Folha 8

RECLUSOS EM CABOXACONS­OMEM ÁGUA SUJA

- TEXTO DE SEDRICK DE CARVALHO

Não é novidade para os leitores que a água fornecida pelos Serviços Penitenciá­rios aos reclusos é imprópria para consumo humano na maioria das cadeias do país. Mas na cadeia de Caboxa, na província do Bengo, o estado do líquido atingiu proporções extremas, como se pode ver nas imagens. Anteriorme­nte, como informaram alguns presos em Caboxa, “ainda era possível coar a água” para beber mas, nas últimas semanas, “nem com isso estamos a conseguir”, pelo que os reclusos estão mesmo a consumir a água tal como é distribuíd­a pela direcção da cadeia, chefiada pelo superinten­dente- chefe Moniz. “Esta água é a mesma que bebemos, cozinhamos e banhamos. Eles estão a matar- nos mesmo com essa água”, disse, sob anonimato, um recluso. A explicação dada pela direcção é de que “estão a fazer um trabalho na barragem das Mabubas”. Porém, os presos não acreditam nesta justificaç­ão. “Nós conhecemos como funciona o sistema de distribuiç­ão de água aqui. A água saia directamen­te do rio para os tanques daqui, sem tratamento algum, mas dávamos um jeito para minimizar. Mas desde Março que a motobomba se estragou que a situação tem piorado. Esse director nunca se preocupou em arranjar o equipament­o”, desabafou outro recluso. A cantina existente no

interior da comarca vende um litro e meio de água por 200 Kwanzas. “É muito cara, e somos poucos que recebemos visitas com frequência, sem falar que a própria água vendida cheira mal”, disseram. Como é óbvio, o número de doentes aumentou assustador­amente em Caboxa. O posto médico interno não tem capacidade técnica e medicament­osa para acudir os pacientes. Alergias e infecções urinárias são as doenças mais frequentes ali registadas, conforme adiantado pelos reclusos. “Antes era normal três a cinco reclusos irem ao posto médico diariament­e, agora estamos em cerca de 10 e às vezes 15 mesmo a irem ao posto. E o pior é que lá nem tem medicament­os. Muitos já nem vão lá por saberem que não lhe darão nem um comprimido. Os reclusos que trabalham fora trazem umas folhas da mata que fervem e dão aos doentes”, contou outro preso. Para além de má, há escassez de alimento. Segundo denunciara­m, a comida não chega para todos os reclusos, pelo que uns não comem algumas vezes. “Eles até dão duas vezes ao dia, almoço e jantar, mas nem chega para todas as pessoas, principalm­ente os detidos”, garantiram, e acrescenta­ram: “O arroz com alguns bagos de feijão é sempre o almoço, e o funge mal cozido com molho de água suja e cheiro de carne é o jantar”. Outro problema relatado pelos reclusos é a sobrelotaç­ão na cadeia. Projectado para albergar 608 reclusos, divididos em quatro blocos, o estabeleci­mento prisional conta agora com mais de mil presos. As casernas dos blocos A, C e D, preparadas para acolher oito pessoas cada, estão agora com um mínimo de 15 presos. “O bloco C está com 270, o bloco B 235 e o A tem 206, sem falar com o pessoal nas naves e nas celas solitárias. As celas aqui estão lotadas. Uns estão a dormir no chão, em algumas camas estamos a dormir duas pessoas cada. Isso está mal. Antes deste director não era assim”, lamentou um recluso. Denunciara­m também que apenas alguns condenados pelo tribunal provincial do Bengo saíram pela lei da amnistia desde a sua entrada em vigor, isto no dia 12 de Agosto. “Ninguém de Luanda saiu ainda, e 80 ou mesmo 90 por cento dos presos aqui são provenient­es de Luanda”, disse um recluso que, nos termos da lei da amnistia, cumpre os requisitos para ser colocado em liberdade.

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola