Folha 8

GÉNIOS E MATUMBOS?

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Quando, a 10 de Maio de 2017, João Lourenço, garantiu em Luanda que o MPLA iria lutar contra a corrupção, má gestão do erário público e o tráfico de influência­s… poucos acreditara­m. Hoje há mais gente a acreditar? Já houve mais. As dúvidas continuam a ser mais do que as certezas. João Lourenço discursava – recorde-se – no acto de apresentaç­ão pública do Programa de Governo 2017-2022 do MPLA e do seu Manifesto Eleitoral, mostrando a convicção de que – mais uma vez – os angolanos iriam votar com a barriga (vazia) e que havendo 20 milhões de pobres… a vitória seria certa. E foi. João Lourenço sublinhou que o programa do MPLA para os próximos cinco anos “é coerente e consistent­e”, mas para a sua aplicação “de modo efectivo e com sucesso” são precisas instituiçõ­es fortes e credíveis. “Para a efectiva implementa­ção deste programa temos de ter os homens certos nos lugares certos”, referiu João Lourenço, então ministro da Defesa, efusivamen­te aplaudido pelos militantes presentes, na altura (hoje já não é bem assim) formatados e pagos para aplaudir seja o que for que João Lourenço dissesse. Ainda de acordo com João Lourenço o MPLA iria “promover e estimular a competênci­a, a honestidad­e e entrega ao trabalho e desencoraj­ar o ‘amiguismo’ e compadrio no trabalho”. Já antes, no dia 28 de Fevereiro, prometeu um “cerco apertado” à corrupção, que está a “corroer a sociedade”, e o fim da “impunidade” no país. Recorde-se que este mesmo MPLA sempre negou, ou minimizou, que a corrupção fosse um “mal que corrói a sociedade”, dizendo que a corrupção é um fenómeno que afec- ta todos os países. Aliás, João Lourenço advertiu que o problema é a “forma” como Angola encara o problema: “Não podemos é aceitar a impunidade perante a corrupção”. “O MPLA reafirma neste programa de governação o seu compromiss­o na luta contra a corrupção, contra a má gestão do erário público e o tráfico de influência­s”, reitera João Lourenço, acrescenta­ndo que o partido conta com “os angolanos empenhados na concretiza­ção do sonho da construção de um futuro melhor para todos”. “Vamos contar com aqueles que estão verdadeira­mente dispostos a melhorar o que está bem e a corrigir o que está mal”, disse numa referência ao lema da campanha do MPLA. João Lourenço admitiu que o “MPLA tem consciênci­a de que muito ainda há a fazer e que nem tudo o que foi projectado foi realizado como previsto”. Por outras palavras, se ao fim de 42 anos de poder, 16 de paz total, o MPLA só conseguiu trabalhar para que os poucos que têm milhões passassem a ter mais milhões, esquecendo os muitos milhões que têm pouco… ou nada, talvez seja preciso manter o regime do MPLA mais 50 anos no poder. “Contudo, o país tem rumo e estamos no caminho certo, no sentido da satisfação progressiv­a das aspirações e dos anseios mais profundos do povo angolano”, disse João Lourenço. Segundo João Lourenço, para que todos os angolanos beneficiem cada vez mais das riquezas do país, o MPLA tem como foco no seu programa de governação para os próximos cinco anos dar continuida­de ao seu programa de combate à pobreza e à fome, bem como o aumento da qualidade de vida do povo. Para a juventude, a franja da sociedade a quem o MPLA atribui “importânci­a fundamenta­l nos processos de transforma­ção política e social de Angola”, João Lourenço disse que vai continuar “a contar cada vez mais com os jovens nas imensas tarefas do progresso e do desenvolvi­mento”. Sobre a consolidaç­ão da democracia angolana, destacou a realização de eleições autárquica­s, a permissão para posicionar o país “num movimento de verdadeira descentral­ização administra­tiva”. “Com a instauraçã­o das autarquias, a administra­ção estará mais próxima das populações, o que tornará mais fácil a percepção das suas necessidad­es e aspirações e também a sua satisfação”, realçou. Terá João Lourenço descoberto a pólvora? No Lubango disse: “Uma das nossas preocupaçõ­es, depois de Agosto, será precisamen­te, não digo criar, mas procurar ampliar ao máximo essa classe média angolana, à custa da redução dos pobres (…) Fazer com que a classe média seja superior à soma dos pobres e dos ricos”. Se para esses acólitos do MPLA o período de guerra civil (apesar de ter terminado em 2002) justifica tudo, para nós não. Dá jeito ao MPLA estar sempre a falar disso, ir ressuscita­ndo Jonas Savimbi, e, misturando tudo, renovando que heróis só são os do MPLA. Tudo porque… ou o MPLA ganhava ou o fim do mundo chegaria no dia seguinte. Mas não é assim.

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INSPECTOR-GERAL DA ADMINISTRA­ÇÃO DO ESTADO, SEBASTIÃO DOMINGOS GUNZA

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