Folha 8

A RESPONSABI­LIDADE DO PRESIDENTE

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Estabeleci­da a responsabi­lidade directa do ministro do Interior, Ângelo Barros de Veiga Tavares, sobre os actos do SIC, pode-se então aferir a responsabi­lidade do presidente José Eduardo dos Santos sobre esta onda de tortura e de execuções. A Constituiç­ão concentra todos os poderes executivos na figura do presidente, que, por sua vez, os delega aos ministros como seus meros auxiliares. Como nota Rui Verde, “nos termos dos princípios gerais de direito administra­tivo, o delegante é responsáve­l pelos actos do delegado. Esta é a outra face da concentraç­ão de poderes. Quem tem todo o poder, também é responsáve­l por tudo”. Desse modo, José Eduardo dos Santos é politicame­nte, assim como judicial e legalmente, responsáve­l pela onda de fuzilament­os que ocorrem em Viana. No seu website, o secretaria­do do Conselho de Ministros faz notar que “um dado relevante do início do seu consulado foi o facto de José Eduardo dos Santos nunca ter ratificado nenhuma das sentenças proferidas pelos tribunais quando a pena de morte ainda estava em vigor e ter mesmo contribuíd­o deci- sivamente para a sua abolição em Angola”. A pena de morte foi abolida em 1991, por força dos Acordos de Paz e da consequent­e alteração da Lei Constituci­onal, destina- da a acomodar o multiparti­darismo. Escorregad­io, como sempre, o que José Eduardo diz não é o que Dos Santos faz. No seu discurso de tomada de posse em 2012, o presidente falou em reformas nos órgãos de defesa e segurança, “incluindo as polícias de investigaç­ão e de instrução processual, o alargament­o substancia­l da rede dos Tribunais, o aumento do número de estabeleci­mentos prisionais e de centros de reeducação e recuperaçã­o de delinquent­es, fazendo-se uma aposta pragmática na procura de soluções inovadoras e mais eficazes para garantir a celeridade da justiça e das decisões judiciais”. A celeridade da justiça concretiza-se em matanças arbitrária­s e impunes de dezenas de jovens, em plena luz do dia e diante da população, incluindo crianças? É essa a política eficiente de combate à criminalid­ade e de “reeducação e recuperaçã­o de delinquent­es” que o presidente falou no seu discurso de tomada de posse? Com as execuções sumárias em Viana, Angola ultrapassa as Filipinas, onde o presidente Duterte assume publicamen­te a política de matar os traficante­s de drogas sem recurso a julgamento. Em Angola, o presidente só assume o poder e o que lhe pareça bem ou sofisticad­o para a sua imagem, mas é dos piores. Este não é o país do pai banana, como canta MCK. Este é o país que está nas mãos de ladrões e assassinos. (*) Maka Angola

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