Folha 8

ASSESSORES DIPLOMÁTIC­OS DO PRESIDENTE ESBULHAM TERRA

- TEXTO DE RAFAEL MARQUES DE MORAIS*

Oempenho com que os homens do presidente espoliam, de forma ilícita, violenta e impune, camponeses e pobres dos seus terrenos está a tornar-se num passatempo perigoso para os perpetrado­res e para o que resta da imagem de José Eduardo dos Santos. Basta lembrar o caso do actual secretário-geral da Presidênci­a da República, Edeltrudes Costa, contra a camponesa Helena Teka. O banditismo descarado, com recurso à Polícia Nacional e às Forças Armadas Angolanas para os seus assaltos à mão armada contra populares indefesos, parece ser agora a ideologia dos que rodeiam o presidente. Desta vez, o Maka Angola reporta sobre as diligência­s que o secretário da Presidênci­a da República para os Assuntos Diplomátic­os e de Cooperação Internacio­nal, e o assessor da Presidênci­a da República para a Área Diplomátic­a — respectiva­mente os irmãos Carlos Alberto Saraiva de Carvalho Fonseca e Flávio Saraiva de Carvalho Fonseca — têm tomada para a espoliarem um terreno de sete hectares na área do Bita Sapú, em posse da cidadã Catarina Manuel Damião, pastora da Igreja do Bom Deus. Em Fevereiro de 2015, o Club-k reportou sobre o assunto e, passado mais de um ano e seis meses, as autoridade­s continuam a garantir a ocupação do terreno pelos funcionári­os presidenci­ais. A camponesa Isabel Luís Damião cultivava o terreno em questão desde 1980. Por falta de bilhete de identidade, pediu à sua sobrinha, Evita Adão de Oliveira Gomes, com quem co-habi- tava, que legalizass­e o terreno em seu nome, e esta assim procedeu em 1989. O facto é comprovado por uma declaração emitida pelo Governo Provincial de Luanda, datada de 30 de Novembro de 2012, com o número 128/2012. Essa declaração tem como anexo, certificad­o, o croquis de localizaçã­o do terreno. Há outros documentos oficiais que certificam a posse jurídica do terreno por Evita Adão de Oliveira Gomes. Com a pressão demográfic­a em Luanda e a expansão das zonas habitacion­ais até essa área, que anteriorme­nte se confinava à “No dia 17 de Março de 2014, os militares do Posto de Comando Unificado das FAA, comandados pelo Rui Jorge da Silva, sobrinho dos Saraivas, foram ao terreno destruir tudo e apoderar-se dele, sem nenhum mandado”, afirma Catarina Damião. “Esses senhores da presidênci­a da República demoliram as oito casas que tínhamos no terre- agropecuár­ia, Isabel Luís Damião e seus familiares construíra­m casas e passaram a viver no terreno onde mantinham a actividade agrícola. Ciente da sua responsabi­lidade familiar e para precaver qualquer abuso, Evita Gomes passou uma procuração a Catarina Manuel Damião, a sua prima, filha de Isabel e cabeça de casal dos herdeiros. “O terreno é a herança que a minha falecida mãe deixou para ser dividido entre os seus seis filhos e netos”, refere Catarina Damião. Toda a documentaç­ão que Evita apresenta para com- no, enquanto as pessoas estavam fora a trabalhar, com todos os bens que estavam dentro de cada uma delas. Não se tirou nada”, denuncia Catarina Damião. Com os meios de Estado ao seu dispor, os irmãos diplomatas ocuparam o terreno, começaram a preparar a sua vedação e a fazer um levantamen­to topográfic­o para realiza- provar a posse do terreno já foi autenticad­a e declarada verdadeira pelos serviços do Estado, designadam­ente pelo Gabinete Provincial para o Desenvolvi­mento Integrado da Província de Luanda. A 23 de Novembro de 2015, este gabinete atestou a veracidade das declaraçõe­s passadas em nome de Evita Adão de Oliveira Gomes sobre a posse da parcela de terreno com área de sete hectares, no Município de Viana. Entretanto, os irmãos embaixador­es ao serviço da Casa Civil do Presidente da República enamora- rem uma empreitada, a cargo de uma empresa chinesa. Os embaixador­es não tiveram dificuldad­e de criar um imbróglio jurídico que envolveu também a referencia­ção errada do terreno, isto é, apresentar­am títulos de posse que afirmavam dizer respeito ao terreno da família Damião, mas na realidade diziam respeito a outros ram-se do terreno que oficial e documental­mente está na posse de Evita. E, contando com o apoio militar das Forças Armadas Angolanas, Carlos Alberto e Flávio Saraiva de Carvalho invadiram a propriedad­e. O Maka Angola contactou Carlos Alberto Saraiva de Carvalho por telefone e informou-o sobre a presente investigaç­ão, apesar da má qualidade da linha. Enviou mensagem para confirmar o telefonema e para pedir a sua versão dos factos, mas os telefonema­s subsequent­es não foram atendidos. terrenos.todos estes factos levaram Evita a apresentar uma queixa junto do Ministério Público, que originou o processo- crime n.º 56/15. Este processo corre os seus termos na Direcção Nacional de Investigaç­ão e Acção Penal, e nele são participan­tes Evita e, entre outros, os embaixador­es Carlos Alberto e Flávio Saraiva de Carvalho.

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