TEXTO PUBLICADO NO FOLHA 8 EM 13 DE MARÇO DE 2017:
Uma escola secundária em Luanda, resultante do apoio de Cuba no ensino, disponibilização de professores e formação de quadros, está há sete anos ao mesmo nível do que a Angola real: em estado de abandono e transformada num depósito de lixo. A escola “Angola e Cuba”, uma das mais antigas do município do Cazenga, arredores da capital angolana, construída em 1988, está hoje totalmente vandalizada, depois de ter sido abandonada por alegados receios e rumores sobre a estrutura. “A escola havia tremido e quando assim aconteceu a direcção resolveu encerrar a instituição e evacuar a escola com receio do pior”, recordou à Lusa João Morais, um dos moradores da zona, que ao mesmo tempo lamenta nada ter sido feito até ao abandono e vandalização total. A escola, de três pisos, funcionava no período diurno e nocturno, recebendo cerca de 10 mil alunos que em 2010 foram transferidos para outros estabelecimentos do município. Hoje, o lixo no seu interior, fissuras nos pilares e paredes completamente danificadas não apagam os dizeres “Escola do I Ciclo do Ensino Secundário 7042”, ou ainda, preservado pelo tempo na parte frontal do edifício: “Na escola aprende-se a preservar e a conservar o património colectivo”. “Desde aquela altura fi- cou a promessa da sua reabilitação e a escola continua assim abandonada, sem portas, janelas, sem segurança”, lamentou João Morais. Segundo o administrador do município do Cazenga, a escola foi construída em homenagem às relações de largos anos entre Angola e Cuba, histórico aliado do Governo do MPLA durante a guerra civil que se seguiu à independência, em 1975. “Devido ao intercâmbio de educação que existia entre os dois países, com brigadas de professores que vieram para Angola e a ida de estudantes para Havana [para serem formados]”, recordou Victor Nataniel Narciso. Acrescentou que o edifício não será demolido, mas sim reabilitado, ainda este ano, com um orçamento de 142 milhões de kwanzas (800 mil euros), num investimento a realizar até 2019, dificultado pela crise financeira em Angola. “O edifício não será demolido porque, contrariamente o que se dizia, que a escola tremia, os estudos concluíram que as suas fundações estão perfeitas e os boatos eram alimentados por alguns alunos. A sua reabilitação deve acontecer ainda este ano, uma vez que está previsto no orçamento deste ano a sua reparação”, garantiu Victor Nataniel Narciso. De acordo com o administrador, o concurso público já foi realizado e aguarda- -se apenas pelo pagamento da primeira parcela ao empreiteiro para o arranque da intervenção. A necessidade de reabilitação é assinalada por Fernando Manuel, morador na envolvente que se diz “triste”, afirmando que a escola era “exemplar”. “Um país sem escola, sem educação é um país vazio. Por isso é necessário reabilitar para o seu funcionamento”, atirou. As aulas do ano lectivo 2017 arrancaram oficialmente em Angola a 1 de Fevereiro e decorrem até 15 de Dezembro, no caso da província de Luanda com mais de dois milhões de novos alunos matriculados.