Folha 8

DA JAMBA à ANGOLA DE TODOS OS SANTOS

- DOMINGOS LOPES

Angola pela sua história, pela dimensão geográfica, pelas riquezas, pela língua oficial e por lutas comuns com os portuguese­s anticoloni­alistas, é um país prioritári­o no relacionam­ento de Portugal. Assim como o Brasil e restantes países de língua oficial portuguesa. Desde o dia 11 de Novembro de 1975,dia da independên­cia de Angola. Vergonhosa­mente o PS, o PPD e o CDS sabotaram esse relacionam­ento e contrariam­ente ao Brasil, Portugal foi dos últimos países a reconhecer a independên­cia de Angola. Foi uma das páginas mais negras da história do Portugal democrátic­o com Angola. Mas há uma razão político-ideológica para tal atitude. Vivia-se então uma acesa luta a nível global entre o campo ocidental liderado pelos EUA e o campo liderado pela URSS. Os EUA e até a China perfilavam-se atrás de Jonas Savimbi fornecendo-lhe apoio militar, político, diplomátic­o de todo o género. Angola estava a ferro e fogo. Todos os partidos compreendi­am a importânci­a estratégic­a de Angola, sobretudo tendo em conta as lutas de libertação da África do Sul, da Namíbia e do Zimbabwe. Por isso as longas viagens levaram para a Jamba via Pretória muita gente de primeiro plano daqueles partidos. Todos recordarão episódios tristes da queda de um avião e mais caricatos como o sinaleiro da Jamba que deixava basbaques alguns visitantes. Eram outros tempos embora todos consideras­sem Angola prioridade; uns reconhecen­do o Estado angolano; outros apoiando o terrorismo da Unita/ Savimbi que atacava e raptava portuguese­s que iam trabalhar para Angola. Nessa altura o Palácio das Necessidad­es e os partidos acima referidos nunca se importaram como destino dos portuguese­s vítimas da Unita, tal a cegueira político-ideológica…ou a submissão aos mandarins da NATO. Está ainda por fazer a história dessas páginas vergonhosa­s da diplomacia portuguesa que apoiada nos partidos do arco do poder recebia como Jonas Savimbi como um chefe de Estado, o mesmo que tinha, nas suas cadeias, portuguese­s raptados por irem trabalhar para Angola. Foram-se mudando os tempos e Angola foi mudando o seu azimute. Dei- xou o nome de origem e passou a ser uma República. Mas à medida que o tempo foi passando a República de Angola começou a parecer mais com um reino de interesses. A guinada que o mundo deu para fazer valer os negócios acima de tudo o que exista no planeta, em linguagem conhecida da segunda guerra mundial negócios über alles, os dirigentes angolanos estenderam o tapete vermelho aos grandes oficiantes dos negócios. Foi um encontro de vontades que teve naturalmen­te reflexos em Portugal. Depois de Angola passar a ser considerad­a no mundo globalizad­o e bem aberta à finança mundial chegou a hora dos indígenas nacionais correrem para Angola em busca de negócios. Para tanto não lhes foi nada estranho terem encontrado um eco clamorosos do lado de quem tem a economia nas mãos. Para Portugal quanto mais negócios se fizerem com Angola melhor é, desde que sejam reciprocam­ente vantajosos, e possam resistir às agruras dos tempos que estão em permanente­s mudanças. O problema aparece quando de um lado são quase sempre os mesmos e do outro a mesma coisa. Investimen­tos angolanos em Portugal são segurament­e bem-vindos, e é de presumir que os investidor­es portuguese­s o sejam em Angola. O que aconteceu no Congresso do MPLA que levou a Luanda PCP,PS, PPD, CDS e o Paulinho das feiras, o porta-voz dos combatente­s do ultramar português, o paladino contra a descoloniz­ação criminosa, agora homem de negócios e amigo do MPLA, vai entroncar nessa viragem de Angola em direção ao mundo financeiro. O MPLA é um partido, não é um Estado. Um partido tem uma ideologia. A do MPLA filiado na IS deveria ser a social-democracia, a qual não é pertença de um conjunto de famílias ou amigos, mas sim um conjunto de valores políticos para gerir um país. Quem vai a um congresso de um partido sabe que é assim. Portanto quando o MPLA convida o o PS, seu parceiro da IS, o CDS e o PSD está dar um sinal que em Portugal o MPLA( não o Estado) quer ter relações com todos desde o CDS, desde o Paulo Portas até ao PCP, menos o BE. É um pouco chocante uma tal postura que é simultanea­mente um sinal de como o MPLA se vê na si- tuação angolana. Angola tem de ser respeitada enquanto país soberano. Mas uma coisa é um país outra coisa são os congressos de um partido, mesmo os do MPLA. O caminho angolano a fazer é dos angolanos e das suas opções. As alavancas da economia estão nas mãos de meia dúzia de famílias com particular relevância na família Santos. É também um assunto angolano que aos angolanos diz respeito, devendo sobre essa matéria tão relevante poder opinar e agir em função das opiniões por mais agreste que sejam. No fundo trata-se de discutir o futuro do país da rainha Ginga, a fundadora do reino de Angola e de Agostinho Neto, arquiteto da independên­cia. A criação de uma burguesia nacional a partir do aparelho de Estado não é novidade. Apesar disso pode ser feita com o mínimo de tolerância em relação a outros setores da população ou usando a repressão quando surgem opiniões diferentes. Um caminho de confronto com setores da intelectua­lidade e outras camadas mais esclarecid­as da população não augura nada de bom. Os elogios do CDS, do PSD, de Paulo Portas dão que pensar. A austeridad­e irmana-os? Serão os negócios? Mas que negócios? O percurso foi longo para se encontrare­m – da Angola da Jamba à Angola de todos os Santos.

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