MUDANÇAS DE PAPEL
Para além do decreto presidencial e dos poderes acumulados pelo ministro Ângelo Tavares, o SIC é uma concha vazia. “O SIC não tem infra-estruturas!”, lamenta o oficial. Por essa razão, a investigação criminal usa as esquadras policiais, a infra-estrutura da polícia e o pessoal necessário deste órgão para o seu trabalho, incluindo para as acções de tortura e assassinato, como se depreende dos factos ora recolhidos. Entretanto, importa lembrar que a Polícia Nacional tem o dever não só de garantir a lei e a ordem, mas sobretudo de proteger os cidadãos. Ao permitirem e co-participarem nos actos de tortura e de fuzilamento do SIC – ilegais à luz da constituição – os comandantes e agentes também respondem civil e criminalmente. A esse propósito, há informação, ainda por confirmar, da detenção do comandante da 8ª Esquadra, após a publicação do texto doMaka Angola sobre o Zeca. “O SIC precisa de ser reestruturado de alto a baixo. Tem de se definir bem onde começa e termina o seu papel. Retirou-se a capacidade da polícia de investigar. Os crimes correccionais, em Portugal, por exemplo, que vão a penas de até cinco anos, são da alçada da Polícia”, ilustra o interlocutor. O analista jurídico deste portal, Rui Verde, confirma a existência de vários órgãos de polícia criminal em Portugal. “O principal é a Polícia Judiciária – para crimes importantes – que tem um director muito autónomo e depende do Ministério da Justiça.” Por sua vez, “a Polícia de Segurança Pública (PSP) [a congénere da PN] e a Guarda Nacional Republicana [GNR] têm serviços de investigação criminais próprios para os crimes menores. Dependem do Ministro do Interior. Há uma certa divisão de poderes, para que ninguém fique a mandar nas polícias todas”, argumenta Rui Verde. O alto-oficial enfatiza que o mesmo modelo deve ser aplicado em Angola. “Só os crimes maiores devem ser investigados pelo SIC, que tem de ser dotado de capacidades para analisar e investigar com profundidade.” “Agora, do roubo da galinha ao roubo da botija de gás, todas as investigações estão sob a alçada do SIC. A polícia prende e o SIC é que tem de investigar. Até que este órgão faça o seu trabalho, já muito se passou. A polícia é que tem de investigar e remeter ao procurador”, afirma. O entrevistado remata: “O pessoal qualificado está com a polícia. O SIC usa equipamento ultrapassado, a investigação criminal não está modernizada.”