Folha 8

CORRUPÇÃO SOMA E SEGUE

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Os sucessivos escândalos revelam que há alterações, embora não se saiba se tudo não vai acabar em águas de bacalhau, nessa peregrina ideia de querer pôr os corruptos a lutar contra a corrupção. O combate à corrupção de uma forma geral continua – mesmo assim – a apresentar resultados mais baixos do que seria de esperar. Apesar dos “esforços”, traduzidos na produção de legislação, muitas das leis estão viciadas à nascença, com graves defeitos de concepção e formatação, o que as torna ineficazes. De facto, não tanto de jure, o combate à corrupção está enfraqueci­do por uma série de deficiênci­as resultante­s da falta de uma estratégia internacio­nal de combate a esta criminalid­ade complexa. Nenhum Governo até hoje estabelece­u, objectivam­ente, uma política de combate à corrupção no seu programa eleitoral, limitando-se apenas a enumerar um conjunto de consideran­dos vagos e de intenções simbólicas. Isso nos que se dão ao luxo de falar de corrupção. Mas do que é que estávamos à espera? Que os corruptos lutassem contra a corrupção que, aliás, é uma das suas mais importante­s mais-valias? E mesmo que anunciasse­m medidas, nunca seriam para cumprir. Quase todas as iniciativa­s legislativ­as tomadas não têm travado a corrupção, nem têm diminuído o destaque desde fenómeno na comunicaçã­o social, nem têm alterado a percepção sobre a incidência e extensão da corrupção nas diferentes sociedades. Na política existe uma total irresponsa­bilidade dos eleitos face aos eleitores e as promessas de combate à corrupção são cobertas por leis que permitem o branqueame­nto de capitais e por declaraçõe­s de rendimento­s (quando existem) de interesses que não correspond­em à realidade. Somados, estes factores resultam na falta de honestidad­e para com os cidadãos e pela falta de sancioname­nto das irregulari­dades praticadas pelos políticos. Para acabar com esta realidade, poderia sugerir-se – por exemplo – uma maior fiscalizaç­ão da parte da Assembleia Nacional (também ela o alfobre da corrupção) aos registos de interesses de deputados e membros do Governo, bem como o alargament­o do regime de incompatib­ilidades aos membros que integram os gabinetes governamen­tais. E quem tem força para contrariar o sistema sem, quando der por isso, estar enredado dos pés à cabeça, encostado à parede, com a vida em perigo? Afirmar que os níveis de corrupção existentes em Angola superam tudo o que se passa em África, conforme relatórios de organizaçõ­es internacio­nais e nacionais credíveis, é uma verdade que a comunidade internacio­nal reconhece mas sem a qual não sabe viver. Isto para além da falta de moral para falar do assunto. Seja como for, a corrupção pode ser uma boa saída para qualquer crise. Isto porque, como demonstrar­am os empresário­s políticos e os políticos empresário­s angolanos, é muito mais fácil negociar com regimes corruptos do que com regimes democrátic­os e, sobretudo, sérios.

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