­s quadrados de terra arável — que não fazem nada com essas terras -, mas conseguem obter grandes empréstimo­s, sobretudo do Banco de Desenvolvi­mento Angolano”, disse Rafael Marques, em Fevereiro de 2015, criticando a forma como são utilizados os créditos bancários no país. “Alguns (empréstimo­s) de dezenas de milhões de dólares são para comprarem carros de luxo, bens e serviços de luxo no exterior e não se investe efectivame­nte nas infra-estruturas de suporte à produção agrícola necessária ao país”, acusou Rafael Marques, frisando que são “raros” os casos de sucesso empresaria­l no sector agrícola angolano.

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