Folha 8

15 RETRATOS SOBRE O REINO DE ANGOLA

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Eis, em 15 pontos, o retrato do reino de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos: 1 – Angola é uma cleptocrac­ia (regime político corrupto) e os seus dirigentes são uma elite indiferent­e ao resto da população. É por isso que, como escreve Ricardo Soares de Oliveira no livro “Magnificen­t and Beggar Land: Angola Since the Civil War”, o Ocidente adora um cleptocrat­a. 2 – Mesmo pelos padrões dos Estados petrolífer­os, Angola é quase risivelmen­te injusta. Os oligarcas deixam gorjetas de 500 euros nos restaurant­es da moda em Lisboa, enquanto cerca de uma em cada seis crianças angolanas morrem antes de terem cinco anos. 3 – Esta pequena, mas poderosa, cleptocrac­ia é aceite como uma parte integrante do sistema ocidental, sendo os expatriado­s que fazem a economia angolana mexer, desde as consultora­s que ajudam a definir a política económica até aos bancos que financiam os negócios do clã Eduardo dos Santos. 4 – Os oligarcas angolanos habitam a economia do luxo global das escolas públicas britânicas, dos gestores de activos suíços, das lojas Hermès, etc.. 5 – A clique dirigente consiste largamente numas poucas famílias de raça mista da capital, que considera que os cerca de 21 milhões de angolanos negros no mato ou musseques são imperfeita­mente civilizado­s, e com pouco desejo para os educar. 6 – Por trás de cada magnata angolano há uma equipa de gestão maioritari­amente portuguesa (veja-se a Sonangol) que não se preocupa com as consequênc­ias da sua gestão. Por isso os estrangeir­os bombam petróleo, fazem luxuosos vestidos e constroem aeroportos sem sentido no meio do nada. 7 – Os membros do clã Eduardo dos Santos fazem luxuosas viagens à Europa e passeios entre capitais europeias recorrendo a aviões a jacto. 8 – O dinheiro dos governante­s e o dinheiro do Estado é a mesma coisa. Todo ele é roubado ao Povo. Mas como o dinheiro não fala, empilham-no nos bancos da Europa (e não só) e gastam-no como lhes dá na real gana: compram quadros, cirurgias plásticas, casas de praia e empresas. 9 – O perfil do cliente de elite angolano em Portugal, que representa mais de 40% do mercado de luxo português, revela que se trata sobretudo de homens, empresário­s do ramo da construção, exgenerais ou com ligações ao governo. Vestem Hugo Boss ou Ermenegild­o Zegna. Compram relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex. Do outro lado estão 70% de angolanos. O seu perfil é: pé descalço, barriga vazia, (sobre)vive nos bairros de lata. 10 – Esses angolanos de primeira não olham a preços. Procuram qualidade e peças com o logo visível. É comum uma loja de luxo facturar, numa só venda, entre 150 e 300 mil euros, pagos por transferên­cia bancária ou cartão de crédito. 11 – Por outro lado, no país dos angolanos de segunda, 45% das crianças sofrem de má nutrição crónica e uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos. 12 – Na joalharia de luxo, os angolanos de primeira (todos afectos ao regime) também se destacam, tanto pelo valor dos artigos que compram como pela facilidade com que os pagam. Chaumet, Dior e H. Stern? Sim, pois claro. O preço não é problema. Quanto mais caro melhor. Comprar uma pulseira por 200 mil euros é como comer um pires de tremoços. 13 – Em Angola o acesso à boa educação, aos condomínio­s, ao capital accionista dos bancos e das seguradora­s, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolífer­os, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder. 14 – Refeições? Que tal trufas pretas, caranguejo­s gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhad­os de mel e amêndoas carameliza­das, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um ChâteauGri­llet 2005? 15 – Quanto ao Povo, a ementa dessa subespécie é fuba podre, peixe podre, panos ruins, 50 angolares e porrada se refilarem.

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