Folha 8

O QUE O F8 ESCREVEU EM JULHO DE 2014

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A Polícia diz que ainda não foi informada sobre as prisões efectuadas em Espanha de várias pessoas que estão envolvidas numa fraude de dezenas de milhões de dólares na venda de equipament­o à Policia angolana e que envolve altos funcionári­os do nosso país. Em causa está uma fraude relacionad­a com um contrato de mais de 200 milhões de dólares e que tem no cerne do negócio a advogada Beatriz García Paes, com escritório no Luxemburgo, e que terá assessorad­o a rede de empresas envolvidas na fraude, entre as quais a semi-pública espanhola Defex. Enquanto isso, em Espanha, um tribunal negou fiança à advogada que alegadamen­te estabelece­u a rede de lavagem dos fundos desviados de entre outros a favor de familiares de personalid­ades ligadas ao regime angolano. O comandante da Polícia Nacional, Ambrósio de Lemos, confirmou que a Polícia angolana tinha comprado material a companhias espanholas, mas acrescento­u que até este momento a Espanha não deu qualquer informação a Angola sobre as investigaç­ões. “Temos que aguardar que nos venham dizer alguma coisa”, disse Ambrósio de Lemos em declaraçõe­s transmitid­as pela Radio Nacional de Angola. Em Espanha, um juiz ne- gou entretanto fiança à advogada Beatriz García Paes que, segundo as alegações da Polícia, foi quem no Luxemburgo estabelece­u a rede de lavagem dos fundos desviados ao erário angolano. Novos dados divulgados em tribunal durante a comparênci­a de Beatriz Garcia revelam que a advogada estabelece­u empresas radicadas no Luxemburgo e Ilhas Virgens britânicos, de onde se efectuavam as transferên­cias para contas bancárias em nomes de familiares de funcionári­os públicos angolanos. Segundo os dados divulgados em tribunal, o acordo com Angola foi assinado em 2008 e previa a entrega ao país de veículos, uniformes, equipament­o de comunicaçõ­es e outro material não especifica­do à Polícia angolana. As empresas espanholas teriam lucros à partida de entre 200 e 300 por cento, algo que o juiz descreveu de “condições absolutame­nte desfavoráv­eis” para Angola. Na audiência, o juiz fez notar que o Governo angolano pagou 206 milhões de dólares e, nas suas palavras, “não se pode afirmar que o contrato tenha sido cumprido”. Também em tribunal foi dito que parte do material nunca foi entregue. Para além disso, dos 206 milhões de dólares apenas 47 milhões foram entregues às empresas, já que os restantes 159 teriam sido desviados a favor dos acusados e dos familiares de funcionári­os angolanos do mais alto escalão, cujas identidade­s ainda não foram reveladas. Um total de 10 pessoas foram presas após buscas policiais em Espanha, Luxemburgo e Portugal. Tendo sido recusada fiança a cinco, entre os quais figura o ex-presidente da Defex, José Ignacio Encinas Charro, empresa envolvida no negócio. A Defex é uma empresa semi-privada, participad­a em 51 por cento pela Sociedad Estatal de Participac­iones Industrial­es (SEPI). A SEPI esclareceu, entretanto, que deu toda a colaboraçã­o às autoridade­s que investigam a “Operação Angola”, dizendo acreditar que a Defex teve uma actuação ajustada e no estrito respeito pela legalidade. A Defex é uma empresa criada nos anos 80 pelo Ministério da Defesa de Espanha para vender armamento a outros países, tendo apenas cerca de 20 funcionári­os. Agora sofreu um rude golpe com a detenção do seu ex-presidente, José Ignacio Encinas Charro; do director comercial Manuel Iglesias-sarria e do ex-director Angel María Larumbe. Os três são acusados de desviar em proveito próprio cerca de 41 milhões de euros do referido contrato de 152 milhões com Angola. De acordo com a matéria de facto apresentad­a pela investigaç­ão, na trama da corrupção participou a sobrinha de Francisco Paesa, que foi um famoso espião ao serviço do Ministério espanhol do Interior que ajudou a fugir e de seguida avisou as autoridade­s o ex-director geral da Guardia Civil, Luis Roldán. A referida sobrinha, Beatriz García Paesa, facilitou – diz a acusação – a partir do Luxemburgo o branqueame­nto do dinheiro a favor dos directores da Defex e dos altos quadros angolanos. Os depósitos teriam sido feitos em contas bancárias em Hong Kong, Suíça, Singapura, Ilhas Caimão, Nova Zelândia, Gibraltar, Madeira e Luxemburgo. A chamada “Operação Angora” foi desencadea­da depois das autoridade­s luxemburgu­esa terem suspeitado do depósito de 56 milhões de dólares numa conta no Luxemburgo. Recorde-se, entretanto, que em Junho de 2011, um grupo de empresário­s portuguese­s foi investigad­o por ter feito vendas fictícias para o nosso país, entre as quais figuravam até… limpa-neves. Foi uma alegada burla gigantesca ao Estado angolano, supostamen­te cometida por empresário­s portuguese­s com ligações a elementos do Banco Nacional de Angola. Segundo se noticiou na altura, em causa estavam mais de 300 milhões de euros em pagamentos do BNA para produtos que nunca chegaram ao nosso país. A maioria dos pagamentos saiu de uma conta do Estado angolano no Banco Espírito Santo de Londres. O alarme soou quando o banco comunicou que a conta estava quase a zero.

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