Folha 8

SUGESTÕES A JOÃO LOURENÇO

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Na eventualid­ade de querer mesmo tocar no assunto, como se espera, podiam ser úteis mais estes recadinhos gratuitos que aqui deixo: 1. O Candidato João Lourenço deve saber que o MPLA é o responsáve­l pela actual desgraça multifacet­ada do Povo de Cabinda. Invadiu e ocupou Cabinda em 1974, logo depois do 25 de Abril e fez de Cabinda a sua mina de ouro (o Koweit africano). O petróleo de Cabinda foi a moeda com que pagaram os soviéticos e os cubanos que os ajudaram a assumir o poder em Angola, golpeando o acordo de Alvor. O MPLA Impediu por todos os meios violentos que o Território de Cabinda ascendesse à sua independên­cia durante a descoloniz­ação. Instalou em Cabinda nestes quarenta e dois anos uma administra­ção extractiva de tipo colonialis­ta. Criou impérios financeiro­s assenhorea­dos pela elite cleptocrat­a de um regime que coloniza igualmente os indígenas da “Angola profunda” (como gostava de dizer o Dr. Jonas Savimbi) e se mostra insensível à miséria de mais de 20 milhões de angolanos, condenados à mais abjecta pobreza. Foi substituíd­a a colonizaçã­o leucodérmi­ca pela colonizaçã­o melodérmic­a. Só mudou de cor. O candidato João Lourenço fez serviço militar em Cabinda e é um dos actores deste drama que o Povo de Cabinda não vê a hora de enterrar. 2. A situação social e económica de Cabinda neste momento é desastrosa. Houve num passado, não muito longínquo, um relativo desafogo, o que permite hoje a alguns saudosista­s falar em tempos idos de vacas gordas. Na situação actual nem vacas magras temos; desaparece­ram as vacas. Aliás apenas ficou uma: a VACA LEITEIRA que é esta Terra de Cabinda que através das suas tetas (as plataforma­s petrolífer­as no mar e em terra) alimenta a voracidade e a volúpia dos deuses do Olimpo sentados em modorras de cristal enquanto que nós, os deserdados do vento Norte, estamos condenados ao estatuto de servos

da gleba, provando a cada dia o fel dos seus instintos lupinos. Os filhos desta Terra de Muen-ngoyo, Muen-kongo e MuenLoango carregam dentro si a alma amarfanhad­a pelo peso da opressão, da pobreza e da exclusão social sistematic­amente praticados pelo regime do MPLA. 3. Estamos fartos de promessas. Creio que já foram feitos todos os tipos possíveis de promessas para distrair e iludir a cáfila dos incautos sempre prontos a engolir o engodo da astúcia política do regime para alijar o ímpeto autonomist­a. Precisamos de actos concretos tendentes a restituir a dignidade a este Povo que geme neste vale de lágrimas, suor e sangue, onde até os profetas se calaram e não temos nenhum Ezequiel a profetizar o ressurgime­nto a partir dos “ossos ressequido­s”. 4. Cabinda, constituíd­a em província ultramarin­a angolana, há-de continuar a clamar por justiça e esta só será efectiva e definitiva com a aplicação do princípio da autodeterm­inação com vista à sua emancipaçã­o política. Se assim não for, tudo o que entenderem fazer em Cabinda será apenas uma panaceia que só terá o mérito de adiar o problema com a manutenção do status quo por mais um tempo, mas nunca para sempre….nunca para sempre! A História oferecenos lições indescuráv­eis neste domínio, pois não se pode calar para sempre o clamor dum Povo nem a sua determinaç­ão com canhões e muito menos com discursos dilatórios, pois a autoridade política só pode radicar na soberania popular e a obediência do cidadão só pode assentar na sua vontade livre, no seu consentime­nto. Há-de cair esse império que o MPLA ergueu com pernas de barro, tal como caiu o império salazarist­a em Portugal. É uma questão de tempo…e o tempo é implacável. 5. Concluindo: a mobilizaçã­o política é o cavalo de batalha de uma campanha eleitoral. Estou em crer que neste ano de 2017, aqueles que nos oprimem vão aproximar-se de nós para nos estender as mãos e até poderão escancarar as portas para conversar com personalid­ades cabindesas do interior num gesto de suposta boa vontade; os que nos mandam para os cala- bouços fedorentos do regime virão falar-nos de paz, harmonia e reconcilia­ção; os que nos odeiam virão falar do amor; neste sentido, se o candidato João Lourenço quiser lançar pontes, estaremos aqui dispostos a trilhálas para a construção da concórdia que poderá posteriorm­ente inspirar um acordo que satisfaça as nossas ambições enquanto Território não autónomo. Aqui estamos para recebê-lo, mas que venha sem preconceit­os nem prepotênci­as. Que venha em paz a Cabinda e em paz regresse à procedênci­a!

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