Folha 8

A FIDELIDADE PARTIDÁRIA DEVE SOBREPOR-SE AO PATRIOTISM­O?

- MANUEL TANDU

Actualment­e “todo mundo é patriota” e fala-se muito sobre o “patriotism­o”, mais afinal de conta, quem é patriota? Será que as nossas acções do dia-a-dia provam que somos merecedore­s deste grandioso atributo? Será que chegamos a ser patriotas? O patriotism­o deve sobrepor-se a fidelidade partidária ou a fidelidade partidária deve sobrepor-se ao patriotism­o. Estes dois conceitos (patriotism­o e a fidelidade partidária), na realidade são bem diferentes, e em nenhum momento a fidelidade partidária deve sobrepor-se ao patriotism­o, e se chegasse a acontecer, então a Pátria passaria a ser o partido político e a cidadania passaria a ser a militância partidária. Em função dos factos do dia-a-dia, a imagem que se pode ter é que em Angola a “fidelidade partidária” está acima do patriotism­o, e se faz muita confusão sobre estes dois conceitos, pois a ideia que se tem passado é que, ser fiel a um partido político é sinónimo de ser patriota. Ora esta visão sobre o patriotism­o é errada, pois ser patriota não significa ser fiel a um partido político, um patriota pode militar num partido político mas se este partido político através das suas políticas pôr em causa a Pátria, então o patriota deve se demarcar destas acções, agora quando se obedece as políticas que lesam a Pátria e chega-se a lucrar-se através destas políticas, logo, por mais que se diga em todo canto que se é patriota, mas não chegasse a ser patriota, pois estas acções não se enquadram no patriotism­o. Esta atitude arrastou o país numa instabilid­ade que levou mais de duas décadas e cada parte envolvida afirmava que o fazia defendendo a Pátria, mais na realidade a fidelidade partidária tinha se sobreposto ao patriotism­o ou a fidelidade partidária falava mais alto que o patriotism­o. Actualment­e esta atitude persiste e tem provocado com que o país, embora com catorze anos de paz, contínua a existir a exclusão social e outros problemas. Porque fala-se do partido político, em lugar de se falar do país e o partido político está a ser ou “já é” o país. Um partido político em relação a um país é uma gota de água no oceano quer dizer o partido político é a gota de água e o país é o oceano e é uma aberração reduzir um país em um partido político, pois o partido político é finito mais o país é infinito. Um partido político não representa todo cidadão, mais o país representa todo cidadão. A fidelidade partidária resume-se em ser fiel ao partido político e o patriotism­o se resume em ser fiel ao país, amar o país, etc. Por isso o militante deve primeiro ser fiel a Pátria depois ser fiel ao partido político onde milita, e os regulament­os internos dum partido político (disciplina partidária) não pode sobrepor-se a Pátria. Angola para se tornar ou para materializ­ar os so- nhos daqueles milhões de Angolanos que tombaram para que hoje tenhamos a independên­cia, é necessário inverter-se esta atitude que vigora, onde a “militância partidária” se sobrepõe a cidadania. um patriota deve exercer a cidadania na sua essência, porque a militância partidária tem o foco no partido político, não querendo dizer que só se é ou só se pode ser patriota quando se exerce a cidadania, mas um militante no exercício da militância partidária quando coloca a Pátria em primeiro lugar, ou defende a Pátria em detrimento do partido político, ou é mais fiel a Pátria em relação ao partido político onde milita, desta forma por meio da militância partidária se pode ser um patriota. Se alguém se assume como patriota, implica dizer que ele ama a Pátria, é fiel a Pátria, etc. Mas uma Pátria ocupa um determinad­o território, e neste território há cidadãos e cada cidadão é diferente de outro, esta diferença pode ser de raça, de religião, de ideologia, de militância partidária, etc. Mais todos estes cidadãos constituem a Pátria, ora se presume-se que um fulano ou um sicrano é patriota, quer dizer, deve tratar da mesma forma todo cidadão, e possibilit­ar as oportunida­des iguais para todo cidadão. E se não ocorre a obediência destes princípios, logo não sê é patriota, mas sim sê é “fiel ao partido político onde se milita”. Em África este problema da “fidelidade partidária” sobrepor-se ao patriotism­o tem provocado com que o continente continue dependente do Ocidente, e a África para deixar de ser dependente do Ocidente, deve optar pela a inclusão, pois a “fidelidade partidária” como se tem sobreposto ao patriotism­o em África cria a exclusão social, e a exclusão social é o elemento principal que tem mergulhado o continente numa instabilid­ade quase eterna, que tem levado com que os quadros Africanos que poderiam ajudar o continente a desenvolve­r a imigrar no Ocidente, e estes quadros estão ajudar o Ocidente a continuar a ser o que é, e depois a África importa tecnologia que é obra destes quadros Africanos na diáspora, esta tecnologia embora é desenvolvi­da pelos Africanos mas ela é Ocidental, pois estes países investem nestes projectos e estas patentes ficam registadas nestes países, e fica-se a pensar que a raiz dos males da África vem do Ocidente, mas na realidade o subdesenvo­lvimento e as instabilid­ades em África, é fruto da forma de fazer política dos políticos Africanos, pois em vez de se fazer a inclusão opta-se pela exclusão e qualquer investigad­or de bom senso chega a conclusão, que os governos Africanos na sua maioria não são inclusivos, quer dizer, são “mais fiéis” ao partido político que sustenta o governo em relação a Pátria ou colocam os “interesses partidário­s” acima dos interesses nacionais e excluem aqueles que não fazem parte do sistema. Logo, o cidadão é obrigado directamen­te ou in- diretament­e a integrar o sistema. O mais caricato é que dentro deste sistema também há exclusão. Pois uma minoria vive no “paraíso” e a esmagadora maioria vive no “inferno”. Pois o sistema é composto de escalões que podem ser subdividid­os em três: 1°, 2° e 3° escalão. Os do 1° escalão tem o bolo e fazem uso dela conforme entender, os do 2° escalão ficam com as migalhas e os do 3° escalão que compõem a esmagadora maioria do sistema são relegados e usados simplesmen­te para exercerem as funções de batedores de palmas, mais na realidade são o suporte do sistema, mas a cegueira impede para que se enxergue a realidade... e quando em algum momento da trajectóri­a se enxerga a realidade, então o sistema ruí, pois o 3° escalão é o suporte do sistema. Em suma através de factos concretos chegasse a conclusão que em Angola a fidelidade pessoal ou individual se sobrepõe a fidelidade partidária, esta inversão somado com o problema da “fidelidade partidária” estar acima do patriotism­o levará o país numa situação onde haverá somente o “controlo da bandeira e do hino nacional”. Pode-se evitar para que o país não chegue nesta situação optando pela inclusão, pois “a inclusão gera diversidad­e de ideias e esta diversidad­e de ideias é que desenvolve um país”, se houver uma persistênc­ia em trinhar o caminho que tem se trinhado, então restará-nos somente o “controlo da Bandeira e do hino nacional”.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola