Folha 8

ZENÚ: A CORRUPÇÃO MATA

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Os factos que comprovam a corrupção gigante praticada pelos dirigentes angolanos sucedem-se a uma tal velocidade, que estes já nem conseguem desmenti-los, apenas se remetendo ao silêncio. Sabem que dentro de pouco tempo estarão a ser julgados nos tribunais criminais nacionais ou estrangeir­os pelos seus desmandos. O último caso foi denunciado no Maka Angola, e demonstra como um dos filhos do presidente, José Filomeno dos Santos “Zenú”, e o seu parceiro de negócios Jean-claude Bastos de Morais conseguira­m transforma­r a construção do Porto do Caio — aquele que seria o primeiro porto de águas profundas em Angola — em mais uma negociata suja de mais de 800 milhões de dólares, em que o Estado paga e eles recebem. O nível de corrupção em Angola, pelo seu gigantismo, tornou-se o principal obstáculo ao desenvolvi­mento e a primordial causa de pobreza e morte no país. É fácil perceber porquê. Os recursos de um país são sempre limitados. A boa utilização desses recursos chama-se economia. Em determinad­o momento, um país tem uma quantidade fixa de recursos que vai aplicar. É dessa aplicação de recursos que pode resultar o desenvolvi­mento ou a morte. Um país pode decidir aplicar todos os seus recursos na indústria pesada e militar e deixar morrer as populações, como fez Estaline nos anos 1930 na União Soviética. Um país pode decidir criar um Estado social generoso e eficaz, como fez a Inglaterra após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), diminuindo as suas Forças Armadas. O que um país não pode é tornar os seus recursos elásticos. Se põe num lado, tira do outro. Vejamos o caso de Angola. Imaginemos que a riqueza que o país produz num ano é igual a 100. É desses 100 que sai todo o dinheiro. Se os 100 são aplicados em escolas, hospitais, educação, estradas, Angola desenvolve-se, e as pessoas vivem melhor. Se os 100 são aplicados em corrupção, em negociatas, em esquemas, então não há dinheiro para hospitais ou escolas, e o país definha. A questão é onde aplicar os 100. Em hospitais ou em corrupção? É que não dá para os dois. Em Angola, a resposta tem sido aplicar em corrupção. Portanto, a corrupção não é inocente. A corrupção mata. Onde há corrupção gigante como em Angola, o dinheiro para os hospitais, medicament­os, etc. é desviado para os bolsos dos corruptos. Vejam-se as sucessivas crises de saúde por que Angola tem passado. A crise da febre-amarela foi um desastre nacional; a campanha contra a malária tem de ser financiada pelos EUA, uma vez que a Cruz Vermelha de Angola, presidida por Isabel dos Santos, apenas organiza festas com estrelas pop, sem qualquer resultado útil. A OMS (Organizaçã­o Mundial de Saúde) fez recentemen­te eco das declaraçõe­s do ministro da Saúde, segundo o qual “Angola tem sido um país vulnerável a epidemias, registando surtos que criam uma sobrecarga nos serviços de saúde e compromete­m a saúde e a vida dos cidadãos, como a febre-amarela, a malária, a cólera, o zika e o VIH/ Sida”.

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