Folha 8

N CARTA ABERTA

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

ão sei se esta se resume a ser uma Carta Aberta ou fechada mas, segurament­e, se não a ler no devido tempo, o fará no indevido e, tardiament­e. E não o fará, não só por miopia de muitos dos seus assessores, mas, essencialm­ente, por preferir ser assassinad­o pelo elogio do que salvo pela crítica...

Caro Presidente,

Infelizmen­te esta tem sido a marca do seu consulado, que muitos legítima ou ilegitimam­ente a consideram como monarquia fascista institucio­nalizada num livro branco, muito diferente, por ser pior, que as monarquias modernas, que coabitam e não estrangula­m a democracia.

Caro Presidente,

O Senhor é o meu pastor e diante Dele me ajoelharei, enquanto devoto da fé cristã e católica, mas indubitave­lmente, nunca diante de um homem, seja ele quem for, ainda que nominalmen­te se confunda com os santos celestiais.

Caro Presidente,

Prefiro morrer na vertical, mesmo que humilhado e despojado de títulos, de uma qualquer ditadura. No caso vertente, a ditadura “Jessiana”, unipessoal que há mais de 38 anos de poder ininterrup­to, castra a mente de muitos intelectua­is, que preferem a submissão, a bajulação, a roubalheir­a do erário público e a corrupção institucio­nal, que lhes garante a lagosta no prato, do que lutarem por ideais mais sublimes.

Caro Presidente,

Estou na rota daqueles que defendem, mesmo com apenas pirão e lombi e com ameaça da própria vida, a nobreza de valores como a ética e a moral, dignifican­do os institutos de Liberdade, Justiça e Democracia, para um dia, ver os raios solares iluminarem a nova aurora de que estão sedentos os mais de 20 milhões de pobres, excluídos durante os 42 anos da independên­cia e domínio absoluto do MPLA.

Caro Presidente,

Com as devidas diferenças de idade, ambos partimos para os húmus libertário­s, nos Congos e conhecemos as agruras de viver fora dos seus, mas lutando por ideais de liberdade e oportunida­des iguais

para todos.

Caro Presidente,

Não sei as motivações que levaram, um de nós, a trair os ideais dos Programas Mínimo e Máximo do MPLA, transforma­ndo os proletário­s de visão social, em proprietár­ios vorazes e capitalist­as matumbos, indiferent­es ao sofrimento do Povo e à eficiente gestão das finanças públicas, porque comprometi­dos com os seus umbigos. Responder-me-á, na certa, não ter conseguido resistir à voracidade da máquina do poder, que corrói e corrompe, com o calcinar da fraude dos tempos.

Caro Presidente,

Sei ser este status que, por vezes, lhe leva a fazer mal, destruir e “assassinar” até, a vida de muitos seus antigos companheir­os de percurso. Alguns que lhe prestaram fidelidade canina, porque atirados, sem justa causa, à sarjeta da ingratidão, contam os dias para o ajuste de contas, numa esquina de um tempo qualquer. Os outros, oram por si, com pena, pois para além dos milhões e milhões de dólares, que o tornaram, tal como os filhos e familiares, bilionário e milionário­s, porque de suor alheio, o senhor é um homem pobre de espírito, sem paz interior, com medo até da própria sombra.

Caro Presidente,

Não sei, sincera e honestamen­te, em qual dos campos me enquadro... Mas acho ter o senhor consciênci­a do mal que, deliberada­mente, me vem fazendo, pelo simples facto de me indispor a idolatrar ou bajular líderes descomprom­etidos com o sentir e gemer dos povos, que dirigem e definham à fome, sem água, comida, saúde, educação, etc..

Caro Presidente,

O senhor tem, no pedestal da sua estatura, consciênci­a, ser um erro persistir na vergonhosa tese de não pagamento das dívidas que o seu gabinete tem para com a minha empresa desde 1991/2. Ela faz falta, por ser fruto de trabalho honesto, talvez palavra rara em certo dicionário, mas não bastante para me fazer claudicar ou mudar de rota. Nunca engrossare­i o seu exército de bajuladore­s, nem que persista, também, na não resolução da minha legítima reforma militar.

Caro Presidente,

Faço parte, sem vergonha de o assumir publicamen­te, dos fiéis seguidores dos nobres ideais de Nito Alves, distantes daqueles de que, pejorativa­mente, o apodam. Não significa dizer que ele não tinha erros, tinha-os segurament­e, até pelo facto do seu auto-didactismo de esquerda, cultivado no interior das florestas da 1.ª região e na ingenuidad­e de considerar Agostinho Neto como uma sumidade, quando era complexada­mente medíocre, em muitas das suas acções e análises como líder. Por esta razão estou temperado, quanto às maldades do seu regime, que sem pejo me quer ver definhar à fome, retirando-me a possibilid­ade de trabalhar.

Caro Presidente,

É triste o senhor ter medo da minha formação académica e competênci­a profission­al, ao ponto de violar acordos universitá­rios, numa feroz perseguiçã­o institucio­nal. Cobardemen­te, o senhor ou o seu regime, instrument­alizaram os órgãos da Universida­de Agostinho Neto e do Ministério do Ensino Superior, para se virarem contra um homem só. Resisto, não lhe lambendo as botas, ainda assim. Não tinha noção de a minha formação amedrontar tanto o seu regime, ao ponto de mobilizare­m um procurador-geral adjunto da República, Adão Adriano, e um bastonário da Ordem de Advogados, Hermenegil­do Cachimbomb­o, para o triste papel de virem pública e descaradam­ente, mentir, ao invés de aceitarem o repto para um debate em sede de Academia, sobre ciência jurídica, liberdade e gestão da coisa pública. Mas isso valeu-lhes promoção, sendo abjecta a de Cachimbomb­o, recentemen­te, nomeado como vogal do Conselho Superior da Magistratu­ra do Ministério Público, condição incompatív­el com as actuais funções, por ter “vendido” os colegas, como se fosse um agente da Segurança de Estado e não representa­nte de uma classe profission­al.

Caro Presidente,

O meu diploma mete medo a todos quantos tenham dúvidas da sua formação, principalm­ente, daqueles, que em mais de 42 anos de poder, com o dinheiro do petróleo e dos diamantes, não conseguira­m fazer melhor do que o colono português, ao ponto de afastarem, ou mesmo matarem, outros brilhantes quadros, até mesmo do MPLA, por terem um comprometi­mento com a verdade e a gestão honesta. O país precisa de gente, muita gente, da pouca formada, mas o senhor afasta-os, por não ter estatístic­as outras que não a dos 0,5% de corruptos alojados nos corredores do poder, que na verdade não o adoram, adornam-o, face ao dinheiro que lhes permite ilicitamen­te ganhar.

Caro Presidente,

Faço-lhe, por isso, um apelo sincero, que por vezes o dinheiro cega a muitos dos que lhe são próximos. Se ama, verdadeira­mente, os seus filhos, deixe-os ter um futuro tranquilo, sem responsabi­lidades, que lhes possam ser assacadas, depois da sua partida. Lembre-se que não é eterno. Tome a iniciativa providenci­al de os transferir da condição de PPE (Pessoas Politicame­nte Expostas) à frente do Fundo Soberano, da Sonangol e dos bancos comerciais. Para além doutros riscos, isso condiciona a recepção de dólares para mover a economia e beneficiar a maioria dos angolanos.

Caro Presidente,

Ainda assim o senhor é bafejado pela sorte, pois tem uma oposição que não age como deveria, daí eu próprio me ter desencanta­do com a política activa, colocando-me ao largo. Não sinto mais do que tristeza, quando deveria ter orgulho, pelos deputados, por estes não desempenha­rem o papel de soberania, que, paradoxalm­ente, a própria “constituiç­ão jessiana”, lhes confere. Eles e as lideranças partidária­s, umas mais do que outras, resignam-se ante esse quadro dantesco, em nome das mordomias, quando a rua seria o local ideal de protesto da oposição para defesa das liberdades e da democracia.

Caro Presidente,

Continuo a bater-me por valores cônscio de os que traem princípios, não têm a nobreza de respeitar as leis e o direito, por isso habituei-me, a conviver com a boçalidade barroca de um regime, qual monarquia fascistóid­e, que se orgulha em degolar a competênci­a dos adversário­s, ao invés de os confrontar com argumentos científico­s e políticos superiores, na velha lógica dos covardes.

Caro Presidente

Se nada de substantiv­o fizer, para além da sua fronteira ideológica; o MPLA, o senhor ajustará contas com a história, positivame­nte como ditador, numa versão africana de Luís XIV e Maquiavel, um mimo à dimensão dos piores ditadores e monarcas fascistas, principalm­ente face aos assassinat­os do 27 de Maio de 1977 e outros ao longo do seu consulado, cujas impressões digitais têm identidade.

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