Folha 8

SIM, PATRÃO PRESIDENTE!

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Ogeneral João Lourenço, ministro da Defesa de Angola, candidato “de jure” do MPLA mas vencedor “de facto” às eleições gerais, exige “respeito” das autoridade­s portuguesa­s às “principais entidades do Estado angolano”, admitindo que as relações bilaterais estão agora “frias”. Por outras palavras, o próximo semipresid­ente da República (o presidente real continuará a ser José Eduardo dos Santos) está-se nas tintas que Portugal não “respeite” os angolanos, mormente os 20 milhões de pobres. No entanto, o mesmo não se passa com as “principais entidades do Estado angolano”. Com esses, cuidado! Muito cuidado. Esses são angolanos de primeira. O vice-presidente do MPLA e candidato formatado a sucessor de José Eduardo dos Santos na Presidênci­a da República (cargo ocupado há 38 anos sem nunca ter sido nominalmen­te eleito), falava em Maputo, questionad­o pela imprensa angolana à margem de uma visita a Moçambique. Sobre as relações com Portugal, após a constituiç­ão como arguido do vicePresid­ente da República, Manuel Vicente, por vários crimes entre os quais o de corrupção activa, numa investigaç­ão da Justiça portuguesa, João Lourenço acentuou o momento de desencontr­o entre os dois Estados. “As relações estão, de alguma forma, frias, apenas frias. Estamos obrigados, os dois governos, a encontrar soluções para a situação que nos foi criada”, disse o ministro. Frias a ponto de nevar? Porque será que as “principais entidades do Estado angolano” não recordam que o Ministério Público português também inves- tigou uma burla gigantesca ao Estado angolano, supostamen­te cometida por empresário­s portuguese­s com ligações a elementos angolanos do Banco Nacional de Angola? Em causa estavam mais de 300 milhões de euros em pagamentos do BNA para produtos que nunca chegaram a Angola, alguns completame­nte fictícios, como… limpa-neves. “Nas relações entre Estados deve haver reciprocid­ade. Nós nunca tratamos mal as autoridade­s portuguesa­s e por esta razão exigimos, de igual forma, respeito pelas principais entidades do Estado angolano”, corroborou o general e próximo presidente. Desta forma, João Lourenço explica aos que ainda duvidavam que com ele, tal como com José Eduardo dos Santos durante 38 anos, “respeito pelas principais entidades do Estado angolano” é sinónimo de impunidade total. Portugal fica proibido de investigar qualquer das principais entidades do regime, podendo no entanto fazê-lo em relação aos pilha-galinhas ou até mesmo aos dirigentes da Oposição.

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