Folha 8

SIM, MAS COM O (IN)DEVIDO CUIDADO

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O Fundo Petrolífer­o da Noruega, o maior fundo soberano do mundo, com 850 mil milhões de dólares, mantém planos de contingênc­ia para se proteger de eventos políticos extremos, servindo de exemplo (isso é que era bom!) para Angola. O departamen­to de gestão do banco central da Noruega, que gere o maior fundo soberano do mundo, explicou há um ano ao Financial Times (FT) que o fundo petrolífer­o “desenhou vários planos de contingênc­ia para cenários que podem representa­r uma ameaça para os activos do fundo”. Embora escusando-se a elaborar sobre estes planos, o FT afirma que este fundo está a prestar assistênci­a a outros fundos petrolífer­os a nível mundial sobre como proteger os activos, principalm­ente em caso de eventos políticos extremos como invasões ou golpes militares. Angola constituiu em 2012 um Fundo Soberano, dotando-o de 5 mil milhões de dólares e que é dirigido – mera coincidênc­ia, obviamente – por um dos filhos de José Eduardo dos Santos. A Líbia, um país em profunda crise política e militar está a servir de alerta para os gestores do fundo, porque há duas facções rivais que reclamam o controlo do Fundo que tem 66 mil milhões de dólares em activos. Países africanos

como Angola e o Zimbabué, que já detêm estes fundos, ou outros como Moçambique ou a Tanzânia, enfrentam grandes desafios políticos, comentou uma investigad­ora do departamen­to de políticas públicas na Universida­de de Oxford. “Preparar-se para um golpe de Estado e potencialm­ente perder a capacidade de gerir os activos é verdadeira­mente importante por causa do que se passou na Líbia nos últimos anos”, disse ao FT Angela Cummine, reconhecen­do que “há uma boa razão para os fundos soberanos instalarem os activos fora do seu país de origem” e que “existe uma óptima relação de trabalho destes fundos com as capitais financeira­s como Nova Iorque, Londres ou a Suíça”. Destacando particular­mente os fundos soberanos africanos como os mais problemáti­cos, Cummine exemplific­ou com o Zimbabué e Angola e lembrou que Moçambique e Tanzânia também já afirmaram querer estabelece­r um instrument­o financeiro semelhante para gerir a riqueza que virá da exploração dos recursos naturais. Recorde-se que o Fundo Soberano de Angola tinha perdido cerca de 5% do valor injectado no primeiro semestre de 2015, tendo agora 4.829 milhões de dólares sob gestão de José Filomeno dos Santos, nomeado pelo Presidente da República, seu pai, para gerir o Fundo. Certamente que agora, com a irmã a gerir a Sonangol, Filomeno terá a vida – e as contas – mais descansada. Recorde-se que o Fundo (do regime) gere o dinheiro do petróleo (do regime) teve prejuízos superiores a 15 milhões de dólares, montante que contrapõe com o lucro dos investimen­tos feitos que não chegam para cobrir as despesas. O Fundo Soberano de Angola foi criado com o objectivo de investir domesticam­ente e no exterior do país os recursos gerados pelas exportaçõe­s de petróleo, infra-estruturas e outros projectos tendentes a diversific­ar a economia angolana, fortemente dependente do petróleo. Em meados de Abril de 2016, vários órgãos de comunicaçã­o social – entre os quais o Folha 8 – noticiaram que Angola, através do Fundo Soberano, surgiu na investigaç­ão internacio­nal aos paraísos fiscais, conhecida por “Papéis do Panamá”, factos negados – como é elementar – pela própria direcção do Fundo. Em comunicado, o Fundo Soberano do regime disse ser “vítima de alegações infundadas”.

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