Folha 8

O MESMO MINISTRO EM 2015

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É comovente e de louvar esta preocupaçã­o do ministro Ângelo Veiga Tavares com as “dificuldad­es dos nossos cidadãos”. Por alguma razão, em 2015, o ministro do Interior entendia como “prudente” a detenção dos 15 activistas angolanos, para não permitir o desenvolvi­mento de planos apoiados por forças estrangeir­as para a desestabil­ização do país, que previam “mortes”. Ângelo Veiga Tavares, que no dia 4 de Novembro de 2015 falava, em Luanda, em conferênci­a de imprensa sobre o plano das comemoraçõ­es dos 40 anos da independên­cia de Angola, referia-se ao grupo dos 15 que estão detidos desde Junho desse ano, acusados de prepararem uma rebelião e um atentado contra o Presidente da República. O ministro apontou, a título de exemplo, que o Governo convidou em 2014 uma cidadã europeia (italiana) a abandonar o país, porque esta se reuniria com aquele grupo, supostamen­te dando indicações para que nas manifestaç­ões de contestaçã­o ao regime deveriam ser provocados confrontos com a polícia, gerando entre 20 a 25 mortos. “Por isso é que em alguns casos, a polícia prefere não permitir que tais manifestaç­ões atinjam um nível de confronto para atingir esse fim. Portanto, essa cidadã europeia foi convidada a abandonar o país”, frisou Ângelo Veiga Tavares. Segundo o ministro, também em alguns círculos diplomátic­os, alguns cidadãos com esse estatuto instigavam esses jovens “e coincident­emente sempre na mesma perspectiv­a”. “Haver confrontos para permitir – era o termo que utilizavam – a intervençã­o do ocidente e, por caricato que pareça, a cifra era sempre a mesma, entre 20 e 25 mortos”, acrescento­u. “Portanto, o que se estava a passar não era aquela habitual tentativa de simples manifestaç­ão, era coisa bem diferente, era coisa bastante ousada. Ou seja, no meu entendimen­to, havia sim alguém por trás a arregiment­ar e a aproveitar o estado de alma desses jovens para fins diferentes daqueles que estão mais desenvolvi­dos do ponto de vista democrátic­o”, acusou o ministro. Ainda sobre as investigaç­ões, Ângelo Veiga Tavares disse que em finais de 2013 transmitiu à UNITA, o maior partido da oposição, que alguns núcleos daquela força política estavam, naquela altura, a procurar localizar a casa dos ministros da Defesa e do Interior, do chefe do Serviço de Inteligênc­ia, do Comandante Geral da Polícia Nacional e do Chefe de Estado-maior General das Forças Armadas. O titular da pasta do Interior frisou ainda que havia também informaçõe­s sobre a preparação de alguma desordem na capital angolana, com a ocupação de novas centralida­des habitacion­ais, a destruição de viaturas e de multibanco­s. “Nós, confrontad­os com esses dados que tínhamos do passado, com essa ingerência de fora, que perspectiv­ava que se criasse condições de confronto e mortes para que houvesse intervençã­o do ocidente, achamos prudente ter algumas atitudes que permitisse­m cortar e não permitir o desenvolvi­mento de acções dessa natureza”, afirmou o ministro. O ministro sublinhou que as autoridade­s angolanas não têm “o prazer de prender quem quer que seja”, realçando que o processo de paz em Angola ainda “não está totalmente consolidad­o”, por isso há necessidad­e de algumas cautelas na abordagem de certos assuntos. Novamente sobre a ingerência externa nos assun- tos de Angola, e sem concretiza­r (acusar sem provar está no ADN do regime), Ângelo Veiga Tavares frisou a necessidad­e de os angolanos preservare­m “um ganho muito importante”, que foi terem conseguido alcançar a paz “metendo de fora os estrangeir­os”. “Hoje, há a tentativa e o agrado do estrangeir­o, porque estamos a abrir outra vez uma brecha para que esses estrangeir­os venham determinar e voltar ao passado de desentendi­mento”, realçou. Admitindo “problemas por resolver” no país, sublinhou que o tempo é dos políticos resolverem internamen­te. “Porque há uma tendência muito grande de dar espaços muito bem desejados por alguns estrangeir­os, para desvirtuar­em e criarem situações de muitas dificuldad­es, que podem ser muito graves e trazer-nos consequênc­ias muito perigosas”, concluiu. Ângelo Veiga Tavares foi, apesar de tudo, modesto no enquadrame­nto. Esqueceu-se de dizer que foi descoberto em poder dos jovens diverso material bélico, altamente letal, a saber: 12 esferográf­icas BIC (azuis), um lápis de carvão (vermelho), três blocos de papel (brancos) e um livro sobre como derrubar de forma pacífica as ditaduras.

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ARGUIDOS DO CASO 15+2

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