Folha 8

PENALIZAÇíO DO ABORTO

MANIFESTAÇ­ÃO DAS MULHERES FORÇA O MPLA A ADIAR APROVAÇÃO DO NOVO CÓDIGO PENAL

-

Os protestos contra a proibição em absoluto do aborto, prevista no projecto de Lei do novo Código Penal, produziram eco junto da bancada parlamenta­r do MPLA, que adiou a aprovação final global do texto, para “ouvir um pouco mais as pessoas”. A decisão surgiu após um grupo de mulheres, denominado Ondjango Fem- inista, tomou a dianteira na luta contra o texto em debate e, além de outras iniciativa­s, marcando para 18.03.2017, a “Marcha das Mulheres pela Despenaliz­ação do Aborto”, que partirá do Cemitério da Santa Ana ao Largo das Heroínas, em Luanda. Juntou-se às vozes contestatá­rias, a empresária Isabel dos Santos, que assumiu, na rede social Instagram, a sua oposição à penalizaçã­o da interrupçã­o voluntária da gravidez, que comparou à “criminaliz­ação das mulheres”. Depois de ter declarado que “o princípio geral daquilo que é a política do Estado em relação ao aborto está consagrado no futuro Código Penal”, o líder da bancada parlamenta­r do MPLA, Virgílio de Fontes Pereira, reconheceu a necessidad­e de alargar “um pouco mais a discussão sobre determinad­as questões que estão inseridos na proposta”, tendo em conta a con- testação gerada à volta do texto, nomeadamen­te nas redes sociais. “Falta ouvir um pouco mais as pessoas”, assumiu o deputado à saída de uma reunião do grupo parlamenta­r do MPLA, para acerto dos temas que serão discutidos na próxima reunião plenária da Assembleia Nacional, marcada para a próxima semana. Segundo Virgílio de Fontes Pereira, a aprovação final do novo Código Penal, que estava incluída na agenda, foi retirada dos trabalhos “até que estejam criadas condições” para que a matéria volte a ser abordada em sede parlamenta­r. “Apesar de todo o grande esforço que o Executivo fez, promovendo acções de auscultaçã­o, ouvindo organizaçõ­es da sociedade civil, em algumas questões específica­s, incluindo também as excepções à criminaliz­ação do aborto, se calhar é preciso ouvir um pouco mais outros actores sociais”, admitiu o

responsáve­l, determinad­o em “não precipitar a abordagem” quando ainda é possível fazer pontes. A posição do MPLA surge depois de a empresária Isabel dos Santos ter mediatizad­o a discussão, ao partilhar na sua conta do Instagram um “manifesto” da advogada Ana Paula Godinho, que considera um retrocesso a eliminação dos artigos sobre “o aborto não punível” no projecto de lei do novo Código Penal - que permitiam a interrupçã­o voluntária da gravidez nos casos de malformaçõ­es do feto, violação ou em situações que colocassem a vida da mulher em risco. O “congelamen­to” da aprovação do novo Código vai ao encontro não apenas do repto de Isabel dos Santos, mas de várias angolanas, que convocaram mesmo uma marcha contra a criminaliz­ação do aborto em absoluto, agendada para sábado, 18 de Março. Aliás, mulheres de vários estratos da sociedade pediram, durante um encontro promovido pelo Grupo de Mulheres Parlamenta­res da Assembleia Nacional, o aprofundam­ento das discussões à volta do aborto. Já a igreja católica lamentou a “banalizaçã­o” com que a questão do aborto está a ser abordada. “Nós, como igreja, lamentamos que o assunto vida seja banalizado desta maneira, porque a vida é um valor absoluto, um valor inalienáve­l, um valor que não passa sobre as mesas de negociaçõe­s”, referiu o porta-voz da Conferênci­a Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Manuel Imbamba. Com VOA

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola