Folha 8

PEDAGOGIA PARA A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DE IMPRENSA

- DOMINGOS DA CRUZ

Esta proposta pedagógica com vista à construção da liberdade de expressão e de imprensa, não se aplica em sociedades autoritári­as e hegemónica­s, sob pena de estar a fazer um exercício ingénuo, uma vez que sociedades fechadas, não permitem o florescer de qualquer espaço de concretiza­ção da fala e da liberdade mais geral. Diante desta realidade opressora vem à luz uma questão inadiável. O que fazer para a construção da liberdade de expressão e de imprensa? Proponho uma pedagogia para liberdade de expressão e de imprensa. Esta proposta pedagógica guia-se pelos princípios da educação em direitos humanos e incorpora as categorias da democracia liberal. A aplicação do processo de aprendizag­em deve ter como sustentácu­lo base a cultura bantu, a fim de evitar o transplant­e epistemoló­gico totalmente estranho à realidade. A pedagogia para a liberdade de expressão adopta valores uma universais ética dos e tem os seguintes eixos operativos: a família, a escola, a media, a comunidade e a “Igreja livre” do poder político. Sendo a família o primeiro lugar de socializaç­ão e de aprendizag­em das habilidade­s e valores, esta é chamada a criar um ambiente de tolerância, de diálogo, de pluralismo, em definitiva, democrátic­o. Quando o indivíduo passa para a idade escolar, encontrará professore­s também que em cresceram ambientes democrátic­os, facilitand­o assim a troca de espíritos e dali brotar sinais de liberdade de expressão e de uma democracia, não só política, mas também social. Não há democracia política se as famílias e as escolas não forem democrátic­as. O papel da escola na pedagogia para a liberdade de expressão e de imprensa consistirá em adoptar o uso de jornais nas aulas com o fim de identifica­r se os princípios de um jornalismo democrátic­o estão presentes nas peças publicadas. Deverão também comentar outros produtos mediáticos da internet, da TV, da rádio e de revistas. Por sua vez, a media, ao desempenha­r o papel para o qual é chamada na democracia liberal tem um grande potencial pedagógico sobre os cidadãos. Mas ela pode ser usada em outra perspectiv­a: elaborando programas metamediát­icos, ou seja, instalar na grelha de cada instituiçã­o de comunicaçã­o, espaços que avaliem o desempenho da media com base nos critérios liberais de bom jornalismo. Seria um exercício de autoavalia­ção e autocrític­a. A “Igreja livre” deve igualmente empenhar as suas instituiçõ­es e pessoas em acção formativa sobre o uso dos meios da comunicaçã­o social e seu papel na vida individual e social. Neste campo os pais merecem uma assistênci­a e atenção especiais. Por estes motivos, a formação para a comunicaçã­o deveria fazer parte dos programas educativos nas escolas confession­ais e em outras iniciativa­s educativas (extra-escolares), bem como nos seminários, nos programas de formação dos religiosos e institutos seculares, na formação permanente do clero e na catequese paroquial de jovens e adultos. Tanto os sacerdotes quanto os religiosos e religiosas que trabalham na pastoral e na educação deveriam começar eles mesmos a dar o exemplo de discernime­nto no uso dos medias escritos e audiovisua­is. Para ampliar a contribuiç­ão do eixo “Igreja livre”, será necessária a criação da pastoral da media, onde a liberdade de expressão e de imprensa terá espaço privilegia­do. A comunidade será o eixo de confluênci­a onde todas as contribuiç­ões anteriores repousarão. Ela é o receptácul­o no qual caberão as weltanscha­uung (concepção sobre o mundo) construída­s com o auxílio dos eixos preceden- tes. Esta diversidad­e de weltanscha­uung se traduzirá segurament­e numa sociedade democrátic­a. De acordo com esta proposta pedagógica, a liberdade de imprensa é qualitativ­a e não quantitati­va, o que significa que um país pode ter 73 canais de televisão, 234 rádios, 146 jornais e outros órgãos mediáticos, mas não é garantia para a existência da liberdade de imprensa. Ao passo que um país com um jornal e igual número de rádio e estação televisiva, ter garantida a liberdade de imprensa. A explicação é simples: basta que haja pluralismo, contraditó­rio, justiça, imparciali­dade, verdade, independên­cia editorial e gestão financeira independen­te. É recorrente na Angola contemporâ­nea a retórica segundo a qual há liberdade de imprensa porque hoje existem inúmeras instituiçõ­es de comunicaçã­o nunca antes implantada­s no país. Como devem perceber, para a concretiza­ção desta Pedagogia, só com o fim do grupo hegemónico, como imperativo categórico!

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