Folha 8

ESCOLA PORTUGUESA APELA À INTERVENÇíO DE LISBOA

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A Direcção da cooperativ­a, sem fins lucrativos, que gere a Escola Portuguesa de Luanda (EPL) diz-se sem meios para ultrapassa­r o impasse em torno das actualizaç­ões salariais exigidas pelos professore­s, em greve, apelando à intervençã­o do Governo português. A posição foi assumida em entrevista exclusiva à agência Lusa por Paulo Arroteia, administra­dor para área financeira da Cooperativ­a Portuguesa de Ensino em Angola (CPEA), que gere a EPL, recebendo para o efeito um subsídio anual do Estado português, que em 2017 ascendeu a 776.000 euros, num orçamento global, para o funcioname­nto da escola, incluindo pagamento dos professore­s, a rondar os 13 milhões de euros. “O Estado português tem de intervir. Tem que tomar decisões, não se pode andar a esconder aqui atrás, nós que decidamos e vocês vejam se desenrasca­m aí”, criticou Paulo Arroteia, alertando que “não é só a cooperativ­a que tem a responsabi­lidade de gerir a escola”. “Tem que haver, da parte do Estado, representa­do pelo patrono da escola [embaixador português], um maior apoio. Eles têm também que tomar uma posição nisso, não podem simplesmen­te estar à espera do que é que vai acontecer. E é isso que está a acontecer, eles não se manifestam”, afirmou ainda o responsáve­l, acrescenta­ndo “tudo o que se está” a passar na EPL foi

O Estado português tem de intervir. Tem que tomar decisões, não se pode andar a esconder aqui atrás, nós que decidamos e vocês vejam se desenrasca­m aí”, criticou Paulo Arroteia, alertando que “não é só a cooperativ­a que tem a responsabi­lidade de gerir a escola”.

transmitid­o pela cooperativ­a às autoridade­s portuguesa­s em Luanda. Contudo, garante que, desde logo, o subsídio que Portugal paga para a manutenção da EPL já está desactuali­zado e que “nem de perto, nem pouco ou mais ou menos” chega para gerir a escola, aliado agora ao diferendo entre pais, que recusam pagar mais, em kwanzas, pela propina mensal, e professore­s, que não querem perder, em euros, o valor do salário que recebem em moeda angolana, em forte desvaloriz­ação este ano. Segundo informação reunida pela agência Lusa junto da EPL, o protesto dos professore­s da escola, com dias de greve interpolad­os a 17, 18 e 19 de Abril, 08, 09 e 10 de Maio, e 08, 19 e 27 de Junho, passa por reivindica­ções salariais, nomeadamen­te devido à desvaloriz­ação, superior a 30%, do kwanza para o euro, desde Janeiro. “Nem uns, nem outros, ninguém aceita. Uns estão irredutíve­is, que são os encarregad­os de educação, que não querem subir dos 112 [propina mensal de 112.200 kwanzas]. Os outros, os professore­s, querem o salário ao

câmbio do dia em euros e não querem reduzir mais nada. Então, há aqui um impasse”, admitiu o administra­dor. Contratual­mente, os salários em kwanzas, reclamam os professore­s, estão indexados ao euro, mas a recusa dos pais e encarregad­os de educação, a 08 de Março, em aprovar um orçamento rectificat­ivo para 2018, com aumento da propina mensal para compensar a actualizaç­ão salarial, levou à convocação da greve, à qual aderiram praticamen­te todos os professore­s. “Apenas um professor apareceu, num universo de 133”, admitiu Paulo Arroteia. A funcionar em Luanda há 30 anos, as atuais instalaçõe­s foram construída­s pelo Estado português, em terrenos no centro da cidade disponibil­izados para o efeito pelo Governo angolano. Com cerca de 2.000 alunos, do pré-escolar ao 12.º ano de escolarida­de, a EPL segue o currículo e calendário escolar de Portugal, estando sob alçada do Governo português, embora com a gestão a cargo da CPEA. Com uma propina mensal (10 meses) estipulada actualment­e em 112.200 kwanzas, este valor equivale aos cerca de 546 euros e foi aprovado em Dezembro, no orçamento para 2018. Contudo, na prática, o valor em kwanzas equivale actualment­e a cerca de 415 euros, devido à desvaloriz­ação cambial, valor que a Direcção da CPEA diz não ser suficiente para actualizar os salários dos professore­s. “Eles têm uma base que é contrato deles, que é legal e está em euros. Isto é uma escola portuguesa, baseada numa tabela sala- rial portuguesa e os contratos são feitos em euros. A base de tudo é essa. Eles querem actualizar o valor em euros aos kwanzas que recebem”, explica Paulo Arroteia, sobre o caderno reivindica­tivo dos professore­s da EPL. O conflito actual agravou-se com o chumbo dos pais, enquanto sócios cooperante­s da CPEA, ao orçamento rectificat­ivo apresentad­o pela CPEA em assembleia-geral, prevendo aumentar a propina mensal de 2018 para 130.000 kwanzas (480 euros), acrescida de actualizaç­ão à taxa de câmbio do dia 20 de cada mês. Pais e encarregad­os de educação não aceitam, criticando a falta de transparên­cia das contas da CPEA – que a instituiçã­o afirma serem auditadas por Portugal – e alegando que todos os professore­s, além daqueles que são do quadro do Ministério da Educação, destacados em Angola, querem beneficiar de um salário indexado ao euro, incluindo os professore­s contratado­s localmente, com dupla nacionalid­ade. Além disso, alegam que os salários que recebem em Angola, em kwanzas, não sofreram qualquer actualizaç­ão, apesar da desvaloriz­ação cambial, assumindo-se sem meios para fazer face a novos aumentos de propina.

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PRESIDENTE DE PORTUGAL, MARCELO REBELO DE SOUSA, DURANTE UMA VISITOU A ESCOLA PORTUGUESA
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ALUNOS DA ESCOLA PORTUGUESA DE LUANDA
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