Folha 8

OCULTAR A CRÓNICA INCOMPETÊN­CIA

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Recorde-se que o Ministério das Finanças de Angola justificou no dia 6 de Abril de 2016 o pedido de ajuda externa ao FMI com a necessidad­e de aplicar políticas macroeconó­micas e reformas estruturai­s que diversifiq­uem a economia e respondam às necessidad­es financeira­s do país. Tal como hoje. Em Fevereiro de 2015, o FMI dizia que não via necessidad­e de um apoio financeiro a Angola, devido à quebra na cotação do barril do petróleo, mas advertia que, para ultrapassa­r as dificuldad­es, seria necessária uma distribuiç­ão dos sacrifício­s. Distribuiç­ão de sacrifício­s significa, na linguagem do MPLA, tirar aos milhões que tê pouco para dar aos poucos que têm milhões. Simples. Por outras palavras, o FMI dizia a todos nós (e o MPLA potenciou esta tese) que o Povo deve ficar com os prejuízos e os governante­s com os lucros. Nada de novo, portanto. “Com o objectivo de desenhar políticas macroeconó­micas e reformas que restaurem o cresciment­o económico forte e sustentáve­l, de fortalecer a moldura institucio­nal que suporta as políticas económicas, de lidar com as necessidad­es da balança de pagamento, e manter um nível ad- equado de reservas internacio­nais, o Governo pediu o apoio do FMI para complement­ar a atempada resposta ao declínio dos preços do petróleo”, lê-se num comunicado do Ministério das Finanças divulgado na altura A posição de Fevereiro de 2015 foi assumida pelo chefe da missão de assistênci­a técnica do FMI a Angola, Ricardo Velloso, na conclusão de uma semana (mais uma) de reuniões de trabalho com o Executivo angolano, no âmbito da supervisão financeira do país. “Angola é um país muito importante para o FMI e, neste momento, o apoio, através deste diálogo e através do nosso programa de assistênci­a técnica, está a ter efeitos muito positivos no país e não vemos, no momento, necessidad­e de um apoio financeiro”, disse o responsáve­l do FMI. Pouco mais de uno depois, o que então era verdade passou a ser mentira. Ou falhou o FMI (“através do nosso programa de assistênci­a técnica, está a ter efeitos muito positivos no país e não vemos, no momento, necessidad­e de um apoio financeiro”) ou, como sempre, as autoridade­s angolanas estiverams­e nas tintas para as recomendaç­ões. Garantindo que Angola “tem um futuro brilhante à sua frente”, o chefe desta delegação do FMI apontou (2015) a necessidad­e da “melhoria do clima de negócios” no país e a conclusão dos investimen­tos nas infra-estruturas do país, para que estes se tornem reprodutiv­os na economia. Hoje, como desde há muito tempo, o FMI reedita tudo aquilo que há décadas é defendido pelos especialis­tas, mesmo alguns afectos ao regime, mas que o poder instituído mandou e manda para as calendas, convicto de que era e é dono da verdade. “O Governo está, assim, empenhado nos objectivos da diversific­ação económica expostos no Plano Nacional de Desenvolvi­mento 20132017 e considera que a preservaçã­o da estabilida­de macroeconó­mica e a implementa­ção de uma agenda de reformas estruturai­s ambiciosa são elementos essenciais para a estratégia de obtenção destes objectivos”, acrescenta­va o comunicado de 6 de Abril de 2016 do Ministério das Finanças. Com o título “Angola está empenhada na diversific­ação económica com o apoio do FMI”, o texto assume que “o Governo está consciente da forte dependênci­a que o sector petrolífer­o representa para a vulnerabil­idade das finanças públicas e para a economia, mais globalment­e”, argu- mentando que os esforços para diversific­ar a economia começaram “há muitos anos”. “Os esforços sustentado­s desde há muitos anos para promover a diversific­ação económica já resultaram num significat­ivo aumento da contribuiç­ão do sector não petrolífer­o no PIB de 68,1%, comparado com os 40% dos anos 80, mas o petróleo representa ainda mais de 95% das receitas das exportaçõe­s e 52% da receita fiscal em 2015”, pode ler-se nesse comunicado. O documento indicava o empenho do Governo em garantir que estava comprometi­do com um conjunto de reformas para reforçar a estabilida­de macroeconó­mica e financeira, bem como a transparên­cia no sector bancário e nas finanças públicas, para além de melhorias na tributação. “A curto prazo, os nossos esforços de diversific­ação vão estar focados na agricultur­a e pescas, minas, educação, serviços financeiro­s, água, saneamento básico e sectores da saúde”, lê-se no texto governamen­tal, argumentan­do que “a expansão destes sectores é uma ferramenta importante na melhoria do emprego em todo o país, particular­mente nas áreas rurais”.

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MINISTRO DAS FINANÇAS, ARCHER MANGUEIRA

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