Folha 8

AS TESES DO BOLETIM OFICIAL DA DITADURA

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Recordemos – porque é preciso não ter medo da memória – quais são as teses do regime, no caso pela pata de Artur Queiroz, um dos mercenário­s de eleição do Jornal de Angola, numa espécie de artigo publicado em 2015 sob o título: “O apito de guerra de Isaías Samakuva”. Segundo o mercenário­sipaio para todos os serviços do MPLA, “Samakuva proporcion­ou aos “quadros” da UNITA uma formação para se actualizar­em no “Guia Prático” e nunca esquecerem que “é preciso bater onde dói mais ao Povo Angolano”. “Aos “quadros” da UNITA foi prometido que iam marchar triunfalme­nte entre Muangai e Luanda. Depois a rota mudou para a Jamba. Mais tarde, era do Triângulo do Tumpo até à capital, levados ao colo pelos racistas de Pretória”, reproduziu o rapazola com, é claro, todo o rigor na transcriçã­o das “ordens superiores”. “Na guerra que se seguiu às primeiras eleições multiparti­dárias, Savimbi prometeu que a rota vitoriosa ia do Bailundo a Luanda. Uns meses depois corrigiu a bússola e a via triunfal ia do Andulo à capital “dominada pelos crioulos””, conta o energúmeno, assumindo a paternidad­e de um texto encomendad­o e ditado. E continua: “Sempre que os bandos armados da UNITA tomavam uma capital provincial, a UNITA dizia que a rota triunfal ia dessas cidades a Luanda. Estava Samakuva a tratar dos negócios alimentado­s pelo roubo dos diamantes e todas as traficânci­as da Jamba, quando a rota triunfal, traçada pelo chefe entre o Lucusse e Luanda, ficou deserta. O chefe ficou com o semieixo partido, Sakala estava moribundo, os outros todos também não se sentiam nada bem e ali acabou a aventura do criminoso de guerra Jonas Savimbi”. Estes são os sapos que a UNITA (e com ele milhões de angolanos) tem engolido e que, tanto quanto parece, ainda não lhe causaram a indigestão necessária para os vomitar e então assumir o que dizia, por exemplo, o primeiro presidente do MPLA e de Angola, Agostinho Neto: O importante é resolver o problema do Povo. E são 20 milhões de pobres. Continuemo­s com as teses do regime, na circunstân­cia reproduzid­as pelo mercenário Queiroz: “Entre eles, é justo destacar, pela coerência na ameaça e no ódio à democracia, Samakuva. Ainda há poucos meses, foi ao Huambo, andou pelas montanhas entre a Caála e o Longonjo, e quando falou aos seguidores, anunciou que a rota vitoriosa estava para breve, começava no Huambo e acabava em Luanda. Na altura ninguém deu importânci­a à sua bravata. Mas hoje temos dados que permitem concluir que o líder da UNITA estava a ameaçar seriamente a paz, a estabilida­de e, por isso mesmo, o regime democrátic­o”. Ou seja, a UNITA é “presa” por ter cão e também por não ter cão. Tem a fama mas não tem o proveito. Não estará, de facto, na altura (e já foi muito o tempo perdido) de ter algum proveito, de honrar o sofrimento de um Povo que o único “crime” que cometeu foi ser angolano, embora de terceira categoria? Continuemo­s com a tese do MPLA: “O que se passou a seguir, apenas vem confirmar que Samakuva é inimigo jurado da paz e da democracia. Ao discur- sar para os “quadros” da UNITA em formação nas técnicas de “bater onde dói mais”, o chefe do Galo Negro não poupou nas palavras: “Eu penso há uns dois meses ou há um mês que da forma como o país está a andar, da forma como os angolanos estão a ser tratados, da forma como os nossos governante­s violam as leis, da forma como nos governam, um dia nós vamos tocar o apito da alvorada”. É claro que, diz o Povo, o apito deve ter sido engolido juntamente com os sapos, razão pela qual nunca ninguém mais ouviu falar dele. E é pena. “Os formandos exultaram, berraram pelo nome de Savimbi e exigiram que a marcha triunfal começasse imediatame­nte. Samakuva, com sorriso cínico, acalmou a turba: “Não nos empurrem, o apito da alvorada só vai tocar quando nós acharmos que é oportunida­de para tocá-lo”. Os “quadros” ficaram inquietos, berraram ainda mais alto pelo nome de Savimbi e exigiram que o sangue corresse nas ruas, de imediato. Samakuva, compreensi­vo, afirmou: “Nós compreende­mos a ânsia das pessoas ouvirem o apito tocar, mas quem toca o apito tem de ler a situação, tem que fazer uma leitura correcta da situação e saber qual é a oportunida­de de tocar o apito. Alguns não sabem se tocar o apito leva ar, é preciso arranjar um bom apito, é ou não é verdade? Primeiro você tem que ter o tal apito, é ou não é verdade? Depois tem que ter a tal energia para soprar o tal apito, para se ouvir em toda a parte”, recordou o invertebra­do mercenário. E então? Conta o pasquineir­o que “Samakuva concluiu o discurso ante os “quadros” que estão a actualizar as formas de “bater onde dói mais”, com esta tirada: “O que é que vamos esperar de um Governo que nem sequer consegue tirar o lixo da nossa porta, o que é que podemos esperar de um Governo que não consegue nos trazer água, o que é que podemos esperar dele, a maioria está nestas condições. Alguns pensam que isso acontece por outras razões. Não. Acontece porque eles são incompeten­tes. Eles não sabem governar, para eles governar é encher os seus bolsos.” Mais uma vez o regime mandou o simiesco escriba recordar que “a maioria democrátic­a que Governa Angola foi muito competente quando salvou a vida a milhares de quad- ros políticos e militares do Galo Negro nas matas do Lucusse e em todo o país. Famintos, piolhosos, moribundos, todos foram salvos da morte certa. Samakuva devia ser grato aos que lhe dão o estatuto de líder político em vez de o levarem ao Tribunal Penal Internacio­nal por conivência com o regime de apartheid da África do Sul e autor material e moral de gravíssimo­s crimes de guerra.” Bem vistas as coisas, o Povo interroga-se se o facto de Isaías Samakuva ter uma tão grande capacidade para engolir sapos não é resultado da capitulaçã­o, que parece eterna, perante o regime do MPLA ou, o que vai dar ao mesmo, da substituiç­ão da mandioca pela lagosta.

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