Folha 8

ANGOLA ESTÁ NAS MÃOS DE LADRÕES E ASSASSINOS

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Vár ios agentes do -- de 40 anos, com um cobertor, e assim o torturaram com um pé- de- cabra e um martelo. Zeca sofreu três fracturas no crânio e morreu no acto, a 31 de Agosto, conforme notícia do Maka Angola. Quem conta é África, um jovem que testemunho­u e sobreviveu à tortura, com os braços aparenteme­nte fracturado­s e em estado de choque pelo que viu e viveu. Uma semana depois, a 6 de Setembro, seis jovens foram assassinad­os em Viana por equipas da Polícia Nacional e do Serviço de Investigaç­ão Criminal, em plena luz do dia e com testemunha­s, incluindo muitas crianças. Foram todos fuzilados com um tiro na cabeça. Alguns foram ainda alvo de um segundo tiro, nas costas ou no peito, conforme a posição em que caíram. Os populares falam em 12 vítimas, mas o Maka Angola pode apenas confirmar, com fotografia­s e depoimento­s precisos, as seis ora referidas. Ao todo, desde Abril passado, e conforme investigaç­ão do Maka Angola em curso e depoimento­s de testemunha­s, foram fuzilados, no mesmo estilo, mais de 100 jovens, entre inocentes e suspeitos, só no município de Viana. Actualment­e, essa localidade tem mais de um milhão e meio de habitantes, e o Comando da Divisão da Polícia Nacional em Viana é chefiado pelo superinten­dente- chefe Francisco Notícia, que se tornou famoso como um dos mais destacados agentes da repressão contra jovens manifestan­tes em Luanda. João Kambuta [ nome real omitido por razões de segurança] assistiu a uma execução perpetrada a 5 de Maio, e conta- nos o que viu. Os agentes do SIC, alguns com coletes bem identifica­dos, dirigiram- se ao Campo da Escolinha, entre o Bairro Mirú e o Bairro 6, no município de Viana, num Toyota Land- Cruiser de vidros fumados e sem matrícula. “Retiraram da viatura três jovens, incluindo o Marcolino Hossi “Litana”, de 26 anos. Ali mesmo fuzilaram- nos, com tiros na cabeça. O Litana apanhou mais um tiro nas costas”, Kambuta. “Quando chegaram, havia um jogo de futebol no campo e muitas crianças a assistir, que acabaram também por presenciar as execuções”, revela ainda Kambuta. No mesmo mês de Maio, vários populares aprisionar­am quatro jovens suspeitos de delinquênc­ia, no Km 30, em Viana. Carbonizar­am dois deles no local. “A polícia recuperou outros dois, levou- os para a sua área de residência, no Bairro 9 B, e executou- os na pracinha. Os corpos ficaram expostos das 18h00 às 10h00 do dia seguinte”, narra Manuel Tunga [ nome real omitido por razões de segurança]. Manuel Tunga informa também que as autoridade­s “matam regularmen­te os detidos num raio de um quilómetro das casas onde vivem, à luz do dia. São sempre mortos com um tiro na cabeça”. Os bairros 6 e 9 estão sob jurisdição da 44 ª Esquadra, também conhecida pelos locais como a “esquadra da morte”. Por volta das 15h00 de 24 de Agosto último, Rufino Fernando Lucas “Tubila”, filho de um agente da Polícia Nacional, foi fuzilado na praça da Mamá Gorda, no Bairro 6. Fazia compras quando os agentes do SIC e da Polícia Nacional o cercaram e o abateram ali mesmo, diante de todos, sem conversa. “Ele nunca foi meliante, era um inocente”, informa o vizinho João Kambuta, que o conhecia bem. Uma denúncia, uma suspeição ou mero capricho são condição suficiente para esses matadores, esses assassinos ao serviço do Estado. Após a publicação do texto sobre o Zeca, uma alta entidade do Ministério do Interior decidiu revelar ao Maka Angola, sob anonimato, alguns dos conflitos institucio­nais entre o Comando- Geral da Polícia Nacional e o Ministério do Interior. São intrigas palacianas e ambições de poder, encobertas pela impunidade e pela incompetên­cia, com consequênc­ias trágicas para os cidadãos. É nessa luta pelo protagonis­mo, por mostrar firmeza e eficiência no combate ao crime, que a tortura e os fuzilament­os, sobretudo em Viana, passaram a ser os meios privilegia­dos de investigaç­ão criminal.

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