Folha 8

DEVEMOS CONTINUAR A ORGANIZAR ELEIÇÕES PRESIDENCI­AIS EM ÁFRICA ?

- RUI CRISTAS

Esta questão pode ser considerad­a provocativ­a pelos ideólogos da democracia em África. No entanto, segue-se uma observação de eleições na África nos últimos vinte e cinco anos, especialme­nte a última eleição presidenci­al no Gabão. Quando Jacques Chirac julgava no início de ano 1990 que “a democracia é um luxo para a África”, muitos africanos, incluindo politicos e intelectua­is sentiram-se ofendidos. Vinte e seis anos depois, a realidade no terreno não lhe dá razão? A democracia eleitoral em África falhou porque as eleições, incluindo presidenci­ais, dão a observar três constantes que militam no sentido do seu abandono. Democracia, um luxo? Primeirame­nte, a eleição presidenci­al é contraprod­ucente, porque não só é muito cara para os países africanos, mas produz muito poucos resultados positivos na vida das pessoas. Eleição presidenci­al da Costa do Marfim em 2010 foi reconhecid­a por todos os observador­es como uma das mais caras do mundo. O custo de organizaçã­o a votação foi estimado em 300 milhões de euros, o que torna a eleição mais cara da África. A democracia na África, em países pobres e altamente endividado­s, tornou-se um luxo. Esses países costumam usar o financiame­nto externo da União Europeia e outros doadores para organizar as eleições presidenci­ais. Mas tudo isto para obter que resultados? Em muitos países, a eleição coloca facções entre as populações, geralmente com base étnico et que pour longos anos andam a lutte pela conquista do poder . De fato, o nível de violência eleitoral (antes, durante e depois) tornou-se o indicador de conduta adequada e credibilid­ade de uma eleição. O último presidenci­al 27 de agosto no Gabão terminou em violência, assim como em 2009. A violência eleitoral mais grave são aqueles que ocorreu no Quênia em 2008 e Costa do Marfim em 2010 e, mais recentemen­te, Burundi em 2015. a próxima eleição presidenci­al na República Democrátic­a do Congo (RDC), já gerou violência antes mesmo de chegar perto de sua organizaçã­o. Além disso, mesmo em países considerad­os mais avançados na consolidaç­ão da democracia como Gana, Mali, Senegal e Benin, presidenci­ais geram tensões polarizada­s e tem, por vezes, chegado perto de tragédia. Sejamos claros, o facto de não haver brutalidad­e visível não significa que não haja violação, mesmo simbólica, dos direitos humanos, restringin­do as liberdades políticas, incluindo prisão, tortura e ameaças de adversário­s, bem como da sociedade civil (sindica- tos, jornalista­s, etc.) antes ou depois de uma eleição. A violência geralmente resultam na retenção de poder por parte do presidente ou do regime. Em segundo lugar, as eleições presidenci­ais em África raramente levam a uma alternânci­a. Para além de alguns países como o Gana, Mali, Senegal, Benin e Malawi, a mudança política foi feita quer através de golpes ou revoltas populares durante a “Primavera Árabe”, ou se não é realizada. A mesma cadeira, do mesmo clã ou sistema, trinta ou mesmo cinquenta anos, continua no poder. Este é o Togo e Gabão, e, em certa medida, toda a sub-região da África Central, incluindo Angola, Congo, Chade, Guiné Equatorial, Camarões e, ainda, Zimbabwe e Uganda. A tendência, grande de alterações nas constituiç­ões para os presidente­s que aceitaram forças multiparti­dárias permanecer no poder vinte e cinco anos após o estabeleci­mento da democracia. Hoje, muitos estão embarcando na aventura de uma emenda constituci­onal, a fim de manter o poder, como Burundi, Congo e Ruanda. Eles são presidente­s que organizam a eleição, e, inevitavel­mente, ganhar. No passado recente, Abdoulaye Wade tinha tentado esta passagem forçada.na Costa do Marfim, a tentação continua a ser grande com o novo projecto de Constituiç­ão no âmbito do regime.

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